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Contos Infantis


A pecadora morta de amor
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Santa Teresinha do Menino Jesus – Doutora da Igreja – não conseguiu terminar os seus famosos Manuscritos Autobiográficos – “História de uma alma”. Em julho de 1897, ano de sua morte, a doença que lhe franqueou as portas do Céu havia depauperado totalmente seu organismo de modo que ela não pôde mais traçar sequer uma linha. Recolhida à enfermaria do convento, de onde sua alma partiria para o Céu, no dia 30 de setembro, ela encontrou forças para dar resposta a numerosas questões apresentadas por suas irmãs a respeito dos Manuscritos. A certa altura, alguém lembrou a possibilidade de eles serem publicados para uma ampla divulgação. A Santa, então, recomendou com ardor à sua irmã Paulina – em religião, Madre Inês de Jesus – que ela completasse o caderno inacabado, narrando “a história da pecadora morta de amor”.

E explicou o motivo desse empenho: “As almas a compreenderão imediatamente, porque é um muito bom exemplo daquilo que eu gostaria de dizer”.

Assim, estamos certos de que o leitor se beneficiará com a edificante história de Paésia, tão recomendada pela Santa da confiança e do amor.

* * *

A conversão de uma moça que tivera a infelicidade de entregar-se a uma vida de pecado, foi um dos frutos da caridade do Venerável João, o Anão. Ela chamava-se Paésia, havia perdido seu pai e sua mãe quando ainda adolescente. Era piedosa e estava decidida a seguir o caminho da virtude. Querendo empregar em boas obras a herança paterna, fez de sua casa um asilo para abrigar os anacoretas de Sceté, os quais com freqüência vinham à cidade para, ao que parece, aí vender os objetos artesanais produzidos por seus irmãos na solidão do deserto.

Em pouco tempo, porém, ela desagradou- se dessa obra de caridade, julgando- a muito dispendiosa, e deixou de tomar em consideração o tesouro que, por esse meio, acumulava no Céu. Como sempre acontece, não faltaram falsos amigos para aplaudir e estimular essa mudança de atitude.

Eles logo foram mais longe: com seus maus conselhos, levaram-na a desgostar-se inteiramente da prática da virtude e, por fim, a entregar-se a uma vida pecaminosa.

A conversão

Não foi sem uma grande dor que os anacoretas de Sceté tomaram conhecimento de sua queda. Movidos por ardente amor a Deus, empregaram todos os meios que sua caridade lhes inspirava para tirar aquela pobre alma do abismo no qual o demônio a tinha precipitado. Por fim, dirigiram-se ao sábio e venerável João, o Anão, e rogaram- lhe ir tentar reconduzir a Jesus Cristo essa ovelha desgarrada.

Lá foi ele. Mas os criados lhe recusaram a entrada de maneira insultante, acusando os solitários do deserto de haverem arruinado sua patroa. Ele, porém, sem desanimar, persistiu no seu pedido de entrar para falar com Paésia, argumentando que ela não teria razão alguma de se arrepender disso. Embora a contragosto, os criados, afinal, conduziram o santo homem aos aposentos onde aquela se encontrava.

Ele sentou-se junto da pecadora e lhe perguntou se ela tinha algum motivo de queixa contra Jesus Cristo para tê-Lo assim abandonado, reduzindo- se ao estado deplorável no qual ela se encontrava.

MARIA MADALENA.JPG
A amorosa audácia de Maria
Madalena encantava S. Tere-sinha (vitral da igreja de  St.
Séverin, França)

Essas primeiras palavras tocaram o coração da moça decaída, causando-lhe uma viva impressão. O Santo, deixando agir a graça, calou-se durante alguns momentos e começou a derramar abundantes lágrimas. Ela lhe perguntou por que chorava. Ele respondeu:

– Oh! como não haveria eu de chorar, vendo a maneira pela qual o demônio vos enganou e abusa de vós?

A essas palavras, a moça tomou-se de pavor e de horror por seus pecados, e lhe disse:

– Meu pai, ainda há uma possibilidade de penitência para mim?

– Sim, eu vos garanto – respondeu ele.

– Conduzi-me, pois, aonde achardes bom para isso.

Ele logo se levantou e ela o seguiu sem dar ordem alguma ao pessoal de sua casa, nem mesmo dizer uma palavra sequer a ninguém. O Santo notou com grande consolação esse fato, reconhecendo por aí que ela estava toda ocupada com os sentimentos de sua conversão e abandonava tudo para entregar- se inteiramente às práticas de penitência.

Viu sua alma subir ao Céu

Não se sabe aonde ele tinha desígnio de levá-la. Era aparentemente a algum mosteiro de monjas. Mas como os dois tinham entrado no deserto e aproximava- se a noite, João fez um monte de areia para servir-lhe de travesseiro, traçou nele o sinal-da-cruz e disse a Paésia para deitar-se ali.

Em seguida, ele foi para mais longe a fim de dormir também, após ter rezado. Mas, acordando à meia-noite, viu um raio de luz que descia do céu sobre Paésia, servindo de caminho a uma multidão de Anjos que levavam sua alma para o Céu.

Movido pela surpresa causada por essa visão, ele levantou-se logo, foi ao local onde estava a moça e empurrou-a com o pé, para ver se ela estava morta, e viu que efetivamente ela havia entregue a Deus sua alma. Ao mesmo tempo, ele ouviu uma voz milagrosa que lhe disse: “Sua penitência de uma hora foi mais agradável a Deus que aquela feita por outros durante longo tempo, porque eles não a fazem com tanto fervor quanto ela”.

(Vida dos Padres dos Desertos do Oriente, Pe. Michel -Ange Marin, Paris, 1824, tomo III, livro IV, capítulo XVII: O Venerável João, o Anão.)

(Revista Arautos do Evangelho, Set/2004, n. 33, p. 42-43)

 
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