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Voz dos Papas


A obra teológica de Pedro Lombardo
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Comentando os valiosos contributos do Mestre das Sentenças para os estudos teológicos, Sua Santidade convida a reconhecer como é preciosa e indispensável para cada cristão a vida sacramental, e exorta celebrar os Sacramentos com dignidade e decoro.

PAPA.JPGPAPA BENTO XVI.....................A.jpgPedro Lombardo iniciou os seus estudos em Bolonha, depois foi a Reims, e por fim a Paris. A partir de 1140 ensinou na prestigiosa escola de Notre Dame. Estimado e apreciado como teólogo, oito anos mais tarde foi encarregado pelo Papa Eugênio III de examinar as doutrinas de Gilberto Porretano, que suscitavam muitos debates, porque eram consideradas não totalmente ortodoxas. Tendo- se tornado sacerdote, foi nomeado Bispo de Paris em 1159, um ano antes da sua morte, em 1160.

Organizador sistemático e harmonioso

Como todos os mestres de teologia do seu tempo, também Pedro escreveu discursos e textos de comentários à Sagrada Escritura. A sua obra-prima é constituída pelos quatro Livros das Sentenças. Trata-se de um texto nascido e finalizado para o ensino. Segundo o método teológico em uso naqueles tempos, era necessário antes de tudo conhecer, estudar e comentar o pensamento dos Padres da Igreja e de outros escritores considerados influentes. Por isso, Pedro recolheu uma documentação muito ampla, constituída principalmente pelo ensinamento dos grandes Padres latinos, sobretudo Santo Agostinho, e aberta à contribuição de teólogos seus contemporâneos. Entre outras, ele utilizou também uma obra enciclopédica de teologia grega, há pouco tempo conhecida no Ocidente: A fé ortodoxa, composta por São João Damasceno.

O grande mérito de Pedro Lombardo é ter organizado todo o material, que reuniu e selecionou com cuidado, num quadro sistemático e harmonioso. De fato, uma das características da teologia é organizar de modo unitário e ordenado o patrimônio da Fé. Por conseguinte, ele distribuiu as sentenças, ou seja, as fontes patrísticas sobre os vários argumentos, em quatro livros. No primeiro, trata de Deus e do mistério trinitário; no segundo, da obra da criação, do pecado e da Graça; no terceiro, do Mistério da Encarnação e da obra da Redenção, com uma ampla exposição sobre as virtudes. O quarto livro é dedicado aos Sacramentos e às realidades últimas, as da vida eterna, ou Novíssimos.

A visão de conjunto que se obtém disto inclui quase todas as verdades da Fé Católica. Este olhar sintético e a apresentação clara, ordenada, esquemática e sempre coerente, explicam o sucesso extraordinário das Sentenças de Pedro Lombardo. Elas permitiam uma aprendizagem certa por parte dos estudantes, e um amplo espaço de aprofundamento para os mestres, os professores que delas se serviam.

Um teólogo franciscano, Alexandre de Hales, que viveu uma geração depois de Pedro, introduziu nas Sentenças uma subdivisão, que tornou mais fácil a sua consulta e estudo. Também os maiores teólogos do século XIII – Alberto Magno, Boaventura de Bagnoregio e Tomás de Aquino -, iniciaram a sua atividade acadêmica comentando os quatro Livros das Sentenças de Pedro Lombardo, enriquecendo-as com as suas reflexões. O texto de Lombardo foi o livro usado por todas as escolas de teologia, até ao século XVI. […]

Descrição definitiva dos Sacramentos

Entre os contributos mais importantes oferecidos por Pedro Lombardo para a história da Teologia, gostaria de recordar a sua análise sobre os Sacramentos, dos quais deu uma descrição, diria, definitiva: “É chamado Sacramento em sentido próprio aquilo que é sinal da graça de Deus e forma visível da graça invisível, de tal modo que traz a sua imagem e é a sua causa” (4, 1, 4). Com esta definição, Pedro Lombardo colhe a essência dos Sacramentos: eles são causa da graça, têm a capacidade de continuar realmente a vida divina.

Os teólogos sucessivos não abandonarão esta visão e utilizarão também a distinção entre elemento material e elemento formal, introduzida pelo “Mestre das Sentenças”, como foi chamado Pedro Lombardo. O elemento material é a realidade sensível e visível, o formal são as palavras pronunciadas pelo ministro. Ambos são essenciais para uma celebração completa e válida dos Sacramentos: a matéria, a realidade com a qual o Senhor nos toca visivelmente, e a palavra que dá o significado espiritual. No Batismo, por exemplo, o elemento material é a água que se derrama sobre a cabeça da criança e o elemento formal são as palavras: “Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

Além disso, Lombardo esclareceu que só os Sacramentos transmitem objetivamente a graça divina e que são sete: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio (cf.
Sentenças 4, 2, 1).

A vida sacramental é indispensável para todo cristão

Queridos irmãos e irmãs, é importante reconhecer como é preciosa e indispensável para cada cristão a vida sacramental, na qual o Senhor, através desta matéria, na comunidade da Igreja, nos toca e nos transforma. Como recita o Catecismo da Igreja Católica, os Sacramentos são “forças que saem do Corpo de Cristo, sempre vivo e vivificante, ações do Espírito Santo” (n. 1116). Neste Ano Sacerdotal, que estamos celebrando, exorto os sacerdotes, sobretudo os ministros que curam as almas, a terem eles mesmos primeiro, uma intensa vida sacramental para servirem de ajuda aos fiéis.

A celebração dos Sacramentos distinga-se por dignidade e decoro, favoreça o recolhimento pessoal e a participação comunitária, o sentido da presença de Deus e o ardor missionário. Os Sacramentos são o grande tesouro da Igreja e a cada um de nós compete a tarefa de os celebrar com fruto espiritual. Neles, um acontecimento sempre surpreendente toca a nossa vida: Cristo, através dos sinais visíveis, vem ao nosso encontro, purifica-nos, transforma- nos e torna-nos partícipes da sua amizade divina. […]

(Excertos da Audiência Geral de 30/12/2009)
(Revista Arautos do Evangelho, Fev/2010. n. 81, p. 8-9)

 
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