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Palavra dos Pastores


“Sejamos sacerdotes até o fundo”
 
AUTOR: DIÁC. RAMÓN ÁNGEL PEREIRA VEIGA, EP
 
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Numa época tão ‘policêntrica' e propensa a diluir todo tipo de concepção trinitária, é importante manter com clareza a peculiaridade teológica do Ministério ordenado, para não ceder à tentação de reduzi-lo às categorias culturais predominantes

Caríssimos sacerdotes, os homens e as mulheres do nosso tempo só nos pedem que sejamos sacerdotes até o fundo, e nada mais”. Estas palavras do Papa Bento XVI frisam eloquentemente um dos principais aspectos do Congresso Teológico Internacional, realizado em Roma nos dias 11 e 12 de março, na Sala Magna da Pontifícia Universidade Lateranense.

Dele participaram mais de 50 Bispos e 500 presbíteros de numerosos países, entre os quais alguns Bispos presidentes das Comissões para o Clero dos respectivos países, supremos moderadores dos Institutos e das Associações Clericais e sacerdotes formadores do Clero.

A alta qualidade dos conferencistas e seu ardente amor à Igreja proporcionaram sólido fundamento às exposições, que abordaram um a um os difíceis problemas com os quais se defrontam os sacerdotes de hoje, por vezes tão incompreendidos no exercício de sua missão.

Um lema que é signo de unidade com o Santo Padre

A primeira sessão, destinada a delinear a identidade sacerdotal perante o mundo atual, foi presidida pelo Cardeal Zenon Grocholewski, Prefeito da Congregação para a Educação Católica.

Os trabalhos tiveram início com uma breve introdução do Prefeito da Congregação para o Clero, Cardeal Cláudio Hummes.

Começou explicando que, “como tema do Congresso, foi escolhido o mesmo lema do Ano Sacerdotal, como signo de unidade com o pensamento que guiou o Santo Padre na proclamação do Ano e como reconhecimento da feliz e eficaz fórmula: Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote. O tema conjuga no ministério sacerdotal o primado da graça com o dever sempre urgente da fidelidade e do testemunho do sacerdote”.

Lembrando a relação existente entre o ser e o agir, o Cardeal traçou a linha na qual deviam se desenvolver os trabalhos do Congresso: “O princípio ‘agere sequitur esse’ [o agir vem depois do ser] tem constituído sempre a chave hermenêutica da realidade, no olhar do homem sobre o cosmos, no qual pode reconhecer a obra e, portanto, a existência de Deus; e no olhar do homem sobre si mesmo, que, reconhecendo-se como necessitado d’Aquele que fez todas as coisas, discerne a única via para sua própria realização: ser conforme à Vontade de seu Criador”.

Cristologia e identidade sacerdotal

Coube ao padre Réal Tremblay, CSsR. – professor de Teologia na Pontifícia Academia Alfonsiana e consultor da Congregação para a Doutrina da Fé – pronunciar a primeira conferência: Cristologia e identidade sacerdotal, que versou sobre o fundamento teológico do sacerdócio, o qual vem a ser a configuração a Cristo.

Logo a seguir, Dom Gerhard Ludwig Müller, Bispo de Regensburg, discorreu sobre Sacerdotes e cultura contemporânea. Mostrando a relação entre teologia e cultura, destacou como esta última deve basear- se no fato de que o ser humano é criatura de Deus. Nessa perspectiva, explicou ele, o mundo torna- se o espaço de uma cultura que tem a capacidade de reconhecê-Lo como Criador e Autor de toda criatividade. Dom Müller ressaltou, por fim, que o Sacrifício Eucarístico é o ápice da cultura humana e fonte da qual ela brota.

Os trabalhos da manhã foram completados por três comunicações: uma sobre Mariologia e identidade sacerdotal, feita pelo Mons. M. Bordoni, da Pontifícia Universidade Lateranense; outra sobre O Cura d’Ars e a identidade sacerdotal, por Frei Antonio Sicari, OCD, consultor da Congregação para o Clero; e a terceira sobre Recentes mutações antropológicas, pelo Prof. Massimo Introvigne, Diretor do CESNUR.

