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Artigo Primeiro: A Natureza da Doutrina Social da Igreja
 
AUTOR: PAPAS
 
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I. A IGREJA COMO MÃE E MESTRA

1. Mãe e Mestra de todos os povos, a Igreja Universal foi fundada por Jesus Cristo, a fim de que todos, vindo no seu seio e no seu amor, através dos séculos, encontrem a plenitude de vida mais elevada e penhor seguro de salvação. A esta Igreja, coluna e fundamento da verdade (cf. 1 Tm 3, 15), o seu Fundador santíssimo confiou uma dupla missão: de gerar filhos, e de educar e dirigir, orientando, com solicitude materna, a vida dos indivíduos e dos povos, cuja alta dignidade ela sempre desveladamente respeitou e defendeu. (Mater et Magistra, n. 1)

2. É a Igreja, efetivamente, que haure no Evangelho doutrinas ou de pôr termo ao conflito ou ao menos de o suavizar, expurgando- o de todo o que ele tenha de severo e áspero; a Igreja, que não se contenta com esclarecer o espírito de seus ensinos, mas também se esforça em regular, de harmonia com eles a vida e os costumes de cada um; a Igreja, que, por uma multidão de instituições eminente- mente benéficas, tende a melhorar a sorte das classes pobres; a Igreja, que quer e deseja ardentemente que todas as classes empreguem em comum as suas luzes e as suas forças para dar à questão operária a melhor solução possível; a Igreja, enfim, que julga que as leis e a autoridade pública devem levar a esta solução, sem dúvida com medida e com prudência, a sua parte do concurso. (Rerum Novarum, n. 25)

3. O cristianismo é, de fato, a realidade da união da terra com o céu, uma vez que assume o homem, na sua realidade concreta de espírito e matéria, inteligência e vontade, e o convida a elevar o pensamento, das condições mutáveis da vida terrena, até às alturas da vida eterna, onde gozará sem limites da plenitude da felicidade e da paz. (Mater et Magistra, n. 2)

4. Não é, pois, de admirar que a Igreja católica, à imitação de Cristo e em cumprimento das suas disposições, tenha mantido sempre bem alto, através de dois mil anos, isto é, desde a instituição dos antigos diáconos, até os nossos tempos, a facho da caridade, não menos com os preceitos do que com os numerosos exemplos que vem proporcionando. Caridade, que ao conjugar harmoniosamente os mandamentos do amor mútuo com a prática dos mesmos, realiza de modo admirável as exigências desta dupla doação que em si resume a doutrina e a ação social da Igreja. (Mater et Magistra, n. 6)

5. Assim, à luz da sagrada doutrina do II Concílio do Vaticano, a Igreja aparece frente a nós como sujeito social da responsabilidade pela verdade divina. Ouçamos com profunda emoção o mesmo Cristo, quando diz: “A palavra que vós ouvis não é minha, é do Pai, que me enviou”(Jo 14, 24) (…). Por isso se exige que a Igreja, quando professa e ensina a Fé esteja estritamente aderente à verdade divina (Dei Verbum, nn. 5, 10 e 21), e que a mesma Fé se traduza em comportamentos vividos de obséquio consentâneo à razão (cf. Dei Filius, n. 3). (Redemptor Hominis, n. 19)

6. Mais em particular, como afirma o Concílio, “o encargo de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo”(Dei Verbum, n. 10). Assim a Igreja, na sua vida e ensinamento, apresenta-se como “coluna e sustentáculo da verdade”(1 Tm 3, 15), inclusive da verdade sobre o agir moral. De fato, “compete à Igreja anunciar sempre e por toda a parte os princípios morais, mesmo de ordem social, bem como emitir juízo acerca de quaisquer realidades humanas, na medida em que o exijam os direitos fundamentais da pessoa humana ou a salvação das almas”(Código de Direito Canônico, cân. 747, n. 2). Precisamente sobre as questões que caracterizam hoje o debate moral e à volta das quais se desenvolveram novas tendências e teorias, o Magistério, por fidelidade a Jesus Cristo e em continuidade com a tradição da Igreja, sente com maior urgência o dever de oferecer o próprio discernimento e ensinamento, para ajudar o homem no seu caminho em busca da verdade e da liberdade. (Veritatis Splendor, n. 27)

