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Contos Infantis


Salvo por um amigo invisível
 
AUTOR: STEFANIE ELLIS WEGLEY
 
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Aquela megera havia batido em Mateus com tanta força que o menino decidira fugir. Mas as janelas tinham grades e as portas estavam bem trancadas... Como sair da espelunca?

Matilde era uma jovem senhora, conhecida em toda a aldeia por sua caridade. Em sua casa, os mais necessitados sempre encontravam o que comer e suas roupas eram lavadas e remendadas com carinho. Além disso, a boa mulher procurava ensinar-lhes algum ofício para ajudá-los a sair da miséria.

Seu filho Mateus ainda não completara quatro anos. Matilde o educava com ternura e desvelo incomparáveis.

Desde muito cedo, ensinou-lhe a se encomendar sempre ao Anjo da Guarda antes de sair de casa. E o menino, piedoso e obediente, tomou por costume fazê-lo até quando saía ao jardim para brincar com o gato Mimoso. Gostava de repetir de memória, com as mãozinhas postas sobre o peito, a oração que a mãe lhe ensinara: “Meu Anjo da Guarda, minha doce ANJO DA GUARDA.JPGcompanhia, tu és o meu guarda e meu vigia. Meu Santo Anjo, meu grande Amigo, dize ao Senhor que quero ser bom e que sempre permaneça comigo. Guia-me pelo bom caminho, com todos os meus queridos. Amém”.

Uma manhã ensolarada de inverno, Matilde ausentou-se de casa para atender a uma enferma. Mateus foi brincar ao ar livre com o gatinho e, antes de fazê-lo, encomendou-se ao seu guardião celestial.

Quando mais entretido estava com seus jogos, uma mulher loura, de fisionomia sorridente, chamou-o do outro lado do muro. Mimoso não gostou dela: retesou o corpo, mostrou as unhas e rosnou ameaçador. Mas Mateus o aquietou. Não era mamãe sempre bondosa com todos os que dela se aproximavam? Não tinha lhe ensinado a ser gentil com os desconhecidos?

Aproveitando a boa acolhida, a inesperada visitante logo começou uma conversa. Elogiou a beleza das plantas do jardim, o bem arranjado dos muros e janelas e, adivinhando logo o ponto fraco de Mateus, louvou o quanto pôde a dona da casa, afirmando que deveria ser, certamente, uma senhora muito afetuosa e diligente.

Conquistado o menino, a mulher lhe pediu para abrir o portão, ao que ele acedeu sem nenhuma desconfiança. Já dentro do quintal, aquela megera esforçou-se por tornar a conversa mais atraente. Indagou pelo nome da mãe, e perguntou a Mateus se não estava sentindo saudades dela.

– Sim! – respondeu ele em seguida. Mamãe sai muito pouco de casa sem mim… Quando o faz, me sinto tão sozinho!

Aparentando ter ficado emocionada pelas palavras do menino, a desconhecida osculou-o com fingido carinho, e ofereceu-se a levá-lo até “onde estava sua mãe”. Mateus deu um pulo de alegria, estendeu sua mãozinha e se dispôs a acompanhá-la.

A boa Maria, ajudante de Matilde, que se encontrava na cozinha, nem chegou a ver aquela cena. Afanava-se nesse momento em preparar uma de suas deliciosas empadas de espinafre e cenoura que tanta fama lhe traziam…mas que tanto trabalho lhe davam.

Ainda estava em plena faina quando Matilde retornou e chamou pelo menino:

– Filhinho! Meu bem! Mamãe já voltou! Ninguém respondia…

Matilde insistiu, mas o silêncio continuava. Apenas se ouviam na casa o bater de panelas de Maria e os estranhos rosnados de Mimoso, nervoso por alguma razão desconhecida.

A cozinheira, percebendo que algo estranho se havia passado, teve um palpite e ficou gelada. Não tinha visto passar duas vezes pela frente da janela uma mulher loura, de esquisito sorriso? O que fazia ela por perto da casa? Não teria algo a ver com a desaparição da criança?

* * *

Dias depois, numa cidade não muito distante daquela aldeia, apareceu um menino sujinho, maltrapilho, cansado e com fome. Sentou- se na praça da Matriz, debaixo de uma grande árvore, e ali ficou chorando. Era de manhã muito cedo e não havia ninguém na rua, mas seus soluços não passaram despercebidos para frei Leonardo, que acabava de celebrar a Santa Missa. Saiu o frade da igreja para ver o que acontecia.

Ao se deparar com uma tão jovem criança, de grandes e vivos olhos negros, inchados de tanto chorar, tomou-se de pena e levou-o para a casa paroquial. Ali, uma senhora banhou-o, deulhe alimento e deixou-o dormir até recuperar completamente as forças.

Quando, depois de algumas horas, o menino despertou, frei Leonardo perguntou-lhe seu nome, de onde era, como se chamavam seus pais. O pobrezinho, porém, ainda traumatizado, pouco sabia responder. Só lembrava de ter por nome Mateus. Falava do seu gatinho Mimoso, do lindo jardim em que costumava brincar e, sobretudo, de sua extremosa mãe, doce e amorosa como nenhuma outra.

Narrou também como era feliz com ela, até que uma mulher má o arrancou da casa materna, trancando- o numa suja espelunca, da qual só saía para pedir esmolas. Nessa noite, aquela megera havia batido nele com tanta força, que tinha decidido fugir.

As janelas eram muito estreitas e tinham grades. As portas estavam bem trancadas. Mas rezou uma vez mais a oração que sua mãe lhe ensinara – “Meu Anjo da Guarda, minha doce companhia, tu és o meu guarda e meu vigia…” – e descobriu, então, que o cadeado de uma porteira lateral não tinha sido fechado…

IMAGEM.JPG
Quanto mais entretido estava Mateus com seus
jogos, uma mulher loura, de fisionomia atraente
chamou-o do outro lado do muro

Ao ouvir a prece, o rosto do frade se iluminou, e pediu ao menino para repeti-la. Não era aquela a cândida e piedosa oração que rezavam as crianças de uma aldeia próxima, na qual tinha pregado missões há alguns meses?

* * *

No dia seguinte, a notícia chegou ao povoado de Matilde. Um menino chamado Mateus havia sido encontrado numa cidade não muito distante dali. Estava sujo e maltrapilho, mas não ferido, nem aleijado. Só falava de um gatinho chamado Mimoso e tinha saudades de sua mãe, que, segundo ele, era muitíssimo bondosa. Frei Leonardo, o monge que estivera pregando ali na aldeia durante a primavera, tinha-o encontrado na praça, e estava tomando conta dele…

Matilde não teve dúvida. Era o seu filhinho! Tinha de sair logo ao seu encontro!

* * *

O abraço entre Matilde e Mateus foi mais do que longo, quase interminável. Não paravam de se fitar e se agradar, e só de vez em quando cessavam momentaneamente seus mútuos carinhos, para juntos agradecerem a frei Leonardo ter cuidado com tanto esmero do pobre menino.

Chegada a hora da partida, o bom frade os reteve um instante. Levouos à igreja matriz, ajoelhou-se com eles diante do Santíssimo Sacramento e fê-los prometer solenemente que nunca deixariam de ter devoção àquele amigo invisível que salvara Mateus do infortúnio: o Anjo da Guarda!

(Revista Arautos do Evangelho, Nov/2009, n. 95, p. 46-47)

 
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