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Contos Infantis


Um chapéu para São João Bosco?
 
AUTOR: IRMÃ DANIELA AYAU VALLADARES, EP
 
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O sacerdote ficou perplexo com o pedido de Valentina, mas olhou-a com bondade e retrucou: "Minha filha, o que pode fazer São João Bosco com esse presente?".

Valentina era uma camponesa de faces coradas e transbordante vitalidade. Nascida numa cidadezinha do montanhoso Piemonte, seus pais acostumaram-na, desde menina, a descer regularmente a Turim para venerar as relíquias de São João Bosco e passar algumas horas em oração na Basílica de Maria Auxiliadora.

O ambiente recolhido e solene daquela igreja a extasiava. Tudo ali estava marcado pela presença do fundador dos salesianos e traspassado de jovial devoção a Maria Auxiliadora. São João Bosco era, sem dúvida, o santo da alegria, da fé e da confiança.

Perguntava-se também Valentina como era possível sentir tanto aconchego dentro de um prédio tão majestoso e esplêndido. E maravilhava- -se ao pensar que o grandioso edifício fora erigido sem São João Bosco contar sequer com recursos financeiros, confiando dia a dia no auxílio da Virgem Santíssima para poder continuar as obras começadas.

Embora em ponto menor, Valentina sentia uma consolação semelhante ao visitar a paróquia de sua pequena cidade, onde se veneravam duas belas imagens de Maria Auxiliadora e São João Bosco. Naquela igreja se casara e a cada filho que nascia ela o encomendava nas mãos dos dois, para que o protegessem, amparassem e guiassem pelo bom caminho. Já tinha três crianças: Angelina, a mais velha, piedosa como a mãe, e Giovanni e Giuseppe, dois gêmeos travessos como São João Bosco o fora, mas obedientes e carinhosos.

Giacomo, seu marido, era homem honesto e trabalhador. Contudo, enfermou-se gravemente e Valentina viu-se obrigada a vender doces e salgadinhos, que fazia primorosamente, para sustentar a família por longos meses. No entanto, os remédios para o esposo eram muito caros, e as dívidas se acumulavam…

Noite e dia ficava cogitando em como conseguir os meios para saldá- las. Até que teve uma ideia… Tomou um pequeno chapéu de palha e dirigiu-se com ele à igreja, onde disse ao padre Francesco:

– Vim trazer um presente para São João Bosco.

E entregou-lhe o tosco chapéu.

O sacerdote ficou perplexo, mas olhou a paroquiana com bondade e retrucou-lhe:

– Minha filha, o que pode fazer São João Bosco com esse presente?

Valentina explicou-lhe as dificuldades pelas quais sua família passava. Lembrou-lhe como São João Bosco se lançava,

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O sacerdote fez um rápido cálculo e aceitou o pedido, pois via em
Valentina muita fé e estava certo de que os outros paroquianos
não se escandalizariam

sem dinheiro, nos maiores empreendimentos, confiando que Maria Auxiliadora lhe obteria os meios. E confidenciou-lhe ter uma certeza interior na ajuda do santo, se fosse colocado aquele chapéu nas mãos da imagem.

O sacerdote estava acostumado a lidar com a simplicidade bonachona dos habitantes das aldeias da região e seu teimoso caráter. Olhou fundo para Valentina, fez um rápido cálculo e aceitou o pedido. Via nela muita fé e estava certo de que os outros paroquianos não se escandalizariam ao ver o estranho ornato na mão do santo; apenas teriam alguma surpresa. Paternal, procurou confortar a paroquiana com palavras de alento e prometeu tê-la bem pressente nas intenções das Missas dos dias subsequentes.

Ora, o plano de Valentina causou sensação na cidade! Todas as pessoas, ao entrarem na igreja, se perguntavam: por que a imagem de São João Bosco tinha esse chapéu na mão? Talvez houvesse uma necessidade na paróquia que o padre não podia revelar… E começaram a depositar nele suas oferendas.

Padre Francesco ficou admirado com a reação do povo e, a cada dia, entregava à boa senhora a quantia arrecadada pela imagem. No início, obtinham-se apenas moedas, mas aos poucos começaram a aparecer notas de certo valor. Passadas algumas semanas, Valentina já havia conseguido honrar as dívidas mais prementes; ainda restava saldar muitas outras…

Uma tarde, porém, apareceu na cidade um reputado médico de Turim. Amante da natureza, reservara boa parte das suas férias para uma longa caminhada pelo grande vale do Lanzo. E, sendo católico fervoroso, chegando a cada uma das pitorescas cidadezinhas da região, começava por visitar a igreja.

Ao entrar na paróquia do padre Francesco e ver a imagem de São João Bosco da nave lateral com um tosco chapéu de palha na mão, como pedindo esmola, não pôde reprimir um surdo brado de surpresa. Rezou um pouco diante dela e foi procurar o sacerdote, dizendo-lhe:

– Padre, sou médico em Turim e vejo haver grandes necessidades nesta paróquia. Se não fosse assim, Vossa Reverência não teria colocado o pobre São João Bosco para pedir esmolas… Diga-me, por favor, com toda confiança, como posso ajudar-lhe?

Sorrindo, o padre narrou-lhe circunstanciadamente a história da piedosa Valentina e sua singular ideia para remediar seus males. Longe de rir da simplicidade da camponesa, o médico ficou comovido e quis ir até a casa daquela família para examinar pessoalmente o doente. Verificou, assim, estar Giacomo realmente se recuperando e seguindo um tratamento correto, mas um tanto antiquado. A medicina progredira muito e já dispunha de meios para encurtar drasticamente a convalescença, usando remédios um pouco mais caros.

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Ao ver a imagem de São João Bosco com um chapéu
de palha na mão, não pôde reprimir
um surdo brado de surpresa

Tocado pela fé com que Valentina havia se posto nas mãos de Maria Auxiliadora, por meio de São João Bosco, comprometeu-se a fornecer os novos medicamentos e a arcar com todos os gastos da família, até Giacomo recuperar-se inteiramente e voltar a trabalhar.

Em troca, só fazia um pedido: quando ele estivesse curado, viajasse com a mulher e os filhos a Turim, para agradecer ao querido santo seu restabelecimento. Ele os hospedaria na sua própria casa, que não ficava longe da Basílica, e no dia seguinte participariam juntos da Eucaristia e rezariam diante das relíquias do santo.

Padre Francesco voltou para a paróquia muito meditativo e, ali chegando, apressou-se em retirar das mãos do santo aquele chapéu não muito respeitoso e já desnecessário. A Missa do dia seguinte, celebrou- a em honra a Maria Auxiliadora. E no sermão, contou o acontecido aos paroquianos, incentivando- -os a colocarem todas as suas necessidades, materiais ou espirituais, nas mãos d’Aquela que é o “Auxílio dos Cristãos”. E também nas daquele santo sacerdote que tanta devoção Lhe tivera.

(Revista Arautos do Evangelho, Novembro/2010, n. 107, p. 46-47)

 
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