II. A MISSÃO DA IGREJA

7. Nascida do amor do Pai eterno (cf. Ef 1, 2; 5-6, 13-14, 23), fundada no tempo por Cristo Redentor, e coadunada no Espírito Santo, a Igreja tem um fim salutar e escatológico que não pode ser atingido plenamente senão na vida futura. Contudo, ela já está presente aqui na terra, composta de homens membros da cidade terrestre, chamados justamente a formarem, já na história do gênero humano a família dos filhos de Deus, que deve crescer sempre até a vinda do Senhor. Unida em vista dos bens celestiais e deles enriquecida, esta família foi por Cristo “fundada e organizada neste mundo como sociedade”(LG, n. 8) é provida de “meios aptos de união visível e social”(LG, n. 9). Deste modo a Igreja se manifesta ao mesmo tempo como “assembléia visível e comunidade espiritual”, e caminha juntamente com a humanidade inteira. Experimenta com o mundo a mesma sorte terrena; é como que o fermento e a alma da sociedade humana a ser renovada em Cristo e transformada na família de Deus. (Gaudium et Spes, n. 40)

8. O ensino e a difusão da doutrina social fazem parte da missão evangelizadora da Igreja. E, tratando-se de uma doutrina destinada a orientar o comportamento das pessoas, tem de levar cada uma delas, como conseqüência, ao “empenho pela justiça”segundo o papel, a vocação e as circunstâncias pessoais. O exercício do ministério da evangelização em campo social, que é um aspecto do múnus profético da Igreja, compreende também a denúncia dos males e das injustiças. Mas convém esclarecer que o anúncio é sempre mais importante do que a denúncia, e esta não pode prescindir daquele, pois é isso que lhe dá a verdadeira solidez e a força da motivação mais alta. (Sollicitudo Rei Socialis, n. 41)

9. Nós professamos que o Reino de Deus iniciado aqui na terra, na Igreja de Cristo, não é deste mundo, cuja figura passa, e que o seu crescimento próprio não pode confundir-se com o progresso da civilização, da ciência ou da técnica humanas, mas consiste em conhecer cada vez mais profundamente as insondáveis riquezas de Cristo, em esperar cada vez corajosamente os bens eternos, em responder cada vez mais ardentemente ao amor de Deus e em difundir cada vez mais amplamente a graça e a santidade entre os homens. Mas é este mesmo amor que leva a Igreja a preocupar-se constante- mente com o bem temporal dos homens. Não cessando de lembrar a seus filhos que eles não têm aqui na terra uma morada permanente, anima-os também a contribuir, cada qual segundo a sua vocação e os meios de que dispõem, para o bem de sua cidade terrestre, a promover a justiça, a paz e a fraternidade entre os homens, a prodigalizar-se na ajuda aos irmãos, sobretudo aos mais pobres e mais infelizes (Paulo VI, Profissão de Fé do Povo de Deus, n. 27). (Libertatis Nuntius, Conclusão)

10. Mas como foi confiado à Igreja manifestar o mistério de Deus, desde Deus que é o fim último do homem, ao mesmo tempo revela ao homem o sentido de sua própria existência, a saber, a verdade essencial a respeito do homem. A Igreja sabe perfeitamente que só Deus, ao qual serve, responde às aspirações profundíssimas do coração humano, que nunca se sacia plenamente com os alimentos terrestres. (Gaudium et Spes, n. 41)

11. Por isso a Igreja, enriquecida com os dons do seu Fundador e observando fielmente os Seus preceitos de caridade, humildade e abnegação, recebeu a missão de anunciar o Reino de Cristo e de Deus, de estabelecê-lo em todos os povos e deste Reino constitui na terra o germe e o início. Entrementes ela, enquanto cresce paulatinamente, anela pelo Reino consumado e com todas as suas forças espera e suspira unir-se ao seu Rei na glória. (Lumen Gentium, n. 5)

