Fale conosco
 
 
Receba nossos boletins
 
 
 
Artigos


Contos Infantis


Não queres aliviar meu Coração?
 
AUTOR: MARIANA IECKER XAVIER QUIMAS DE OLIVEIRA
 
Decrease Increase
Texto
Solo lectura
0
0
 
Valerie nunca se sentira mais feliz! Quando comungou, depois de tantos anos sem frequentar os Sacramentos, estava tão radiante como Jeanette, que recebia por primeira vez a Jesus Eucarístico em seu inocente coração.

Na pitoresca cidadezinha de Veynes, junto aos Alpes franceses, vivia uma família muito unida e religiosa: Pierre Blondet, o pai, Marie Anne, a mãe, e os dois pequerruchos, Jeanette e Louis. O casal era muito abastado e generoso, dando continuamente bons exemplos de caridade e auxílio aos mais necessitados.

Não era raro, por exemplo, ver os empregados do senhor Pierre levarem o pároco, na melhor carruagem do patrão, para atender camponeses enfermos ou moribundos. E a cada domingo, depois da Missa, Marie Anne atendia com carinho a todos os que vinham bater à sua porta pedindo um bocado de comida, remédio para seus males ou uma palavra de consolo.

IMAGE_03_.jpg
Nesse ano, todos esperavam
os Blondet com impaciência

Porém, o pequeno Louis sofria de asma, e quando chegava o inverno, o frio daquelas regiões fazia-o sofrer bastante. Por isso, a família havia adquirido uma bela casa na pequena cidade de Saint-Remy de Provence, próxima a Marselha, onde o clima era bem mais ameno, e para lá se mudavam nessa época.

Chegada a primavera, os Blondet retornavam para Veynes e o casarão de Saint-Remy ficava sob os cuidados de Valerie, uma jovem governanta muito honesta e trabalhadeira, que mantinha com esmero a casa da nobre patroa.

Logo que o outono começava a manifestar sinais de seu término, muitos braços se ofereciam para ajudar Valerie na limpeza da casa, a fim de bem receber tão querida família. Faziam uma faxina geral, lavando cortinas e tapetes, limpando móveis e almofadas, tirando as teias de aranha acumuladas pelo tempo, deixando tudo limpo e perfumado. E não se esqueciam do jardim, onde ainda era possível encontrar algumas flores coloridas.

Naquele ano, todos esperavam os Blondet com impaciência, porque a pequena Jeanette ia fazer sua Primeira Comunhão na Matriz. Valerie, entretanto, não se sentia tão alegre… Apesar de muito honrada e competente, não era nada piedosa. Nunca ia à Missa aos domingos, não gostava de rezar, e nem se lembrava de quando se havia confessado pela última vez… Apenas pisava na igreja para acompanhar a patroa e, nessas ocasiões, ficava sempre no fundo e distraída. Afinal, chegaram os viajantes e as crianças logo correram para o jardim, para ver as flores e brincar com o cachorrinho Rex, que os esperava pulando de alegria, enquanto balançava agitadamente o rabinho. A senhora Marie Anne respirou comprazida o ar perfumado da habitação e logo se dirigiu aos seus aposentos e aos das crianças. Agradada com a ordem e limpeza, voltou-se para a governanta e disse-lhe:

– Valerie, estou realmente encantada com tudo o que fazes em minha ausência. Quero dar-te uma pequena retribuição por teu bom trabalho.

E entregou-lhe uma vistosa caixa, contendo um belo vestido bordado com as melhores linhas de seda. Uma verdadeira obra de arte!

– Madame, muito obrigada! Mas não mereço tanto… – replicou a governanta.

– É para acompanhar-nos, no próximo domingo, à Missa de Primeira Comunhão de Jeanette.

IMAGE_01_.jpg
“Minha filha, esta espada simboliza a dor
que sinto ao ver-te fechar a alma para as
graças que te concedo”

Valerie percebeu não ser possível ficar no fundo da igreja, dessa vez… Mas não importava, pensou ela, assim apareceria melhor diante de suas amigas, que iam morrer de inveja ao vê-la tão elegante…

Na véspera da cerimônia, Marie Anne avisou que sairiam mais cedo, porque o esposo e ela queriam confessar-se antes da Missa. Jeanette já o havia feito no dia anterior, e o pequeno Louis ainda não tinha idade para isso.

– Confessar-se? – pensou Valerie – Para que essa bobagem? Até parece que Deus fica ressentido com o que fazemos…

Contudo, não disse nada. E, na manhã do domingo, estava pronta bem cedinho, com seu belo vestido novo e um penteado todo especial, imaginando todos os olhares dirigindo-se para ela, quando entrasse na igreja…

Valerie não se enganara. Suas amigas, ao vê-la chegar, fitaram-na com admiração e começaram a cochichar sobre seu novo vestido! Não cabendo em si de vaidade, a governanta procurava aparentar indolência enquanto se dirigia lentamente para a sacristia com o casal Blondet.

Ali havia algumas pessoas esperando sua vez para receber o Sacramento da Reconciliação, e para não dar impressão de estar ela também querendo confessar-se, Valerie se afastou em direção a uma imagem do Imaculado Coração de Maria que havia no lado oposto, fingindo rezar.

Entretanto, seus olhos se fixaram no coração da Virgem, cercado de espinhos e atravessado por uma espada. Era curioso… Ela conhecia essa imagem desde sua infância, mas não se lembrava daquela adaga. Levantou então os olhos para a fisionomia de Nossa Senhora e, vendo nela uma incomum expressão de tristeza, ouviu uma voz a lhe dizer:

IMAGE_02_.jpg
Entre lágrimas, Valerie confessou
suas faltas ao bom pároco

– Minha filha, tu estranhas esta espada? Pois ela simboliza a dor que sinto ao ver-te fechar a alma para todas as graças que te concedo. Não queres aliviar meu Coração? Arrepende-te, confessa-te e faze o firme propósito de mudar de vida. Eu estarei a teu lado para ajudar-te!

Valerie não soube explicar o que se passou… Quando se deu conta, estava de joelhos, confessando, entre lágrimas, as suas faltas ao bom pároco, o qual lhe dizia:

– Vê, filha, passas todo o ano arranjando com esmero a casa da senhora Blondet, para deixá-la satisfeita quando chega. Agora, fizeste algo muito melhor: preparaste tua alma com todo cuidado para receber o Rei dos reis, que há tanto tempo espera para entrar em teu coração.

A governanta nunca se sentira mais feliz! Terminada a confissão, olhou para a imagem de Maria e viu-a risonha e luzidia, sem a espada que antes lhe feria o Coração. E quando comungou, depois de tantos anos sem frequentar os Sacramentos, sentia-se tão radiante como Jeanette, que recebia por primeira vez a Jesus Eucarístico em seu inocente coração.

Marie Anne havia acompanhado discretamente o acontecido na Sacristia e estava emocionada. Juntas, comemoraram a dupla festa. A boa governanta mudou completamente de vida e os habitantes de Saint-Remy, ao tomarem conhecimento da inesperada conversão, cresceram ainda mais em fervor e devoção a Maria Santíssima, pois Ela nunca desampara aos que são d’Ela, e chama a Si até mesmo aqueles que já A abandonaram.

(Revista Arautos do Evangelho, Maio/2011, n. 113, p. 44-45)

 
Comentários