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Comentários ao Evangelho


Amor a toda a prova
 
AUTOR: MONS. JOÃO CLÁ DIAS, EP
 
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O encontro com uma pobre mulher da Samaria prefigura o amor de Jesus por todos nós. Fatigado pelo calor do caminho, o Redentor necessita de água. Mas sua sede de converter aquela alma é incomparavelmente maior.

6 Estava lá o poço de Jacob. Fatigado da viagem, Jesus sentou-Se sobre a borda do poço. Era quase a hora sexta. 7 Veio uma mulher da Samaria tirar água. Jesus disse-lhe: “Dá-Me de beber”. 8 Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos. 9 Disse-Lhe, então, a mulher: “Como, sendo Tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou samaritana?” Com efeito, os judeus não se dão com os samaritanos. 10 Jesus respondeu: “Se tu conhecesses o dom de Deus, e Quem é que te diz: Dá-Me de beber, certamente Lhe pedirias e Ele te daria uma água viva”. 11 A mulher disse-Lhe: “Senhor, Tu não tens com que a tirar e o poço é fundo; donde tens, pois, essa água viva? 12 És Tu, porventura, maior do que o nosso pai Jacob que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, e os seus filhos e os seus gados?” 13 Jesus respondeu: “Todo aquele que bebe desta água tornará a ter sede, 14 mas aquele que beber da água que Eu lhe der, jamais terá sede; a água que Eu lhe der virá a ser nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna”. 15 A mulher disse-Lhe: “Senhor, dá-me dessa água, para eu não ter mais sede, nem ter de vir aqui tirá-la”. (Jo 4, 6-15)

MONS JOAO CLA_3.jpgI – INTRODUÇÃO

Os judeus doutos e os discípulos de São João

Logo após o Batismo de Jesus, surgem os primeiros discípulos. Formados na escola do Precursor, estavam à espera do Messias e por isso seguemnO de imediato. Fica bem descrito no começo do Evangelho de São João o convívio de Jesus com a comunidade eleita pelo Batista, orientada na fé, esperança e amor. A narração dos atos iniciais da primeira fase da vida pública do Salvador culmina com o episódio das Bodas de Caná e o da expulsão dos vendilhões do Templo.

Depois de falar dos discípulos, o Evangelista focaliza outra categoria de pessoas pertencentes à comunidade judaica: certos anciãos, os quais, apesar de crerem em Nosso Senhor, não ousavam declará-lo publicamente, por extremo respeito humano. Nicodemos, que os representava, ao se aproximar de Jesus, afirma: “Sabemos que foste enviado por Deus como Mestre” (Jo 3, 2). Ele diz: “sabemos”, e não confessa crer na divindade de Jesus. Vê-se que, aplicando a inteligência e apoiando-se em dados culturais, chegara à sua conclusão por puro raciocínio desprovido de fé. É um típico representante da corrente dos homens doutos instruídos na ciência farisaica.

O contraste entre o filão dos discípulos do Batista e o dos anciãos auxilia a melhor compreender – pela semelhança com um e a diferença com o outro – a figura da samaritana, contemplada na Liturgia de hoje.

Samaria, um país paganizado

Essa região da Palestina central tem ao sul a Judéia e ao norte a Galiléia. A Escritura nos relata como se deu a separação entre samaritanos e judeus. No ano 721 a.C., o rei assírio conquistou a Samaria, deportou seus habitantes e mandou vir gente de Babilônia e outras cidades para ocupá-la. Mas como os novos ocupantes não prestavam culto ao

JESUS E A SAMARITANA_2.JPG
Viva é a água que jorra da fonte,  sempre mais apreciada do que retirada do poço 

Senhor, quando começaram a habitar ali, Deus mandou contra eles leões que os devoravam. Ordenou então o soberano assírio: “Mandai para lá um dos sacerdotes que deportastes, a fim de que ele ensine (ao povo) a maneira de servir o deus da região” (II Reg 17, 27)

Foi, pois, instalar-se lá um dos sacerdotes israelitas deportados, e ensinava àqueles pagãos como deviam adorar o Senhor. Apesar disso, “cada nação conservou o seu próprio deus, que colocou nos santuários dos lugares altos estabelecidos pelos samaritanos; cada povo colocou os seus deuses no lugar em que habitava” (idem, v. 29).

