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Palavra dos Pastores


O desafio digital
 
AUTOR: DOM ORANI JOÃO TEMPESTA, OCIST
 
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O mundo digital se transformou hoje num novo campo de missão que exige, junto com a necessária capacitação técnica, uma renovada fidelidade ao Evangelho e ao Magistério da Igreja.

Dom Orani João Tempesta, OCist
Arcebispo do Rio de Janeiro

O decreto Inter Mirifica é um dos dois primeiros documentos do Concílio Vaticano II e inicia uma orientação para os novos tempos que estavam surgindo naquela época no campo dos meios de comunicação. O Dia Mundial das Comunicações Sociais é o único dia comemorativo criado pelo Concílio. Vemos aí a importância por ele dada à questão da comunicação.

Cada ano, os Pontífices Romanos anunciam, na festa dos Arcanjos Gabriel, Rafael e Miguel o tema anual para esse dia e publicam o texto da mensagem no dia da Festa de São Francisco de Sales. Para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2010 o Santo Padre Bento XVI teve uma providencial iniciativa: convocar os sacerdotes católicos a comunicarem a boa nova do Evangelho através dos meios digitais.1 O tema está ligado tanto ao Ano Sacerdotal como também às novas ferramentas da comunicação digital.

Um novo campo de missão para a Igreja

No mundo digital abre-se um novo campo de missão para a Igreja Católica. Como Paulo, nos primórdios do Cristianismo, somos convocados a lançar as redes em águas mais profundas para anunciar e testemunhar, de maneira destemida e objetiva, o Evangelho de Jesus Cristo nesses novos areópagos.

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No Brasil temos muitas iniciativas de evangelização no mundo digital
e todas as dioceses contam com páginas web

Até há pouco tempo havia certa dificuldade em ver oficializada a presença da Igreja nesses campos, pois eram tidos como local de comunicações com muitos ruídos negativos. Porém, assim como existem livros, revistas, mosaicos e jornais que primam pela destruição de valores, e nem por isso a Igreja deixou de estar presente nesses meios com o anúncio da Vida em Cristo, assim também nós devemos incentivar hoje a presença nos teclados informáticos de verdadeiros cristãos, peritos nas diversas ferramentas do mundo cibernético.

No Brasil, temos muitas iniciativas nesse sentido e é possível dizer que todas as Dioceses no Brasil contam agora com sites. Seria muito difícil dar um número exato de paróquias que têm site, além das comunidades, associações, movimentos, grupos de serviço e mesmo cristãos leigos que contam com meios eletrônicos para evangelizar no mundo digital.

Construir a unidade na diversidade

Nesse ainda “território livre” encontramos de tudo, principalmente uma convergência de mídias. Hoje o rádio, a televisão, a revista, os jornais, os museus, os livros, as enciclopédias, as aulas estão presentes nesse meio. Também a catequese, a oração e as transmissões ou gravações de programas e celebrações.

Saudamos carinhosamente os que se dedicam a essa missão, e os incentivamos a exercê-la com ânimo sempre renovado, buscando levar todos os homens e mulheres a construírem uma sociedade justa e fraterna, além de alimentar a Fé do nosso povo.

Atualmente temos ótimos portais de notícias ligados a grupos católicos que, além de fornecer informações sobre os acontecimentos, formam, através de eventos e textos, as pessoas no caminho cristão. A grande questão é sabermos escolher a reta doutrina e procurarmos construir a unidade na diversidade.

Obstáculos e desafios

Numa análise genérica, percebemos que todos os níveis da Igreja, Diocesana e Paroquial, estão caminhando para ingressar no mundo digital, o novo areópago da evangelização.

Um dos desafios com que se encontram é a inclusão digital. Em geral, as escolas possuem salas de informática e internet, mas há também salas em nossas comunidades e paróquias que capacitam as pessoas para ingressarem nesse meio.

Outro desafio é a capacitação profissional de pessoas que possam estruturar os sites de suas respectivas instituições religiosas, de maneira a serem sugestivos e convidativos à navegação.