Do “ser” à dimensão missionária

O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal William Joseph Levada, presidiu a segunda sessão, iniciada com uma conferência do Arcebispo de Bolonha, CardealCarlo Caffarra. Sua Eminência colocou sobre sólida base filosófica a missão do sacerdote de hoje: ele não “é” mais por si mesmo, mas é confiscado para “ser” mediante o Senhor e pelo Senhor.

Em seguida, o Bispo de Petrópolis, Dom Filippo Santoro – desenvolvendo o tema Do ser à função: a missão -, comentou que “nos últimos anos a formação sacerdotal, sobretudo na América Latina, preparou o sacerdote como organizador das pastorais, como promotor de atividades sociais e políticas e, em alguns casos, como homem do culto”. Essa situação, explicou ele, foi motivada pelo intenso debate pósconciliar sobre a identidade do sacerdote, contagiado pela hermenêutica da ruptura. É justamente uma formação baseada na hermenêutica da continuidade da identidade sacerdotal que tornará possível a renovação do espírito evangelizador do qual a Igreja precisa. Pois, afirmou, “quanto mais se é consciente da vida como missão, mais se constrói o Reino de Deus e se é responsável pela missão da Igreja”.

Coube ao Arcebispo Raymond Leo Burke, Prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, apresentar o tema Do ser à função: aspectos pastorais e jurídicos. O expositor realçou o serviço prestado pelo Direito Canônico à Igreja no sentido de proteger e salvaguardar o dom do sacerdócio.

Correto relacionamento entre sacerdotes e leigos

Seguiu-se a comunicação sobre Experiências de “descontinuidade”, na qual Dom Willem Eijk, Arcebispo de Utrecht, descreveu o verdadeiro “tsunami de revoluções” que atingiu a Igreja nos anos 60 do século passado, mas já era perceptível na década de 40. A Holanda constituiu um caso emblemático. Entre as suas causas, Dom Willem destacou a infiltração do secularismo na Igreja, a falta de conteúdo espiritual da parte dos sacerdotes, “que irradiavam pouco sua identidade intrínseca”. Ao mesmo tempo – observou – o padre perdeu a posição de destaque que tivera até então no país, ferindo- se também sua identidade extrínseca. Ressalvou, porém, que o acontecido na Holanda não foi resultado do Concílio, mas de uma lenta erosão iniciada anteriormente.

Em sua densa e aplaudida exposição sobre Sacerdotes e leigos: a justa relação, o subsecretário do Pontifício Conselho para os Leigos, Prof. Guzmán Carriquiry, observou que, depois do Concílio Vaticano II, pode-se considerar superada, em princípio, “aquela visão tradicional que mantinha os fiéis leigos numa condição de minoridade”. Acrescentou que, de outro lado, um erro frequente na primeira fase do pós-conciliar foi o de “definir os leigos em oposição ao clero e aos religiosos, acentuando sua especificidade e autonomia”. Tal erro deu lugar “a não poucas tensões, contestações e conflitos dentro do todo eclesial”.

Não foram os ensinamentos conciliares, nem sua fiel implantação, que produziram a “secularização dos clérigos” e uma “clericalização dos leigos”. Levando-se em conta a dignidade de todos os batizados e a vocação comum à perfeição, é preciso “manter-se com clareza, em nível teológico e na prática pastoral, a diferença entre sacerdócio universal dos fiéis e sacerdócio ministerial”, que são “modalidades essencialmente diversas”, salientou o Prof. Carriquiry.

A sessão terminou com uma comunicação de Dom Francesco Moraglia, Bispo de La Spezia-Sarzana- Brugnato. Nela tratou sobre a espiritualidade, a vida interior que deve possuir o sacerdote para um eficaz desempenho de seu ministério, e alertou: “O risco, sobretudo na nossa sociedade – como recorda o Diretório para o Ministério e da Vida dos Presbíteros (cf. n.44) -, é cair no funcionalismo”.

“Estou feliz por me encontrar convosco”

Com notória satisfação recebeu o Papa Bento XVI os participantes do congresso na Sala da Bênção do Palácio Apostólico, na manhã da sexta-feira: “Estou feliz por me encontrar convosco nesta particular ocasião e saúdo todos vós com afeto. […] A minha gratidão vai a todo o Dicastério, pelo compromisso com que coordena as múltiplas iniciativas do Ano Sacerdotal, entre as quais este Congresso Teológico”.