Ao retornarem os israelitas à Samaria, após o cativeiro, deixaram-se corromper pela idolatria daqueles povos. Romperam dessa forma o pacto da Aliança que obrigava a exclusão de todo e qualquer culto idolátrico. Entretanto, mantiveram-se monoteístas, gloriavam- se de serem filhos de Abraão e, quanto às Escrituras, admitiam somente o Pentateuco.

Por esses motivos, a Samaria era tratada pelos israelitas como um país pagão. O ódio mútuo chegou a tal grau que constituía grande risco para um judeu (ou um galileu) atravessar aquele território. Preferiam passar ao largo, dando volta pela Peréia, como o fez o Divino Mestre em sua última viagem a Jerusalém, ao ter-Lhe sido negada hospedagem (1).

Qualquer judeu que se visse na contingência de entrar em contato com um samaritano era considerado legalmente impuro. Não lhe era permitido sequer servir-se de pão ou de vinho desse povo sem manchar-se, segundo as prescrições da Lei. Por sua vez, os samaritanos tinham os israelitas por rivais e inimigos.

O amor de Jesus pelas almas humildes

Antes de entrarmos a considerar o Evangelho de hoje, façamos uma comparação entre o procedimento de Jesus com Nicodemos e com a samaritana.

Devido ao respeito humano, Nicodemos escolhe as sombras camuflantes da noite para visitar o Mestre. A iniciativa da procura é dele.

Bem ao inverso, no caso da samaritana, apesar do cansaço produzido pela longa caminhada por acidentado terreno – uns trinta quilômetros de distância – Jesus vai em busca da ovelha desgarrada, em pleno meio-dia e sob forte calor. Ademais, dispõe as circunstâncias para poder permanecer a sós, a fim de, ao aproximar-se dela, ter oportunidade de desenvolver seu apostolado. Transparece claramente nos detalhes desse acontecimento o delicado carinho que Jesus tem pelas almas humildes e despretensiosas.

II – O EVANGELHO

6 Estava lá o poço de Jacob.

O Livro do Gênesis nos relata alguns poços mandados escavar por Jacob (Gen, 26, 18-32). Acostumados nós, hoje, com a água encanada, não fazemos idéia da fundamental importância de uma fonte, ou de um poço, no Oriente daqueles tempos. Este em concreto, havia sido escavado certamente com o fim de evitar a contaminação com as águas dos vizinhos cananeus, pois nas cercanias havia algumas generosas fontes.

Fatigado da viagem, Jesus sentou-se à borda do poço.

Naquelas terras é causticante o calor do verão. Procurava-se caminhar fora dos horários ensolarados a fim de evitar a exaustão. Nesta passagem do Evangelho, vemos Jesus se comportar, em sua humanidade, como qualquer pessoa que sente as agruras do mormaço dessa estação do ano.

Isto nos leva a uma interessante consideração sobre o paradoxo da união de duas naturezas na Pessoa de Jesus: uma criada e outra divina. Em particular, a propósito desse episódio com a samaritana, os autores clássicos se comprazem em tecer os mais variados comentários. São João, que escreveu seu Evangelho para ressaltar a substância divina do Salvador, neste trecho demonstra empenho em relatar o lado humano d’Ele. Um dos Padres da Igreja que, com vôo de águia, tratou belamente do assunto foi Santo Agostinho:

“Não é em vão que se fatiga a Virtude de Deus. Não é em vão que se fatiga Aquele por quem os fatigados retomam as forças. Não é em vão que se fatiga Aquele cuja ausência nos causa fadiga, e cuja presença nos conforta. (…)

“Jesus é forte e é fraco. Forte porque ‘no princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus; este no princípio estava em Deus’ (Jo 1, 1)

“Quereis ver quão forte era o Filho de Deus? ‘Todas as coisas foram feitas por ele, e nada do que foi feito, foi feito sem ele’ (Jo 1, 3). E tudo foi feito sem trabalho. Que haverá de mais forte do que Aquele pelo qual todas as coisas foram feitas sem trabalho algum?

