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Contos Infantis


O amigo fiel
 
AUTOR: MICHELLE VICCOLA
 
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Quem conta um conto, aumenta um ponto? Nem sempre. Por vezes, quem conta um conto, ensina a bem viver.

Assim como o adocicado do comprimido ajuda a criança a tomar o remédio, a beleza de uma história “real ou fictícia” pode facilitar a aceitação de verdades difíceis de serem assimiladas.

Em nossa época, mais que a insegurança ou as privações de ordem material, um outro mal assola multidões: o isolamento.

Paradoxalmente, nunca os homens viveram tão cercados por seus semelhantes, e nunca cada qual se sentiu tão só, tão isolado. Por quê?

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Os atos de bondade, de amor e abnegação
devem ser gravados na rocha,
para que outros procurem imitá-los

Todo mundo procura alguém o compreenda. Ter amigos é uma necessidade do ser humano. O instinto de sociabilidade, mais entranhado no homem do que o próprio instinto de conservação, procura esse apoio gerado em função de afinidades profundas por onde as pessoas se entendem e se querem bem.

Algo em nosso interior pede esse convívio pleno de harmonia e de benquerença. Apetência que decorre, em última análise, de uma saudade e de uma esperança. Saudade de um paraíso perdido, que não chegamos a conhecer, e esperança de uma bem-aventurança eterna, que tanto almejamos.

Um daqueles famosos contos das terras das “mil e uma noites” nos relata a história de uma verdadeira amizade. Tesouro que todos procuram, e raros o encontram.

Amir e Farid eram dois ricos mercadores, grandes amigos que sempre viajavam juntos para vender suas mercadorias.

Em uma dessas viagens, ao passarem perto de um rio caudaloso, Farid resolveu banhar-se. Em dado momento, distraindo-se, foi arrastado pela correnteza. Amir, vendo que seu grande amigo corria risco de vida, atirou-se nas águas e, com muito esforço, conseguiu salvá-lo.

Farid, chamando um de seus escravos, mandou que ele gravasse numa rocha ali existente a seguinte frase: “Aqui, dando grande prova de amizade, com risco de sua própria vida, Amir salvou seu amigo Farid.”

Ao retornarem, passaram pelo mesmo lugar, onde se detiveram para um rápido repouso. Enquanto conversavam, entraram em discussão e Amir, alterando-se, esbofeteou Farid. Este aproximou-se das margens do rio e, com uma varinha, escreveu na areia: .Aqui, por motivos fúteis, Amir esbofeteou seu amigo Farid”.

O escravo que fora encarregado de escrever na pedra o agradecimento de Farid, perguntou-lhe:

– Meu senhor, quando fostes salvo das águas, mandastes gravar aquele feito na pedra. E agora escreveis na areia o agravo recebido. Por que assim o fazeis?

E Farid respondeu-lhe:

– Os atos de bondade, de amor e abnegação devem ser gravados na rocha, para que todos aqueles que tiverem oportunidade de tomar conhecimento deles, procurem imitá-los. Ao contrário, quando recebemos uma ofensa, devemos escrevê-la na areia, próximo às águas, para que desapareça, a fim de que ninguém tenha notícia dela. E, acima de tudo, para que desapareça prontamente qualquer mágoa de nosso coração.

* * *

Bela lição!

Se uma amizade natural, sem fundamento religioso, tão comovente é, quão mais sublime ela se torna quando banhada pelas santas águas do batismo! Aí, sim, ela encontra sua justificação e toda sua dimensão sobrenatural.

O que vem a ser, então, a verdadeira amizade, cristãmente entendida?

É o amor ao próximo, vivido em todas as suas modalidades e em todas as suas conseqüências lógicas, por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo. Ou o amor ao próximo tem essa raiz e chega a esses desdobramentos, ou, a bem dizer, não existe.

A verdadeira amizade pressupõe, portanto, o amor a Deus e a renúncia ao egoísmo. Quando se tem esse estado de alma, sente-se não apenas facilidade em auxiliar a outrem, mas até alegria a alma encontra em se sacrificar pelo próximo. Procuremos, assim, o convívio de pessoas virtuosas, e encontraremos a perfeita amizade; aquela que a Sagrada Escritura louva nestes termos:

“Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro. Nada é comparável a um amigo fiel; o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé. (Eclo 6, 14- 15)

(Revista Arautos do Evangelho, Julho/2003, n. 19, p. 42-43)

 
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