Sua Santidade mostrou quão de perto tinha acompanhado as sessões do Congresso e a importância, para toda a Igreja, dos assuntos nele tratados: “O tema da identidade presbiteral, objeto do vosso primeiro dia de estudo, é determinante para o exercício do sacerdócio ministerial no presente e no futuro. Numa época como a nossa, tão ‘policêntrica’ e propensa a diluir todo o tipo de concepção trinitária, por muitos considerada contrária à liberdade e à democracia, é importante manter com clareza a peculiaridade teológica do Ministério ordenado, para não ceder à tentação de o reduzir às categorias culturais predominantes”.

Perante esse contexto de secularização, o Papa reafirmou a importância de “ultrapassar reducionismos perigosos que, nas décadas passadas, utilizando categorias mais funcionalistas do que ontológicas, apresentavam o sacerdote quase como um ‘agente social’, correndo o risco de atraiçoar o próprio Sacerdócio de Cristo”.

Presbíteros que falem de Deus ao mundo

Traçou a seguir o que deveria ser a linha diretiva do Congresso: “Assim como se revela cada vez mais urgente a hermenêutica da continuidade para compreender de maneira mais adequada os textos do Concílio Ecumênico Vaticano II, analogamente parece necessária uma hermenêutica que poderíamos definir ‘da continuidade sacerdotal’ que, começando a partir de Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo, e passando através dos dois mil anos da História de grandeza e de santidade, de cultura e de piedade que o Sacerdócio escreveu no mundo, chegue até aos nossos dias”.

Na época em que vivemos, acrescentou o Papa, “há grande necessidade de presbíteros que falem de Deus ao mundo e que apresentem o mundo a Deus; homens não sujeitos a modas culturais efêmeras, mas capazes de viver autenticamente aquela liberdade que somente a certeza da pertença a Deus é capaz de conferir”.

E terminou suas palavras com esta belíssima conclamação: “Caríssimos sacerdotes, os homens e as mulheres do nosso tempo só nos pedem que sejamos sacerdotes até ao fundo, e nada mais. Os fiéis leigos encontrarão em muitas outras pessoas aquilo de que humanamente têm necessidade, mas só no sacerdote poderão encontrar aquela Palavra de Deus que deve estar sempre nos seus lábios; a Misericórdia do Pai, abundante e gratuitamente concedida no Sacramento da Reconciliação; o Pão de Vida nova, verdadeiro alimento oferecido aos homens”.

Jesus pôs seu próprio Corpo nas nossas mãos

Na tarde dessa mesma sexta-feira realizou-se a terceira sessão, presidida pelo Cardeal Franc Rodé, CM, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

Os trabalhos foram iniciados com a conferência do Cardeal Antonio Cañizares Llovera, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, sobre o tema Sacerdócio e Liturgia: educação para a celebração. Sua Eminência quis centralizar a exposição no Mistério Eucarístico, pois “na Eucaristia, resumo e centro de toda a Santa Liturgia, vemos quanto o ser sacerdotes faz parte de nós e é nossa razão de ser”.

Após convidar os presentes a redescobrir o sacerdócio à luz da Eucaristia, pois Jesus “tomou nossas mãos e nelas pôs seu próprio Corpo”, o Cardeal mostrou a grande responsabilidade que isto implica: “A vida do sacerdote não pode ser senão a de Cristo. Não podemos nos contentar com uma vida medíocre. Mais ainda, não faz sentido uma vida sacerdotal medíocre. Nunca deveria fazer sentido, menos ainda no momento atual, em que é tão necessário mostrar a identidade do que somos e, assim, dar razão da esperança que nos anima. […] O sacerdote tem de ser como Cristo, tem de ser santo”.

Referindo-se às celebrações litúrgicas, o Cardeal frisou ser preciso reconhecer que, “embora se tenha avançado muito depois do Concílio Ecumênico Vaticano II em viver o autêntico sentido da Liturgia, ainda resta muito por fazer. É necessária uma renovação contínua e uma constante formação de todos: ordenados, consagrados e leigos”.

E esclareceu: “Mais do que recorrer a atuações arbitrárias, a verdadeira renovação consiste em desenvolver cada vez melhor a consciência do senso do mistério. […] A Liturgia da Igreja não tem como meta acalmar os desejos e os temores do homem, mas sim escutar e acolher a Jesus que honra e louva o Pai, para louvá-Lo e honrá-Lo com Ele”.

