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Nosso sofrimento, a raiz da glória
 
AUTOR: MONS. JOÃO SCOGNAMIGLIO CLÁ DIAS, EP
 
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Embora o sofrimento cause repugnância à nossa natureza é nele que se encontra a porta da autêntica felicidade. E no amor ao próximo o sinal característico do cristão.

A verdadeira glória só nasce da dor

O Evangelho apresenta um trecho do discurso de despedida de Nosso Senhor na Santa Ceia. Nesse momento auge, em que Ele instituía para os séculos futuros o Sacramento da Eucaristia – o mais precioso de todos os Sacramentos, no que diz respeito à substância -, tinha diante de Si um assistente de péssimas intenções: Judas, o traidor.

31 Depois que Judas saiu do cenáculo, disse Jesus: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. 32 Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo”.

À primeira vista, o versículo parece incompreensível. Qual é o momento, o agora, em que Nosso Senhor diz que é glorificado? É quando Judas abandona de forma definitiva o convívio do Colégio Apostólico, a fim de entregar o Salvador aos poderes deste mundo, para ser julgado e morto.

Jesus, em sua natureza divina, tinha pleno conhecimento de todas as dores pelas quais iria passar, a ponto de transpirar Sangue no Horto das Oliveiras. Perante a perspectiva da traição, porém, ficou “perturbado em seu espírito” (Jo 13, 21), pois, mesmo tendo em sua personalidade divina a ciência daquele instante, desde toda a eternidade, no que dizia respeito aos meros sentimentos humanos ainda não sofrera a experiência da deslealdade, o que dilacerou seu instinto de sociabilidade.

Cristo recebeu aquela ingratidão com equilíbrio perfeito, num estado de espírito plenamente resignado. Contudo, enquanto sofria, veio-Lhe também o consolo, porque sabia ser através dessa aceitação que iniciaria sua glória.

O Pai queria a maior glória para o Filho

sofrimentoA partir do momento em que Nosso Senhor – Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e, ao mesmo tempo, Homem perfeitíssimo com a alma na visão beatífica, dotado de ciência infusa e de conhecimento experimental – deu seu pleno consentimento à Paixão, essa glória se realizou. Sua exaltação consistiu em ser preso, passar por todos os tormentos da condenação, subir ao Calvário e ali derramar todo o Sangue.

O sofrimento bem aceito, amado e assumido Lhe obteve o triunfo. Isso significa que o cumprimento dos desígnios do Pai não exigia a magnificência do corpo glorioso, os esplendores de um poder terreno ou uma exaltação da parte dos homens, mas apenas a conformidade com a dor.

Ademais, estava Nosso Senhor ciente de que o fim não era a morte, e sim a Ressurreição e a Ascensão aos Céus, onde receberia a definitiva glorificação por haver cumprido sua missão redentora. Reciprocamente, o Pai também seria glorificado, porque Ele e o Filho são um. Era essa união substancial que permitiria, pela aceitação do sofrimento tal como este se apresentava, que Jesus enaltecesse Aquele que O enviara.

Nossa glória também deve estar no sofrimento

Uma análise mais profunda dos padecimentos de Cristo indica que nossa glória também é obtida pelo sofrimento.

sofrimentoQuantas vezes a graça nos inspira a trilharmos uma determinada via, que passamos a percorrer com entusiasmo, na qual, entretanto, surgem dificuldades. Diante do sofrimento nunca devemos desanimar. Pelo contrário, quando a cruz se apresentar, cabe-nos imitar Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, ajoelharmo-nos para oscular o instrumento de nossa amargura e pô-lo aos ombros com determinação, certos de que assim se inicia o caminho da nossa glória.

Nesse sentido ensina com sabedoria São Francisco de Sales: “Quão felizes são as almas que […] bebem corajosamente o cálice dos sofrimentos com Nosso Senhor, que se mortificam carregando sua cruz, e que sofrem e recebem de sua divina mão toda sorte de acontecimentos, com submissão e amor, conforme o seu beneplácito”. O mesmo Doutor da Igreja ainda comenta: “O sofrimento dos males é a mais digna oferta que podemos fazer Àquele que nos salvou sofrendo”.

Os dramas que temos de enfrentar são indispensáveis para a conquista da eternidade feliz. Ao aceitarmos um sofrimento com toda resignação, amor e piedade, introduzimos na alma a paz. Dessa forma fazemos calar o egoísmo e manifestamos, não só por palavras, mas também por atos, o desejo de ir para o Céu.

Cheios de contentamento, conformemo-nos com a vontade de Deus. Estejamos certos de que tudo o que nos acontece visa ao bem de nossas almas, pois Ele não pode querer para nós o mal.

“É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus”

Consideremos com alegria que estamos nesta Terra apenas de passagem, pois, se nela permanecêssemos para sempre, os tormentos iriam variando e se sucedendo indefinidamente. Portanto, para aqueles que enfrentam bem a prova à imitação de Nosso Senhor, a morte significa ter chegado o momento de descansar. Por isso canta a Igreja na Liturgia dos defuntos: “requiescant in pace – descansem em paz”.

Não foi outro o ensinamento de São Barnabé e São Paulo aos fiéis de Antioquia, contemplado na primeira leitura desta Liturgia: “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus” (At 14, 22). Por outro lado, a ausência do sofrimento significa a perda de uma valiosa oportunidade para comprovarmos o quanto somos contingentes e dependemos de Deus. Nós existimos apenas porque Ele nos sustenta no ser, a cada instante. Dessa dependência só nos compenetramos pela dor, pois ela mostra a nossa pequenez e nos leva ao reconhecimento de que necessitamos de um Bem infinito, não existente em nós.

(Revista Arautos do Evangelho, Abril/2013, n. 136)

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