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Contos Infantis


O principal doador
 
AUTOR: IRMÃ MICHELLE VICCOLA, EP
 
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No dia assinalado, o povoado inteiro se acotovelava em frente da nova Igreja Matriz. Porém, quando a placa comemorativa foi descerrada, ocorreu algo inesperado...

Adalberto era um menino inocente e bem educado. Sua afetuosa mãe, dona Carolina, tinha- lhe ensinado desde pequenino a venerar com ternura as imagens de Jesus e de Maria. E o pai, Joaquim Loveira, rico senhor de engenho conhecido pelo apelido de “O Coronel”, procurava dar-lhe exemplo de honestidade nos negócios e benevolência para com os empregados.

A propriedade de dona Carolina e o senhor Joaquim ficava a certa distância da aldeia. O pároco, padre Nicolau, visitava-a com frequência para celebrar Missa, ouvir confissões e atender os doentes. Numa dessas ocasiões, o Coronel prometeu construir uma igreja adequada para Matriz, pois a antiga capela do povoado, além de ser muito pequena, achava-se em estado bastante precário. Os aldeões entusiasmaram-se com a ideia e dispuseram-se a colaborar, ainda que fosse com

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Furioso e agitado, Adalberto dirigiu-se à pobre
mulher para pedir-lhe explicações

alguns tijolos, um pouco de argamassa ou trabalhando com seus próprios braços.

Contudo, passavam-se os anos, e, por uma ou outra razão, a construção não se iniciava.

Adalberto crescera e já acompanhava o pai nas suas viagens de negócios. Esperto e capaz, chegou a aconselhá-lo em um empreendimento mercantil, fazendo-o obter enorme sucesso. Mas, à medida que o patrimônio da família aumentava graças a seu bom tino financeiro foi ele ficando vaidoso, materialista e prepotente, relegando a segundo plano a boa formação recebida da mãe.

Vendo-se sozinho na vida, depois do falecimento do Coronel e da piedosa dona Carolina, Adalberto não se assustou: confiava totalmente em suas qualidades pessoais. Além do mais, contava com o apoio e o aplauso de muita gente. Não, porém, das boas almas pertencentes ao antigo círculo de amigos da família, afastadas de seu convívio pela sua arrogância e maus-tratos, mas de uma súcia de aduladores oportunistas. Aos poucos, tornou-se mais temido que respeitado, ao contrário do velho Coronel.

Um dia, o jovem procurou o padre Nicolau, já ancião, e lhe disse:

– Padre, decidi cumprir a promessa de meu pai: vou construir a nova Matriz.

O sacerdote ficou contente, mas desconfiado, pois conhecia bem a índole de Adalberto, que logo acrescentou:

– Só exijo uma condição.

– Qual seria, meu filho?

– Todas as despesas correrão exclusivamente por minha conta. Ninguém poderá dar sequer um tijolo, ou um quilo de argamassa… nada! Os operários também serão todos pagos por mim. Vai ser a igreja mais linda de toda a região!

– E qual o motivo para negar aos habitantes da aldeia a alegria de dar sua modesta colaboração? Todos gostariam de contribuir para a construção da Casa de Deus… Não vê que eles ficariam decepcionados?

Respondeu o jovem ricaço, cheio de orgulho:

– Porque quero colocar nela uma vistosa placa com esta inscrição: “Adalberto Loveira, único doador desta bela igreja”! Assim meu nome será lembrado por todos, no presente e no futuro!

O velho pároco, a princípio, não queria aceitar a condição; contudo, não era prudente deixar passar essa oportunidade. A igrejinha do povoado deteriorava-se cada vez mais, e tornava-se muito urgente a construção de uma nova e maior…

No domingo seguinte, após a Missa matutina, padre Nicolau deu a grande notícia aos moradores da aldeia. O aplauso foi geral, cheio de contentamento! Mas, quando lhes comunicou a condição… um véu de tristeza percorreu todos os olhares!

Logo se iniciou a construção, supervisionada por um famoso engenheiro da capital. Um competente mestre de obras dirigia os trabalhadores, e grande número de animais de carga era usado no transporte de materiais. Os fundamentos ficaram prontos em poucas semanas. As paredes eram levantadas com uma velocidade surpreendente. Os paroquianos olhavam admirados para aqueles tijolos, que já tomavam aspecto de igreja. Sem embargo, uma tristeza lhes amargava a alma: em nada podiam contribuir para edificar a nova casa do Senhor…

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Todos os dias, às escondidas, a boa senhora
dava aos animais uma porção extra de aveia

Uma pobre viúva chamada Guilhermina achava-se muito inconformada com aquela proibição. Durante anos, havia conseguido economizar algumas moedas da parca pensão deixada pelo marido e prometera solenemente aplicá-las na construção da nova Matriz. Será que uma anciã como ela não ia honrar o compromisso feito a Deus?

Então pensou consigo mesma: “O pároco proibiu-nos dar qualquer donativo para essa obra. No entanto, nada me impede de alimentar os animais que carregam em seu lombo os materiais. Eles estão bastante malnutridos e vão acabar todos doentes se alguém não lhes reforçar a ração com um pouco de aveia…”. Dito e feito. Todos os dias, às escondidas, a boa senhora dava aos animais uma porção extra de aveia, até gastar todas as suas moedas.

Afinal, a igreja ficou pronta. O jovem fazendeiro mandou colocar na fachada, junto à porta de entrada, uma grande placa de bronze, com seu nome em letras garrafais, e exigiu que, na hora de começar a cerimônia de Dedicação, ela fosse descerrada ao som dos trompetes da banda da aldeia.

No dia assinalado, o povoado inteiro se acotovelava em frente do novo templo enquanto a placa era descoberta. Porém…qual não foi a surpresa de todos, quando viram escrito nela: “Guilhermina, pobre viúva, principal doadora desta bela igreja”. Adalberto ficou pálido! O povo, no entanto, murmurava… Só Dona Guilhermina, absorta nas suas orações, nada percebera.

Furioso e agitado, Adalberto dirigiu-se à pobre mulher, para pedir-lhe explicações. Com a maior candura e sinceridade, ela narrou como alimentara os animais… Mas da placa, nada sabia.

Enquanto procurava inutilmente uma explicação para o sucedido, começou a recordar-se o arrogante jovem dos conselhos e ensinamentos de sua extremosa mãe. Vieram-lhe também à mente as palavras de Nosso Senhor aos seus Apóstolos, vendo as pessoas depositarem esmolas no cofre do Templo: “Em verdade vos digo: esta pobre viúva pôs mais do que os outros” (Lc 21, 3).

Entre lágrimas de sincero arrependimento, Adalberto pediu publicamente perdão ao povo da aldeia. Depois chamou à parte o padre Nicolau e fez a melhor confissão de sua vida.

(Revista Arautos do Evangelho, Out/2010, n. 106, p. 46-47)

 
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