12. Como todos sabem, [a Igreja] não está separada do mundo, vive nele. Por isso, os membros da Igreja estão sujeitos à influência do mundo, de que respiram a cultura, aceitam as leis e absorvem os costumes. Este contato permanente, que a Igreja tem com a sociedade temporal, impõe-lhe uma problemática contínua, hoje dificílima. Por um lado a vida cristã, como a Igreja defende e promove, deve com perseverança e tenacidade preservar-se de tudo quanto pode enganá- la, profaná-la e sufocá-la, procurando imunizar-se do contágio do erro e do mal; por outro lado, a vida cristã deve não só adaptar-se às formas do pensamento e da moral, que o ambiente terreno lhe oferece e impõe, quando elas forem compatíveis com as exigências essenciais do seu programa religioso e moral, mas deve procurar aproximá-las de si mesma, purificá-las, nobilitá-las, vivificá-las e santificá-las. (Ecclesiam Suam, n. 20)

13. A Igreja oferece aos homens o Evangelho, documento profético, capaz de corresponder às exigências e aspirações do coração humano: é e será sempre a “Boa Nova”. A Igreja não pode deixar de proclamar que Jesus veio revelar a face de Deus, e merecer, pela cruz e ressurreição, a salvação para todos os homens. (Redemptoris Missio, n. 11)

14. Tudo o que é humano nos diz respeito. Temos, em comum com a humanidade inteira, a natureza, isto é, a vida com todos os seus dons e problemas. Comungamos de bom grado nesta primeira universalidade, aceitamos as profundas exigências das suas necessidades fundamentais, aplaudimos as afirmações novas e por vezes sublimes do seu gênio. Possuímos verdades morais vitais, que se hão de pôr em evidência e revigorar na consciência humana; são benéficas para todos. Em qualquer esforço que o homem faça para se compreender a si mesmo e ao mundo, pode contar com a nossa simpatia (Ecclesiam Suam, n. 54)

III. A MENSAGEM SOCIAL DA IGREJA

15. A solicitude social da Igreja, que tem como fim um desenvolvimento autêntico do homem e da sociedade, o qual respeite e promova a pessoa humana em todas as suas dimensões, manifestou- se sempre das mais diversas maneiras. Um dos meios privilegiados de intervenção, nos últimos tempos, tem sido o Magistério dos Romanos Pontífices que, partindo da Encíclica Rerum Novarum de Leão XIII como de um ponto de referência, tratou com freqüência a questão, fazendo algumas vezes coincidir as datas de publicação dos vários documentos sociais com os aniversários daquela primeira Encíclica. Os Sumos Pontífices não deixaram de ilustrar, com as suas intervenções, também aspectos novos da doutrina social da Igreja. Começando, pois, do validíssimo subsídio de Leão XIII, enriquecido pelas sucessivas contribuições magisteriais, constituiu-se já um corpo doutrinal atualizado, que se articula à medida em que a Igreja, dispondo da plenitude da Palavra revelada por Cristo Jesus e com a assistência do Espírito Santo (cf. Jo 14, 16.26; 16, 13-15), vai lendo os acontecimentos, enquanto eles se desenrolam no decurso da História. Deste modo, ela procura guiar os homens para corres- ponderem, com o auxílio também da reflexão racional e das ciências humanas, à sua vocação de construtores responsáveis da sociedade terrena. (Sollicitudo Rei Socialis, n. 1)

16. No meio das perturbações e das incertezas da hora presente, a Igreja tem uma mensagem específica a proclamar, um apoio a dar aos homens nos seus esforços por tomar as rédeas do seu futuro e orientá-lo. Passada a época em que a Encíclica Rerum Novarum denunciava, de maneira energética e categórica, o escândalo da condição operária, da sociedade industrial nascente, a evolução histórica fez com que se tomasse consciência, como o reconheciam já as Encíclicas Quadragesimo Anno e Mater et Magistra, de outras dimensões e de outras aplicações da justiça social. O recente Concílio Ecumênico aplicou-se, por sua vez, em descobri-las, em particular na Constituição Pastoral Gaudium et Spes. Nós próprios também já continuamos orientações ali dadas, com a nossa Encíclica Populorum Progressio: “Hoje, dizíamos então, o fato de mais saliente, de que cada um deve tomar consciência é que a questão social se tornou mundial”(PP, n. 3). “Uma renovada conscientização das exigências da mensagem evangélica, comporta para a Igreja a obrigação de se pôr a serviço dos homens, para ajudar a captar todas as dimensões deste grave problema e para convencer da urgência de uma ação solidária, nesta viragem da história da humanidade”. (Octogesima Adveniens, n. 5)