A conferência do Cardeal Cañizares foi completada pela comunicação de Dom Marc Aillet, Bispo de Bayonne (França). Com o sugestivo título A Liturgia “ferida”, sua intervenção apontou desvios que causaram a banalização da Liturgia, esquecendo- se de que ela é, segundo a conhecida expressão do Concílio, “cume e fonte da vida e da missão da Igreja”.

Comentou o Prelado francês: “Contra toda expectativa, como os Papas João Paulo II e Bento XVI com frequência enfatizaram, a implantação da reforma litúrgica conduziu às vezes a uma espécie de dessacralização sistemática, deixando-se a Liturgia ser progressivamente invadida pela cultura secularizada do mundo circundante e perder assim sua natureza e identidade”.

Ora, explicou Dom Aillet, a Liturgia é o lugar privilegiado para o aprofundamento da identidade sacerdotal. “A obediência do sacerdote às rubricas é ainda o sinal silencioso e eloquente de seu amor à Igreja, da qual ele é apenas ministro, quer dizer, servidor”, sublinhou.

“O celibato é uma provocação”

Dentro da perspectiva da hermenêutica da continuidade, e tomando por base a História e a Tradição da Igreja, o padre Stefan Heid, do Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã, traçou um perfil histórico-doutrinal do celibato eclesiástico.

O tema foi completado, sob o aspecto psicoespiritual, pelo Doutor Manfred Lütz, médico psiquiatra, psicoterapeuta e teólogo. Começou sua exposição observando que “sem dúvida, sob o aspecto sócio-psicológico, o celibato é uma provocação. Num mundo que não mais acredita numa vida depois da morte, essa forma de vida é um constante protesto contra a superficialidade universal. O celibato é a mensagem continuamente vivida de que esta terra, com suas alegrias e suas dores, não é tudo. Há pessoas que ficam furiosas ao ouvir isso”.

De sua exposição, destacamos a descrição empírica da “crise do celibato”, sob a perspectiva médica: “Com base na minha experiência terapêutica, não posso senão confirmar que o ressecamento da vida espiritual muitas vezes precede a ‘crise do celibato’. Se um sacerdote não reza mais com regularidade, se não se confessa, se, portanto, não tem nenhuma relação vital com Deus, então, enquanto padre, deixou de ser fecundo. Os homens, com efeito, notam que dele não mais extravasa força alguma do Espírito de Deus. Basta só isto para, posteriormente, levar esse padre perturbado a um estado de frustração e de insatisfação com respeito à sua vocação sacerdotal”.

Lembrou também a importância de os presbíteros procurarem viver em comunidade: “Santo Agostinho sempre considerou digno de recomendação que padres celibatários vivam juntos numa mesma casa. Isso está sendo novamente posto em prática em muitos lugares. Uma comunidade doméstica desse tipo possibilita exercer melhor a necessária correctio fraterna” – concluiu o Doutor Lütz.

Dimensão carismática e escatológica do celibato

Em seguida, Mons. Fortunatus Nwachukwu, Chefe do Protocolo da Secretaria de Estado, tratou dos desafios do Celibato, castidade e virgindade, realçando a íntima ligação existente entre esses três conceitos.

Sob essa perspectiva, explicou como o celibato não deve ser considerado “uma postura triste ou desfigurada que o padre é obrigado a assumir para mostrar a seriedade de seu compromisso”. Pelo contrário, a abstinência implicada no celibato sacerdotal deve ser vivida como fonte de intimidade com Deus, um relacionamento que inspira uma alegria não só interior, mas também externamente perceptível.

Coube ao Cardeal Julián Herranz, membro da Congregação para o Clero, apresentar o labor teológico para justificar o celibato sacerdotal, considerando especialmente as explicitações feitas pelo Concílio Vaticano II e pelo Magistério posterior.

Desde os primeiros séculos, o sensus fidei do Povo de Deus intuiu os liames que vinculam a virgindade ao sacerdócio ministerial. Os Padres e os Doutores da Igreja, como também os santos, percebiam a realidade desse fenômeno carismático, como o atestam a estima em que sempre o tiveram e a legião de ministros de Deus que faziam do sagrado celibato o objeto de sua total doação ao mistério de Cristo.

