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Palavra dos Pastores


Que força salvará o mundo?
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Vivemos hoje um déficit de esperança no futuro, um sentimento de insegurança. Como em Caná da Galileia, Jesus precisa de instrumentos e colaboradores para levar ao mundo a Boa Nova.
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“As bodas de Caná” – Retábulo-mor da Catedral de Oviedo (Espanha)

Dom Manuel Pelino Domingues
Bispo de Santarém, Portugal

Revelação da glória de Deus. Na narrativa das Bodas de Caná, apresenta-nos São João a primeira intervenção de Jesus. Uma intervenção admirável que manifesta a glória de Jesus na qual transparece a glória de Deus, relacionada com a alegria de um banquete de casamento. O Mestre transforma a água em vinho e o vinho representa a alegria de viver, a amizade, o amor. O vinho da alegria não se compra, é dom de Deus, é oferecido pelo Messias a todos nós.

O vinho das Bodas de Caná representa o próprio Cristo

A primeira intervenção de Jesus é também exemplar para a revelação de Deus. Deus manifesta-Se como alguém que convida para a alegria. Nós somos os convidados do Pai para o banquete de seu Filho, como afirma o Apocalipse: “Felizes os convidados para o banquete das bodas do Cordeiro” (Ap 19, 9). O vinho da alegria das Bodas de Caná é a representação do próprio Cristo, que veio realizar a nova aliança e Se tornou presente no pão e no vinho consagrados.

A glória de Deus, dizia Santo Ireneu, é o homem vivo, o homem feliz, com alegria, em paz consigo mesmo, com a vida e com os outros. E a vida do homem, acrescentava, é a contemplação de Deus. A glória divina não se revela na majestade que afasta, ou no castigo que infunde medo, mas no amor que se aproxima, solidariza e salva das dificuldades concretas.

A glória de Deus manifesta-se na Encarnação de seu Filho que Se despoja da sua condição divina para Se tornar próximo e solidário com todos os homens: “O Verbo fez-Se carne e habitou no meio de nós. E nós vimos a sua glória, a glória que possui como Filho unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1, 14).,

Os discípulos viram a glória de Jesus manifestada na solidariedade com os noivos e na partilha da alegria do banquete. Este convívio torna-se o sinal da Nova Aliança que Ele vem estabelecer conosco, aliança gravada no íntimo do coração que leva a uma relação íntima: “Quem Me ama viverá em Mim e Eu nele”. Um gesto que leva a compreender a novidade do Evangelho e o caminho novo proposto aos discípulos de Cristo: “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 13, 34).

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Dom Manuel Pelino, durante sua
homilia em Fátima

Por isso a Igreja ensina os seus fiéis a cantar um cântico novo, o canto da alegria, da paz e da consolação como nos convidava o texto de Isaías: “Alegrai-vos com Jerusalém, rejubilai com ela, vós todos que a amais” (Is 66, 10).

Nossa vida cristã depende da prática do amor

“Manifestei a tua glória, fazendo a obra que Me destes a realizar” (Jo 17, 4), disse Jesus na despedida. A obra de Jesus resume-se no testemunho da glória de Deus. Entregou à comunidade dos seus discípulos, à Igreja, a continuação da sua missão de manifestar ao mundo a glória de Deus. A luz que recebeu do Pai deve transparecer no rosto da Igreja, cidade situada no cimo do monte, para iluminar à sua volta. “Vós sois a luz do mundo! […] Brilhe a vossa luz diante dos homens de modo que vendo as vossas boas obras glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus” (Mt 5, 14.16).

Testemunhamos a glória de Cristo pela prática do amor fraterno. Pelas boas obras será avaliada a vida de discípulos: “Vinde benditos de meu Pai […] tive fome e deste-Me de comer, tive sede e deste-Me de beber, estive nu e vestiste-Me, estive doente e na prisão e visitaste-Me” (cf. Mt 25, 34-36). A realização ou o fracasso da nossa vida cristã depende da prática do amor.

O amor de Cristo é a única beleza que salvará o mundo

Os tempos de crise que atravessamos são um apelo a intensificar a prática do mandamento novo. Enfrentamos, de fato, uma crise que, como todos reconhecem, não é só econômica e financeira. Vivemos, igualmente, um déficit de esperança no futuro, um sentimento de insegurança, uma sensação de desconfiança nas promessas e cálculos econômicos. A crise econômica é reflexo e consequência de uma crise mais ampla, espiritual e ética. É o saldo da ganância, do consumismo, do egoísmo e da vaidade.

Para vencer a crise precisamos mudar de estilo de vida, de seguir um caminho novo e de cantar um cântico novo. Que força salvará o mundo? O amor de Cristo é a única beleza que salvará o mundo. Como consequência da convicção de que Deus nos ama, esforçamo-nos por amar, por levar alegria onde há tristeza, por irradiar luz onde as trevas ameaçam, por dar atenção ao outro quando a indiferença predomina.

Jesus precisa de instrumentos e colaboradores

O esquecimento de Deus na cultura contemporânea tem provocado o esquecimento do homem e diluído a responsabilidade por construir um mundo mais humano, justo e saudável. A ausência de Deus repercute-se na ausência de referências éticas e no empobrecimento de valores humanos. A glória do homem, que Santo Ireneu colocava na contemplação de Deus, é hoje procurada, frequentemente, por caminhos que desviam do Criador e Salvador, caminhos de vaidade, de avidez de bens e prazeres, de corrupção que escraviza.

Quando se perde a correspondência entre a glória de Deus e a glória do homem, desmorona-se o fundamento da dignidade humana. Este desvio torna mais urgente o testemunho cristão de manifestar ao mundo a glória de Deus Pai e Criador, fundamento sólido para a verdadeira grandeza e realização da pessoa humana.

Como em Caná da Galileia, Jesus precisa de instrumentos e colaboradores para levar ao mundo a Boa Nova do amor que salva. Nós somos as talhas onde Deus pode manifestar a sua glória se encontrar no nosso coração a água viva do Espírito Santo. Invoquemos o Espírito Santo e deixemo-nos conduzir pela sua inspiração, para vencermos a secura do egoísmo e da indiferença e produzirmos os frutos espirituais: caridade, alegria, paz, paciência, benignidade… Então poderemos cantar com Maria um cântico novo: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador. O Todo poderoso fez em Mim maravilhas. Santo é o seu nome”.

(Homilia da Peregrinação Internacional, Fátima, 13/7/2011) – Revista Arautos do Evangelho, Set/2011, n. 117, p. 38-39

 
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