17. “A revelação cristã leva a uma compreensão mais profunda das leis da vida social”(GS, n. 23). A Igreja recebe do Evangelho a revelação plena da verdade do homem. Quando ela cumpre a sua missão de anunciar o Evangelho, ensina ao homem, em nome de Cristo, a sua dignidade própria e a sua vocação à comunhão de pes- soas; e ensina-lhe as exigências da justiça e da paz, de acordo com a sabedoria divina. (Catecismo da Igreja Católica, n. 2419)

18. A doutrina social da Igreja, que propõe um conjunto de princípios de reflexão, critérios de discernimento e diretrizes de ação, é dirigida em primeiro lugar aos membros da Igreja. É essencial que o fiel, comprometido na promoção humana, tenha domínio firme deste precioso corpo de doutrina e faça dele parte integrante da sua missão evangelizadora (…). Os dirigentes cristãos na Igreja e na sociedade, particularmente os leigos com responsabilidades na vida pública, necessitam de estar bem formados nesta doutrina, para que possam inspirar e vivificar a sociedade civil e as suas estruturas com o fermento do Evangelho. (Ecclesia in Asia, n. 32).

19. A formação doutrinal dos fiéis leigos mostra-se hoje cada vez mais urgente, não só pelo natural dinamismo de aprofundar a sua fé, mas também pela exigência de “racionalizar a esperança”que está dentro deles, perante o mundo e os seus problemas graves e complexos. Tornam-se, desse modo, absolutamente necessárias uma sistemática ação de catequese, a dar-se gradualmente, conforme a idade e as várias situações de vida, e uma mais decidida promoção cristã da cultura, como resposta às eternas interrogações que atormentam o homem e a sociedade de hoje. Em particular, sobretudo para os fiéis leigos, de várias formas empenhados no campo social e político, é absolutamente indis- pensável uma consciência mais exata da doutrina social da Igreja, como repetidamente os Padres sinodais recomendaram nas suas intervenções. (Christifideles Laici, n. 60)

20. Fiel ao ensinamento e ao exemplo do seu divino Fundador, que dava como sinal da sua missão o anúncio da Boa-nova aos pobres (Lc 7, 22), a Igreja nunca descurou a promoção humana dos povos aos quais levava a fé em Cristo. (Populorum Progressio, n. 12)

21. A Igreja compartilha com os homens do nosso tempo este profundo e ardente desejo de vida justa sob todos os aspectos. Não deixa de fazer objecto de reflexão os vários aspectos da justiça exigida pela vida dos homens e das sociedades. Bem o comprova o amplo desenvolvimento alcançado no último século pela doutrina social católica. Na linha deste ensino situam-se tanto a educação e a formação das consciências humanas no espírito da justiça, como as iniciativas que, animadas pelo mesmo espírito,se vão desenvolvendo, especialmente no campo do apostolado dos leigos. (Dives in Misericordia, n. 12)

22. A Igreja tem consciência do que o Senhor quer que ela seja, surge nela uma plenitude única e a necessidade de efusão, adverte claramente uma missão que a transcende e um anúncio que ela deve espalhar. É o dever da evangelização, é o mandato missionário, é o dever do apostolado. (Ecclesiam Suam, n. 37)

23. Decerto, não existe um único modelo de organização política e econômica da liberdade humana, porque culturas diferentes e experiências históricas diversas dão origem, numa sociedade livre e responsável, a diversificadas formas institucionais. (Discurso durante a 50» Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, 1995, n. 3)

24. A doutrina social tem, além disso, uma importante dimensão interdisciplinar. Para encarnar melhor nos diversos contextos sociais, econômicos e políticos em contínua mutação, essa doutrina entra em diálogo com diversas disciplinas que se ocupam do homem, assumindo em si os contributos que delas provêm, e ajudando-as, por sua vez, a abrir-se numa dimensão mais ampla ao serviço de cada pessoa, conhecida e amada na plenitude da sua vocação. A par desta dimensão interdisciplinar, aparece depois a dimensão prática e em certo sentido experimental desta doutrina. De fato, ela situa-se no cruzamento da vida e da consciência cristã com as situações do mundo e exprime-se nos esforços que indivíduos, famílias, agentes culturais e sociais, políticos e homens de Estado realizam para lhe dar forma e aplicação na história. (Centesimus Annus, n. 59)

