Os três pastorinhos só tinham pensamentos e lembranças para a esplendorosa Senhora que lhes aparecera, e muito lhes custou esperar um mês inteiro, até chegar o momento de revê-La.

Na manhã de 13 de junho, partiram alegremente para junto da mesma azinheira onde haviam tido a visão celestial. Desta vez, porém, não estavam sós. A notícia da primeira aparição se espalhara, e pelo menos 50 pessoas já se achavam na Cova da Iria. Enquanto esperavam a hora do encontro com a Santíssima Virgem, ajoelharam-se e começaram a rezar o Terço. Ao final da oração, viram o reflexo de uma luz que se aproximava e, em seguida, Nossa Senhora sobre a azinheira.

Neste dia, a Mãe de Deus lhes recomendou que continuassem a rezar o Terço e que aprendessem a ler. Mostrou-lhes também seu Imaculado Coração cravado de espinhos, como se estivesse pedindo reparação pelos pecados cometidos no mundo.

Em seguida, diante do olhar maravilhado dos pastorinhos, a bela Senhora começou a se elevar acima do arbusto e se retirou em direção ao leste, até desaparecer.

Um mês depois, no dia 13 de julho, Nossa Senhora veio pela terceira vez. Na Cova da Iria, os pastorinhos se surpreenderam com a multidão de mais de duas mil pessoas que ali se juntura para presenciar o extraordinário acontecimento.

Por volta do meio-dia, os videntes perceberam o reflexo de luz que anunciava o início da aparição e, em seguida, viram Nossa Senhora sobre a azinheira. Como nas vezes anteriores, Ela aconselhou que continuassem a rezar o Terço todos os dias. E depois de prometer que faria um milagre na aparição de outubro, acrescentou:

– Sacrificai-vos pelos pecadores, e dizei muitas vezes, em especial sempre que fizerdes alguns sacrifício: Ó Jesus, é por Vosso amor, pela conversão dos pecadores, e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria.

“Ao dizer estas palavras, a Senhora abriu de novo as mãos, como nos dois meses passados. O reflexo [dos raios de luz pareceu penetrar a terra, e vimos como que um mar de fogo: mergulhados nesse fogo os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das fagu¬lhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam e faziam estremecer de pavor. Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa.

“Assustados e como que a pedir socorro, levantamos a vista para Nossa Senhora”.

Nesse momento, a Mãe de Deus confiou aos videntes uma das partes mais importantes da sua Mensagem, incluindo o famoso segredo (cuja terceira parte, até há pouco desconhecida do público, começou a ser revelada no final da cerimônia de beatificação dos pastorinhos). Com bondade e tristeza, a Santíssima Virgem lhes disse:

“Vistes o Inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar. Mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre.

“Para o impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz. Se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé, etc. … Isto não o digais a ninguém. Ao Francisco, sim, podeis dizê-lo.

“Quando rezardes o Terço, dizei depois de cada mistério: Ó meu Jesus! Perdoai-nos, livrai-nos do fogo do Inferno, levai as alminhas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem.”

Estava encerrada a terceira aparição. Como de costume, Nossa Senhora foi Se elevando em direção ao oriente, até desaparecer na imensa distância do firmamento. Ao contrário das vezes anteriores, os três pastorinhos se sentiam tão cansados que mal podiam permanecer de pé. Em suas memórias ficara gravada a imagem das terríveis chamas do Inferno.

(Livro Jacinta e Francisco Prediletos de Maria – Monsenhor João Clá)