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Virgem Maria


Fátima: o amor de uma Mãe
 
AUTOR: CARDEAL ANGELO SODANO
 
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Enviado por Bento XVI como Legado Pontifício às celebrações do 90º aniversário das aparições de Nossa Senhora em Fátima, o Cardeal Angelo Sodano ressaltou, em sua homilia do dia 13 de maio, a universalidade, o profundo significado e a atualidade dessas aparições.

Noventa anos se passaram daquele dia 13 de Maio de 1917, quando Maria Santíssima pousou o seu olhar sobre este lindo ângulo de Portugal, a Cova da Iria, aparecendo a Lúcia dos Santos, Francisco e Jacinta Marto, a fim de lhes confiar uma mensagem para o mundo inteiro.

Os três pastorinhos andavam entretidos a apascentar o rebanho, quando um intenso relâmpago os surpreendeu: viram sobre uma azinheira uma Senhora lindíssima, que lhes pediu oração e penitência para acabar com a guerra então em curso e valer ao mundo inteiro nas suas necessidades.

Assim começou aquela epopéia mariana que iria se prolongar por cinco meses até o dia 13 de outubro daquele mesmo ano, e que havia, em seguida, de se impor ao mundo, como é típico das obras de Deus.

Sim! Fátima triunfou da incredulidade do mundo, da oposição das autoridades e da reserva da Igreja. Com razão, o saudoso Cardeal Cerejeira, Patriarca de Lisboa, pôde afirmar: “Não foi a Igreja que impôs Fátima, mas Fátima que se impôs à Igreja”.

A atitude da Igreja

Bem depressa o bispo de Leiria se uniu às orações dos fiéis neste lugar, guiando multidões de peregrinos que se sentiam atraídos pela mensagem de Maria e pelos sinais extraordinários que a acompanhavam.

Aqui Pio XII, de venerada memória, enviou, no termo da Segunda Guerra Mundial, o Cardeal Bento Aloisi Masella para coroar, em seu nome, a estátua da Virgem Mãe; era o dia 13 de maio de 1946. Encontravam- se presentes 600 mil fiéis, quando uma coroa de ouro foi colocada sobre a cabeça desta veneranda imagem de Maria.

Já antes, num momento trágico daquele Conflito Mundial, em 13 de outubro de 1942, o mesmo Sumo Pontífice consagrara o mundo inteiro ao Coração Imaculado de Maria.

Mais tarde, por ocasião do cinqüentenário das aparições, em 13 de maio de 1967, o Papa Paulo VI, de venerada memória, quis vir como peregrino a este Santuário. E, por fim, quem não recorda a profunda devoção do saudoso Papa João Paulo II a Nossa Senhora de Fátima?

A entrega a Maria

No dia 13 de maio de 1982, ele viera a este belo Santuário agradecer a Nossa Senhora por ter escapado ao perigo de morte em que estivera depois do atentado. Aqui, o Papa do Totus Tuus fez um solene ato de entrega e consagração da humanidade a Maria, que todos bem recordamos. O mesmo ato seria por ele mesmo repetido mais tarde na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 25 de março de 1984, em união espiritual com todos os bispos do mundo.

Com voz forte e solene, o Pastor da Igreja universal colocava no Coração de Maria os destinos dos homens e das nações, movido por uma grande preocupação com a sorte terrena e eterna deles.

O servo de Deus João Paulo II voltou mais duas vezes ao Santuário: em 1991 e no ano 2000. E hoje está presente aqui o Papa Bento XVI, que quis enviar- me para representá-lo nesta solene ocorrência. Ele se encontra agora no Brasil, no grande Santuário de Nossa Senhora Aparecida, e une-se ao nosso canto das glórias de Maria.

As nossas aclamações se elevam hoje, como um arco sobre as praias opostas do Atlântico que nos une aos nossos irmãos no Brasil, todos irmanados no mesmo desejo de nos entregarmos ao Coração Imaculado de Maria acolhendo- nos à sua materna intercessão.

A maternidade de Maria

Queridos peregrinos, o Evangelho de hoje abre-nos o coração à esperança ao recordar-nos a cena pungente do Calvário em que Jesus, do alto da Cruz, diz ao discípulo amado: “Eis a tua Mãe” (Jo 14, 27).

A partir daí a Mãe de Deus tornou-se a Mãe do homem. Desde aquele momento teve início a maternidade espiritual de Maria, o mistério da sua maternidade universal, que se traduz – como toda maternidade – em amor e solicitude pela vida de cada filho.

E a Branca Senhora – como a apresentavam aquelas crianças simples de 7 a 10 anos de idade – demonstrou por elas uma predileção particular, sinal da sua amorosa preferência pelos pequeninos, os pobres e os doentes. A Mãe de Deus demonstrava assim que era também verdadeira Mãe do homem.

A mensagem de Maria

Completam-se hoje 90 anos das aparições aqui na Cova da Iria e nós queremos pedir a Maria que mostre uma vez mais

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“Fátima triunfou da incredulidade
do mundo, da oposição das
autoridades e da reserva da Igreja”

 

toda a sua solicitude materna pelos homens e mulheres do nosso nosso tempo, às vezes tentados a esquecer Deus para se prostrar diante do “vitelo de ouro” das fatuidades da terra. Maria sabe que está em risco a salvação eterna dos seus filhos e, por isso, repete o apelo de Jesus: “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 15). A mensagem de Jesus torna-se, assim, a mensagem de Maria. É um apelo forte e decidido como aquele que só uma mãe sabe fazer a seus filhos nos momentos importantes da sua vida.

A Maria fomos entregues por seu Filho na Cruz, quando este lhe disse no transe da agonia: “Mulher, eis o teu filho”; e, desde aquele momento, o seu coração de Mãe ficou aberto para nós; como aberto ficara o coração do Filho trespassado pela lança do soldado. Dois corações abertos por um mesmo amor pelo homem e o mundo.

A nossa oração

Hoje sentimos necessidade de nos dirigir a ela com a invocação dum conhecido hino da liturgia: Monstra te esse Matrem. Ó Maria, mostrai-nos que sois Mãe! Os nossos dias deixam-nos a impressão de que muitos se afastam da casa do Pai.

Nós aqui unimo-nos em súplica ao redor da Mãe, para que ilumine as suas consciências e faça regressar os filhos pródigos à casa do Pai. Uma menção particular lhe fazemos dos filhos que vivem na Europa, tentada a esquecer aquela fé que fez a sua força no decorrer dos séculos.

Nos nossos países, está em curso uma apostasia sub-reptícia, que não nos pode deixar indiferentes. Ao Imaculado Coração de Maria, entregamos hoje os destinos dos homens e dos povos do nosso continente, enquanto nos comprometemos a colocar novamente no coração da nossa sociedade aquele fermento do Evangelho que permeará a sua história ao longo dos séculos.

A fim de conseguirmos tão nobre finalidade, prometemos a Maria todo o nosso empenho para ser “o sal da terra e a luz do mundo”. Com a nossa oração, o nosso trabalho e o nosso testemunho cristão, havemos de corresponder ao apelo de Maria e, assim, favorecer a difusão do Evangelho de Cristo no mundo atual.

De fato, nós acreditamos – como diz o Concílio Vaticano II, na Gaudium et Spes nº 10 – que “a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram em […] Cristo, o mesmo ontem, hoje e para sempre”. Amém.

(Homilia no Santuário de Fátima, 13/5/2007 – Texto publicado em www.santuario-fatima.pt)

(Revista Arautos do Evangelho, Out/2007, n. 70, p. 38 e 39)

 
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