Não podemos deixar de ressaltar que a juventude e as novas gerações vivem a fome de informação. E, hoje, uma das reclamações é a quantidade exagerada de informações disponíveis na “net”, ao ponto de, muitas vezes, viciar as pessoas, levando-as a passar a vida, ou boa parte da vida, “navegando” e esquecendo-se de seus relacionamentos familiares ou com o próximo.

Outras vezes, deparamo-nos com informações redigidas de maneira superficial, até parcial, em conformidade com os interesses daqueles que as disseminam. Ou encontramos notícias nocivas a pessoas ou instituições, criadas pelo simples gosto de desmoralizar ou perseguir desafetos. Ou até sites e e-mails maliciosos que “invadem” com “vírus” os computadores, que podem até mesmo transferir grandes somas de dinheiro para contas dos novos tipos de ladrões.

Nem todos gostam dessa liberdade, que torna possíveis os exageros e as falsas informações. Estes devem ser combatidos quando existem, mas deve-se evitar também a tentação de cair no controle da imprensa, próprio de certos regimes ditatoriais que procuram tornar visível, audível ou acessível apenas aquilo que alguns poucos decidem pelo povo.

O espírito do Documento de Aparecida

Observando as nossas comunidades, nota-se claramente que as Dioceses e paróquias carecem de suficiente número de pessoas habilitadas para tornar mais ágeis e ricas as informações dos seus sites.

Entretanto, devemos dar um novo impulso aos portais eletrônicos, para que entrem no espírito pastoral e evangelizador ao qual nos conclama o Documento de Aparecida, ao dizer que a internet é assumida com “realismo e confiança”2 e no qual se reconhece que o espaço digital ocasiona novas formas de exclusão, pelo que se faz um chamado às paróquias, comunidades, centros e instituições católicas a criar espaços de formação e acesso à internet para entrar em contato com a cultura da mídia.3

Aparecida demonstra sua preocupação pelo papel dos católicos na vida pública e a incidência da própria Igreja na opinião pública da sociedade, convidando os agentes de pastoral, em particular os ministros de culto, a serem formadores de opinião, o que exige uma formação permanente em temas de conjuntura para a Igreja e para a sociedade.

Proclamar a todos com clareza o plano da Salvação

Assim sendo, é urgente que os responsáveis pelos sites tenham um compromisso com a verdade e com a fidelidade ao Evangelho e ao Magistério Pontifício.

Temos que fazer uma leitura crítica da comunicação, porque a Igreja Católica – depositária da Fé transmitida por Jesus aos seus Apóstolos, e por estes aos seus sucessores, os Bispos, em comunhão com o Sumo Pontífice – tem essa responsabilidade de proclamar com clareza a todos o Plano da Salvação que leva vida para todos.

Além das informações, os sites católicos podem responder às questões que afligem o homem moderno, numa linguagem acessível, sem renunciar à verdade de nossa Fé. É fundamental que esses novos meios de comunicação virtual tenham como escopo primordial o respeito pela primazia da pessoa e a atenção às suas necessidades.

Urge uma reflexão da parte dos presbíteros, como nos pede o Papa na sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações, a fim de colocarmos como uma das nossas principais metas a pastoral da comunicação e da acolhida, que hoje não pode deixar de ser, ao mesmo tempo, a pastoral da internet e dos meios correlatos.

Não tenho dúvidas de que a Igreja que peregrina no Brasil está fortemente amparada na vontade deliberada de dar especial apoio a todos os sites e meios eletrônicos que anunciem o Cristo Ressuscitado e levem o homem e a mulher de nossos dias a buscar a santidade pelo conhecimento e pelo seguimento apaixonado do Redentor.

Notas:

1 Cf. Mensagem para o 44º Dia Mundial das Comunicações Sociais,24/1/2010.
2 Documento de Aparecida, n.488.
3 Cf. Idem, n.490.

(Revista Arautos do Evangelho, Junho/2010, n. 102, p. 38-39)

 
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