A natureza do sacerdócio não exige de per si o celibato. Como, então, explicar que ela o requeira tão fortemente? O Concílio Vaticano II e o Magistério eclesiástico subsequente procuraram no aspecto cristológico do celibato sacerdotal as razões para justificá-lo: é sumamente conveniente que o ministro de Cristo reproduza em si mesmo a íntima vinculação entre sacerdócio e virgindade, tão evidente na figura do Sacerdote eterno. Ele deve configurar-se a Cristo, pois é o sinal vivo da sua presença no meio de seu povo.

Pela perfeita continência, o sacerdote adere mais facilmente a Cristo, com o coração não dividido, e mais livremente pode dedicar a integridade de sua pessoa, forças, capacidades e tempo à amorosa intimidade com Deus e ao serviço dos homens. Pelo celibato, o ministro consagrado “adquire melhor e participa mais amplamente da paternidade espiritual de Cristo, da plenitude do amor de Cristo, gerador da nova humanidade, cuja origem, ensina São João, provém non ex sanguinibus, neque ex voluntate carnis […] sed ex Deo (Jo 1,13)”.

O Cardeal Herranz mostrou, por fim, que o celibato tem inclusive uma dimensão escatológica, “porque faz também aparecer o sacerdote, diante de seus filhos em Cristo, como ‘sinal e penhor das sublimes realidades do Reino de Deus, dos quais é dispensador'”, como diz a encíclica Sacerdotalis coelibatus, n.31.

A “hermenêutica da continuidade sacerdotal”

Magistralmente, Dom Mauro Piacenza sintetizou na conclusão as principais ideias em torno das quais foram construídas as três sessões do Congresso.

Discorrendo sobre a identidade do sacerdote e suas relações com a Cristologia, o Secretário da Congregação para o Clero recordou que “a cultura contemporânea se mostra, infelizmente, distante das categorias do sagrado, da mediação, da sacramentalidade”. No confronto com a cultura contemporânea, a “verdadeira profecia” continua a ser “a santidade consequente à própria identidade”.

Dom Piacenza enfatizou a absoluta necessidade da hermenêutica da continuidade sacerdotal propugnada por Bento XVI em sua audiência aos participantes no Congresso. No decurso das exposições, viu-se que, “como garantia da clareza sobre a identidade sacerdotal e da eficácia da missão, é urgente e necessário viver o Ministério numa radical continuidade teológica, espiritual, jurídico- pastoral e existencial, segundo a hermenêutica da continuidade que […] o próprio Santo Padre novamente enunciou para os sacerdotes, após havê-la indicado, desde 2005, como categoria para a única interpretação correta dos textos do Concílio Ecumênico Vaticano II”.

“A hermenêutica da continuidade sacerdotal pressupõe a consciência da participação no único Sacerdócio de Cristo, da qual deriva toda eficácia ministerial possível e na qual está radicada a própria espiritualidade do Ministério. O equilíbrio, tão difícil de obter, entre os diversos âmbitos da vida do presbítero – da Liturgia até o ensinamento, da relação com o laicato, com sua justa promoção, até a relação com o mundo e com a cultura dominante -, é garantido, promovido, guardado, orientado e mantido exatamente pela hermenêutica da continuidade”.

Renovar o júbilo pelo inapreciável dom da vocação

Nas palavras finais de despedida o Cardeal Cláudio Hummes, Prefeito da Congregação para o Clero, destacou como fato auspicioso a alegria de todos os participantes. Enfatizou que, segundo o desejo do Papa, este Ano Sacerdotal deve constituir uma oportunidade para que cada padre, diariamente, dê graças e renove seu júbilo pelo inapreciável dom de sua vocação.

Nas circunstâncias atuais, a formação permanente adquire suma importância, e o Congresso teve como objetivo pôr à disposição dos formadores conteúdos para sua tarefa. A missão – a missão verdadeira, em sentido estrito e forte – é urgente, inclusive na Europa. Da missão virá uma nova força. Cumpre dar coragem aos sacerdotes para que proponham novamente o carisma fundamental – finalizou o Cardeal Hummes.

(Revista Arautos do Evangelho, Maio/2010, n. 101, p. 18 à 23)

 
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