“Quereis ver Jesus reduzido à fraqueza? ‘O Verbo fez-se carne e habitou entre nós’ (Jo 1, 14).

“A força de Cristo deu-nos a vida, e a fraqueza de Cristo deu-nos uma nova vida. A força de Cristo fez existir o que não existia; a fraqueza de Cristo fez que não perecesse o que existia. Criou-nos pela sua força e salvou-nos pela sua fraqueza” (2).

Era quase a hora sexta.

Ou seja, quase meio-dia.

7 Veio uma mulher da Samaria tirar água. Jesus disse-lhe: “Dá-me de beber”.

Segundo Santo Agostinho, o fato de tratar-se de uma mulher simboliza de algum modo a fundação da Igreja. A samaritana seria a representação da instituição que nasceria do sagrado costado de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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Jesus oferece à samaritana uma água extraordinariamente superior: Ele promete “uma fonte de vida eterna” (vitral da paróquia de Saint-Sulpice, Fougéres, França, Sérgio Holmann)

Quanto ao fato de não ser ela judia, o grande Doutor interpreta como sendo uma referência aos gentios dos quais nasceria a Igreja: “A Igreja havia de vir dos gentios, e a raça judaica havia de considerá-la estrangeira” (3). Ora, os samaritanos eram considerados estrangeiros até pelo próprio Jesus, conforme nos relata o Evangelho. Dos dez leprosos curados, um só retornou para agradecer: “Era um samaritano (…) Não se encontrou quem voltasse e desse glória a Deus, senão este estrangeiro?” (Lc 17, 16-18).

Enfim, tratava-se de uma mulher comum e simples diante do Criador. A samaritana jamais imaginaria quem era Aquele, e menos ainda o poder que estava nas suas mãos, de lhe oferecer a salvação eterna. Ele, por sua vez, transborda de desejo de tê-la consigo por toda a eternidade.

O Senhor lhe pede água. Será somente física sua sede? Trata-se do mesmo sitio (tenho sede) pronunciado por Ele no alto da Cruz; seu grande anseio é redimir o gênero humano e, neste caso concreto, quer salvar aquela alma.

Deitemos toda a nossa atenção nesse encontro extremamente exemplificativo da teologia sobre o chamado da graça. Tanto a atitude de Jesus quanto a dela são paradigmáticas. Quem toma a iniciativa é Ele, sem levar em conta qualquer oração, pedido, desejo ou mérito da samaritana. Como com todos os homens, Ele procede de maneira inteiramente gratuita. Ela, por sua vez, nada suspeita das generosas intenções de seu interlocutor; pelo contrário, pensa que Jesus, por ser judeu, repudia por completo os samaritanos.

Nosso Senhor costuma agir adaptando- se aos modos de ser de cada um. Para Natanael Ele dirá que o viu debaixo de uma figueira (Jo 1, 50), para André e João será uma proclamação sobre o Cordeiro de Deus (Jo 1, 29), para os Reis Magos era a estrela aparecida no Oriente (Mt 2, 2). Para esta mulher Ele pede água.

Quão misteriosa é a bondade de Deus!

8 Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos.

Jesus quis de fato estar a sós. Nada Lhe custaria conservar alguns apóstolos consigo, e lhe bastaria uma insinuação, indicando o desejo de que alguns O acompanhassem, para ser atendido com alegria.

9 Disse-Lhe então a mulher: “Como, sendo Tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou samaritana?” Com efeito, os judeus não se dão com os samaritanos.

Pelas roupas, pelo porte e quiçá até mesmo pela pronúncia das palavras, a samaritana percebera tratar-se de um judeu. Ora, como acima dissemos, o povo eleito não tocava nem sequer na vasilha de um samaritano, a fim de evitar as impurezas. Daí a perplexidade manifestada por ela.

A correspondência a esse primeiro chamado de Nosso Senhor poderia condicionar a perseverança dela e até mesmo sua salvação, porém sua reação foi a de levantar obstáculo. Jesus, entretanto, não desistirá de chamá-la à conversão.

10 Jesus respondeu: “Se tu conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente Lhe pedirias e Ele te daria uma água viva”.