IV. O ALCANCE DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

25. A Igreja não tem modelos a propor. Os modelos reais e eficazes poderão nascer apenas no quadro das diversas situações históricas, graças ao esforço dos responsáveis que enfrentam os problemas concretos em todos os seus aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais que se entrelaçam mutuamente (cf. GS, n. 36; Octogesima Adveniens, nn. 2-5). A esse empenhamento, a Igreja oferece, como orientação ideal indispensável, a própria doutrina social que-como se disse-reconhece o valor positivo do mercado e da empresa, mas indica ao mesmo tempo a necessidade de que estes sejam orientados para o bem comum. (Centesimus Annus, n. 43)

26. O ensinamento social da Igreja abrange um corpo de doutrina que se articula à medida que a Igreja interpreta os acontecimentos ao longo da história, à luz do conjunto da palavra revelada por Cristo Jesus e com a assistência do Espírito Santo (cf. SRS, n. 1). Este ensinamento se torna mais aceitável para os homens de boa vontade na medida em que inspira a conduta dos fiéis. (Catecismo da Igreja Católica, n. 2422)

27. Nas aplicações destes, podem surgir divergências mesmo entre católicos retos e sinceros. Quando isto suceder, não faltem a consideração, o mútuo respeito e a boa vontade em descobrir os pontos onde existem acordo, a fim de se conseguir uma ação oportuna e eficaz. Não nos percamos em discussões intermináveis; e, sob o pretexto de conseguirmos o ótimo, não deixemos de realizar o bom que é possível, e portanto, obrigatório. (Mater et Magistra, n. 237)

28. A Igreja não propõe uma filosofia própria, nem canoniza uma das correntes filosóficas em detrimento de outras. A razão profunda desta reserva está no fato de que a filosofia, mesmo quando entra em relação com a teologia, deve proceder segundo os seus métodos e regras; caso contrário, não haveria garantia de permanecer orientada para a verdade, tendendo para a mesma através de um processo racionalmente controlável. Pouca ajuda daria uma filosofia que não agisse à luz da razão, segundo princípios próprios e específicas metodologias. Fundamentalmente, a raiz da autonomia de que goza a filosofia, há que individuá-la no fato de a razão estar orientada, por sua natureza, para a verdade e dotada em si mesma dos meios necessários para a alcançar. Uma filosofia, ciente deste seu “estatuto constitutivo”, não pode deixar de respeitar as exigências e evidências próprias da verdade revelada. (Fides et Ratio, n. 49)

29. A doutrina social da Igreja se desenvolveu no século XIX, quando nasce o encontro do Evangelho com a sociedade industrial moderna, suas novas estruturas para produção de bens de consumo, sua nova concepção da sociedade, do Estado e da autoridade, suas novas formas de trabalho e de propriedade. O desenvolvimento da doutrina da Igreja em matéria econômica e social, atesta o valor permanente do ensinamento da Igreja, ao mesmo tempo que do sentido verdadeiro de sua Tradição sempre viva e ativa (cf. CA, n. 3). (Catecismo da Igreja Católica, n. 2421)

30. A doutrina social da Igreja não é uma “terceira via”entre capitalismo liberal e coletivismo marxista, nem sequer uma possível alternativa a outras soluções menos radicalmente contrapostas: ela constitui por si mesma uma categoria. Não é tampouco uma ideologia, mas a formulação acurada dos resultados de uma reflexão atenta sobre as complexas realidades da existência do homem, na sociedade e no contexto internacional, à luz da fé e da tradição eclesial. A sua finalidade principal é interpretar estas realidades, examinando a sua conformidade ou desconformidade com as linhas do ensinamento do Evangelho sobre o homem e sobre a sua vocação terrena e ao mesmo tempo transcendente; visa, pois, orientar o comportamento cristão. Ela pertence, por conseguinte, não ao domínio da ideologia, mas da teologia e especialmente da teologia moral. (Sollicitudo Rei Socialis, n. 41)

31. Não foi, é certo, confiada à Igreja a missão de encaminhar os homens à conquista da felicidade transitória e caduca, mas eterna; antes “a Igreja crê não dever intrometer-se sem motivos nos negócios terrenos”(Ubi Arcano Dei Consilio, n. 65). O que não pode é renunciar ao ofício de que assuntos técnicos, para os quais lhe faltam competência e meios, mas em tudo o que se refere à moral. Dentro deste campo, o depósito da verdade que Deus nos confiou e o gravíssimo encargo de divulgar a lei moral, interpretá-la e urgir o seu cumprimento oportuna e inoportunamente, sujeitam e subordinam ao nosso juízo a ordem social e as mesmas questões econômicas. (Quadragesimo Anno, n. 41)

