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Contos Infantis


Ladrão! Segura o ladrão!
 
AUTOR: MARIA TERESA RIBEIRO MATOS
 
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Um rico mercador conversa acaloradamente com um humilde artesão, zeloso de sua honra. Inopinadamente, o mercador sai correndo e o artesão grita: "Ladrão! Segura o ladrão!" O que terá acontecido?

As feiras da Europa medieval não eram como as de hoje, barulhentas aglomerações de barracas vendendo frutas, legumes, carnes, peixes e miudezas várias.Tratava-se, pelo contrário, de imensos mercados públicos dos quais participavam comerciantes de diversos países.

Realizavam-se em determinadas épocas do ano e duravam dias seguidos. Nelas se vendiam também jóias de ouro e prata, pedras preciosas, tecidos finos, tapetes orientais e todo tipo de mercadorias de grande valor. Os reis e IMAGEM_1.JPGgovernantes favoreciam a tal ponto esses eventos que elas se tornaram o principal instrumento do comércio internacional.

De uma dessas feiras retornava um esforçado mercador. Embora cansado por mais de um mês de duro trabalho, estava ele contente pelos bons negócios que havia feito. Levava consigo, numa boa bolsa de couro, uma fortuna em moedas de ouro.

A meio caminho, Gontran – assim se chamava ele, em homenagem a São Gontran, rei da Borgonha no final do séc. VI – teve uma boa idéia: em vez de ir em linha reta para sua aldeia, fazer um desvio e passar pela cidade de Amiens para contemplar a famosa imagem do Divino Salvador, conhecida pelo nome de “Belo Deus d’Amiens”, cuja perfeição atraía visitantes de toda a Europa.

Assim pensou, assim fez. Dirigindo-se rumo ao Norte, atravessou os verdejantes campos do vale do Rio Oise e alcançou em poucos dias as margens do Rio Somme, para fazer comodamente de barca o resto da viagem.

Gontran era bom comerciante, mas, sobretudo, bom cristão. Sabia apreciar as maravilhas criadas por Deus e tinha alma contemplativa. Assim, encantou-se com as paisagens, as aldeias singelas e os magníficos castelos que podia ver nas duas margens do rio.

Chegando a Amiens, foi direto para a Catedral e ficou longo tempo extasiado, contemplando o “Belo Deus”. Depois entrou para rezar diante de uma imagem da Virgem Maria, que acolhia com maternal sorriso seus devotos. Ajoelhou-se, pousou ao lado sua bolsa de couro e lá ficou em oração durante quase uma hora. Quando, por fim, decidiu seguir seu caminho, saiu distraído e… esqueceu a bolsa no chão!

Não demorou muito em dar-se conta do acontecido. Aflito, voltou apressadamente à Catedral, na esperança de ainda encontrar seu tesouro onde o havia deixado. Nada! A bolsa ali não estava mais… Pediu informação ao padre, ao sacristão, a alguns fiéis que por lá encontrou. Ninguém havia visto objeto algum no chão.

– Pobre de mim, perdi tudo! – exclamou angustiado.

Em pouco tempo, porém, acalmou-se. E, ajoelhando-se novamente ante a imagem de Nossa Senhora, pediu-Lhe auxílio para resolver seu problema. Saiu preocupado, não sabia onde nem como procurar, mas algo lhe dizia no fundo da alma que a Virgem Mãe ia de alguma forma ajudá-lo a recuperar as suas moedas de ouro.

O que acontecera, afinal, com a preciosa bolsa?

Nesse meio tempo, tinha vindo rezar diante da mesma imagem da Virgem Bendita um artesão residente próximo à Catedral, homem honrado e verdadeiro cristão. Lá chegando, viu no chão a bolsa de couro, selada e guarnecida de um pequeno fecho. Pegou-a, e logo percebeu o seu conteúdo.

O mau pensamento de apropriar-se do bem alheio nem sequer lhe passou pela mente honesta. Sua preocupação foi bem diferente: “Meu Deus, como fazer para encontrar o seu verdadeiro dono? Se mando apregoar pela cidade o que acabo de encontrar, não faltará gente desonesta desejosa de apossar-se do que não lhe pertence!”

Depois de pensar um pouco e pedir ajuda a Nossa Senhora, voltou para casa, guardou a bolsa no cofre e escreveu a giz no portão de entrada: “Se alguém perdeu alguma coisa, venha falar com o dono desta casa” .

Por lá passou Gontran, após ter vagueado por muitas ruas de Amiens. Leu o aviso escrito no portão, viu o artesão postado na janela e perguntou-lhe:

– Sois vós, senhor, o dono desta casa?

– Sim, senhor, enquanto Deus o permitir. Em que vos posso servir?

– Dizei-me: quem escreveu essas palavras em vosso portão?

– Meu bom amigo, passa por aqui muita gente, sobretudo estudantes que gostam de escrever onde quer que lhes passe pela cabeça. Mas, perdestes algo? – disse o artesão, fingindo a mais completa indiferença.

– Tudo quanto consegui ajuntar em anos de trabalho.

– O que, precisamente?

– Uma bolsa de couro, guarnecida de um fecho e selada, repleta de moedas de ouro.IMAGEM_2.JPG

O mercador descreveu a bolsa, nos mínimos detalhes, de modo a não deixar qualquer dúvida de ser ele o seu verdadeiro dono. O artesão convidou-o a entrar na casa, tirou do cofre a bolsa e lhe entregou, dizendo:

– Aqui está. É sua. Que Deus o ajude e proteja.

Diante de tanta honestidade, Gontran, cheio de admiração, deixou-se levar por um generoso impulso de alma: “Ó Belo Deus d’Amiens! – pensou – este modesto e piedoso artesão é mais digno do que eu de possuir esta fortuna”. E devolveu a bolsa ao artesão, dizendo- lhe:

– Senhor, este dinheiro estará melhor colocado em vossas mãos do que nas minhas. Ficai com ele, e que Deus vos dê muita felicidade.

– Ah, caro amigo, levai vossa bolsa, por favor! É a vós que ela pertence!

Gontran, porém, recusou-se categoricamente a aceitá-la de volta. E, para livrar-se da insistência do artesão, saiu correndo. Este partiu em sua perseguição, bradando a plenos pulmões:

– Ladrão! Segura o ladrão!

Ouvindo esses brados, os transeuntes cercaram o mercador fugitivo, agarraram-no e perguntaram ao artesão:

– Aqui está o homem, seguro. Que vos roubou ele?

– Senhores, ele quis roubar-me a honra e a probidade, que fiz questão de cultivar ao longo de minha vida.

A essas alturas, já tinha se juntado na rua uma pequena multidão, no meio da qual se destacava um membro do Conselho Municipal, que intimou o artesão a explicar melhor o caso. Este, então, contou toda a história, e os habitantes de Amiens deram-lhe inteira razão.

E o mercador foi obrigado a levar suas moedas de ouro…

(Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2004, n. 32, p. 44-45)

 
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