Didática insuperável, perfeitíssima. É bem conhecida a curiosidade feminina e é desta que Jesus procura tirar partido. Com enorme afeto, Ele entretém e atrai a atenção da samaritana, pondo-a diante de algo mirabolante. Viva é a água que jorra da fonte. É sempre mais apreciada do que a retirada do poço. Jesus vai aos poucos se apresentando como um personagem incomum, com certas características misteriosas, possuidor de um dom de Deus.

Essa frase de Jesus, no modo condicional, já continha um começo de doutrinação e tornava impossível à samaritana deixar de se interessar mais a fundo pelo judeu sentado à beira do poço. São duas sedes de teor distinto que acometem o Divino Mestre. Jesus necessita da água comum e corrente, mas sua sede de converter aquela alma é incomparavelmente maior, e essa é a razão pela qual Ele procura despertar um interesse, todo feito de fé, no interior de sua interlocutora.

11 A mulher disse-Lhe: “Senhor, tu não tens com que a tirar e o poço é fundo; donde tens, pois, essa água viva? 12 És tu, por ventura, maior do que o nosso pai Jacob que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, e os seus filhos e os seus gados?”

A graça começa a trabalhar-lhe a alma com suavidade e, ao mesmo tempo, com muito vigor. As primeiras palavras dela haviam sido um tanto desabridas: “Como sendo tu judeu… ?” A partir deste curto diálogo, passa a tratá- Lo de “Senhor”, pois algo do mistério de Jesus ela já entrevê, o que significa um enorme passo para uma samaritana na consideração de um judeu.

Ela não chega a entender bem a substância das afirmações feitas por Jesus, mas certamente já estava atraída pelo todo do Divino Mestre, e por isso não as contradiz, apenas externa sua perplexidade, disposta a aceitar uma explicação. Por ora, sua atenção está de fato centrada na “água viva” desejada por ela, e no fundo de seu subconsciente está se formando a hipótese de estar ela diante de um homem grandioso, comparável ao “nosso pai Jacob”.

Os samaritanos tinham a ufania de declarar ter sido sua terra habitada pelos patriarcas (Gen 12, 6; 33, 18; 35, 4; 37, 12; etc.). Pretendiam com isso abrandar as abjeções que os judeus lhes tinham, oriundas da miscigenação de raça e de religião. Daí a lembrança do poço de Jacob.

13 Jesus respondeu: “Todo aquele que bebe desta água tornará a ter sede, 14 mas aquele que beber da água que Eu lhe der, jamais terá sede; a água que Eu lhe der virá a ser nele uma fonte de vida eterna.”

Deus criou o homem com sede de infinito. Nossa alma só repousa em Deus, pois Ele é nosso fim último, e nada fora d’Ele nos satisfaz plenamente.

A Sagrada Escritura nos diz: “A vista não se farta de ver, o ouvido nunca se sacia de ouvir” (Ecl 1, 8). É esse um fato realíssimo a se repetir em nós, e em torno de nós, a todo momento: nenhuma criatura nos fornece a ilimitada felicidade que buscamos. E ali, no próprio poço de Jacob, estava o símbolo das paixões humanas, segundo comenta Santo Agostinho. Um prazer que não seja de Deus, por mais que produza gozo, terminará por apenas causar tédio e decepção. Mas a alma, tornando- se escrava dele, o procurará outras vezes, nas suas mais variadas formas. A água do poço é simbólica de nossas inclinações, sempre nos atrairão a retornar a elas.

Sem desprezar em nada a memória de Jacob – até, pelo contrário, respeitando- a muito – Jesus oferece à samaritana uma água extraordinariamente superior àquela do Patriarca. Mais ainda, Ele promete “uma fonte de vida eterna”.

15 A mulher disse-Lhe: “Senhor, dá-me dessa água, para eu não ter mais sede, nem ter de vir aqui tirá- la.”

Com a fé mais robustecida, ela crê no poder de Deus em criar uma água capaz de eliminar definitivamente a sede e, em conseqüência, de dispensála do trabalho de retirar daquele poço a água de todos os dias. De si, já seria uma maravilha criar essa água, mas Jesus lhe fala de um prodígio incomparavelmente maior: o das águas da graça. “O bem da graça de um só indivíduo supera e está por cima do bem natural de todo o universo”, afirma São Tomás de Aquino (4).