32. A doutrina social hoje especialmente visa o homem, enquanto inserido na complexa rede de relações das sociedades modernas. As ciências humanas e a filosofia servem de ajuda para interpretar a centralidade do homem dentro da sociedade, e para o capacitarem a uma melhor compreensão de si mesmo, enquanto “ser social”. Todavia somente a fé lhe revela plenamente a sua verdadeira identidade, e é dela precisamente que parte a doutrina social da Igreja. (Centesimus Annus, n. 54)

V. EVANGELIZAÇÃO E DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

33. A “nova evangelização”, da qual o mundo moderno tem urgente necessidade, e sobre a qual várias vezes insisti, deve incluir entre as suas componentes essenciais o anúncio da doutrina social da Igreja, tão idônea hoje como no tempo de Leão XIII para indicar o reto caminho de resposta aos grandes desafios da idade contemporânea, enquanto cresce o descrédito das ideologias. Como então, é preciso repetir que não existe verdadeira solução para a “questão social” fora do Evangelho e que, por outro lado, as “coisas novas”podem encontrar neste o seu espaço de verdade e a devida avaliação moral. (Centesimus Annus, n. 5)

34. O que deve contar aqui, como nos demais setores da vida cristã é a confiança que provém da fé, ou seja, a certeza de não sermos nós os protagonistas da missão, mas Jesus Cristo e o Seu Espírito. Somos apenas colaboradores e, depois de termos feito tudo o que estava ao nosso alcance, devemos dizer: “Somos servos inúteis, só fizemos o que devíamos fazer”(Lc 17, 10). (Redemptoris Missio, n. 36)

35. Desejo agora propor uma “releitura”da Encíclica leonina, convidando a “olhar para trás”, ao próprio texto, para descobrir de novo a riqueza dos princípios fundamentais, nela formulados, sobre a solução da questão operária (…). Procedendo deste modo, será confirmado não só o valor permanente do seu ensinamento, mas manifestar-se-á também o verdadeiro sentido da Tradição da Igreja, que, sempre viva e vivificante, constrói sobre o fundamento posto pelos nossos pais na fé e, designadamente, sobre o que “os Apóstolos transmitiram à Igreja”(S. Ireneu, Adversus Haereses, I, 10) em nome de Jesus Cristo, o fundamento “que ninguém pode substituir”(1 Cor 3, 11). (Centesimus Annus, n. 3)

36. (É) porque a apresentação da mensagem evangélica não é para a Igreja uma contribuição facultativa: é um dever que lhe incumbe, por mandato do Senhor Jesus, a fim de que os homens possam acreditar e ser salvos. Sim, esta mensagem é necessária; ela é única e não poderia ser substituída. (Evangelii Nuntiandi, n. 5)

37. Somos enviados: estar ao serviço da vida não é para nós um título de glória, mas um dever que nasce da consciência de sermos “o povo adquirido por Deus para proclamar as suas obras maravilhosas”(cf. 1 Pd 2, 9). No nosso caminho, guia-nos e anima- nos a lei do amor: um amor, cuja fonte e modelo é o Filho de Deus feito homem que “pela sua morte deu a vida ao mundo”(cf. Missal Romano, Oração do celebrante antes da comunhão). Somos enviados como povo. O compromisso de servir a vida incumbe sobre todos e cada um. É uma responsabilidade tipicamente “eclesial”, que exige a ação concertada e generosa de todos os membros e estruturas da comunidade cristã. Mas a sua característica de dever comunitário não elimina nem diminui a responsabilidade de cada pessoa, a quem é dirigido o mandamento do Senhor de “fazer-se próximo”de todo o homem: “Vai e faz tu também do mesmo modo”(Lc 10, 37). (Evangelium Vitae, n. 79)

38. Todos juntos sentimos o dever de anunciar o Evangelho da vida, de o celebrar na liturgia e na existência inteira, de o servir com as diversas iniciativas e estruturas de apoio e promoção. (Evangelium Vitae, n. 79)

 
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