Santo Agostinho glosa este versículo 15, mostrando que há somente uma água capaz de extinguir a sede por completo, por fazer brotar no nosso interior uma fonte permanente, que jorrará até o feliz dia de nossa entrada para a eternidade (5).

Se pedíssemos a Jesus, tal qual a samaritana o fez: “Eu Vos rogo, Senhor, dai-me dessa água”, Ele nos responderia: “Se alguém tiver sede, venha a Mim e beba. Quem crê em Mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva. Dizia isso, referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que cressem n’Ele” (Jo 7, 37-39). Entretanto, num primeiro momento, ela ainda não alcança o verdadeiro sentido das palavras de Nosso Senhor. A essa mulher se aplica o que diz São Paulo: “O homem animal não percebe as coisas do Espírito de Deus” ( I Cor 2, 14).

Apesar disso, o Salvador não desiste. Pelo contrário, continuará a trabalhar a alma dela com zelo divino. Quem O visse

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Quem visse Jesus conversando com a samaritana, jamais poderia  imaginar o amor manifestado por Ele em relação àquela pobre ovelha desgarrada (pintura de Sano di Pietro)

conversando com a samaritana, sentado à beira do poço, jamais poderia imaginar não só o teor da conversa, como também o amor manifestado por Ele em relação àquela pobre ovelha desgarrada.

Neste ponto do diálogo termina o trecho escolhido pela Liturgia de hoje. Nos versículos seguintes as maravilhas narradas são ainda maiores; Jesus lhe revela ser o Messias, depois de mostrar- lhe que conhecia sua má vida matrimonial. Transformada pela graça do Redentor, ela assume a função de verdadeira apóstola junto a todos os seus conhecidos.

Esse belíssimo episódio nos faz compreender melhor as palavras de São Paulo, que a Liturgia também hoje seleciona para a Segunda Leitura: “Dificilmente há quem morra por um justo, ainda que alguém se anime a morrer por um homem de bem. Mas Deus faz brilhar seu amor para conosco, porque, ainda quando éramos pecadores, Cristo morreu por nós” (Rm 5, 7-8).

III – CONCLUSÃO

A samaritana, apesar de não ter vida virtuosa e de ser uma estrangeira, com todas as implicações da Lei, possuía uma alma penetrada por comovedora simplicidade, verdadeiramente cândida. Seu modo de ser é humilde e despretensioso. É cumpridora de suas obrigações e conhecedora dos princípios e tradições de sua religião. Sua conversa é elevada e sincera, como quando manifestou o quanto acreditava em Jesus. Essas qualidades atraíram o amor do Redentor e O fizeram ir em busca da ovelha perdida.

Muito pelo contrário, no caso de Nicodemos, este é quem toma a iniciativa de ir em busca do Mestre. Confiante na ciência farisaica, teve dificuldade maior em aderir ao Senhor. Ademais, temia perder sua posição social. Assim mesmo, acabou defendendo Jesus nos momentos mais difíceis, porque recebeu muitas graças para tal, e a elas correspondeu.

Na ciência ou na ignorância, na virtude ou no pecado, o fundamental é buscarmos a água da vida, nas fontes da Santa Igreja. É indispensável não nos apegarmos a certos conhecimentos que possamos ter adquirido, e assim fugirmos do orgulho da ciência. Ou então assumirmos a simplicidade de espírito e humildade de coração da samaritana, ainda que, infelizmente, estejamos dentro de uma via pecaminosa como a dela.

Em síntese, roguemos especialmente neste domingo à Santíssima Virgem para que nos obtenha de seu Divino Filho a água da vida, fazendo jorrar em nossos corações o líquido precioso da graça que nos conduz à morada eterna. ?

1 ) Cf.Lc 9, 51-56.
2 ) O Verbo de Deus, Gráfica de Coimbra, 1954, pp. 388-389.
3 ) Op. cit. pág. 394.
4 ) Suma Teológica, I-II, 113, 9 ad 2 5 ) Cfr. De diversis c. 62 – PL 37, 53

(Revista Arautos do Evangelho, Fev/2005, n. 38, p. 6 à 11)

 

 

 
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