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Virgem Maria


Crescimento “ex opere operantis”
 
AUTOR: MONS. JOÃO CLÁ DIAS, EP
 
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Mediante as boas obras

Antes de tudo, a Virgem Santíssima, com suas obras boas, aumentou desmesuradamente o tesouro de graça recebido em sua Imaculada Conceição.

Suas boas obras, durante toda sua vida, foram objetivamente as mais excelentes, subjetivamente as mais perfeitas, numericamente as mais incontáveis: foram, portanto, singularmente eficazes para aumentar o tesouro já quase sem limites de sua graça santificante.

– Objetivamente as mais excelentes

Suas obras boas foram, primeiro, objetivamente as mais excelentes. Com efeito, o ato tira, antes de tudo, do objeto sua excelência, de modo que será tanto mais excelente quanto mais excelente for o objeto.

Ora, a excelência objetiva dos atos de virtude de Maria, de suas boas obras, foi sobremodo singular. Toda sua vida, com relação à atividade espiritual, poderia dividir-se com razão em três grandes períodos. O primeiro: de sua Imaculada Conceição até a Encarnação do Verbo; o segundo: da Encarnação do Verbo até a Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo; o terceiro: da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo à gloriosa Assunção da Virgem. No entanto, não é realmente muito fácil dizer-se quais os atos excelentes de virtude que Ela praticou no curso desses três períodos.

Apenas para tentar um esboço, podemos dizer que no primeiro período prevaleceram os atos da vida contemplativa, especialmente. Recolhida ao Templo, segundo a Tradição, na tenra idade de três anos, aí permaneceu até os quinze, íntima e perenemente unida a Deus por meio da mais sublime contemplação, na qual se abrasou tanto sua caridade, que assim se preparava convenientemente para a altíssima dignidade de Mãe de Deus à qual estava predestinada ab aeterno.

No segundo período, predominaram em Maria, antes os atos da vida ativa, estando Ela ocupada mais diretamente no serviço de seu Divino Filho. Os atos de caridade e das outras virtudes, praticados neste longo período, são mais fáceis de imaginar do que descrever. Basta lançar um rápido olhar sobre a vida de Jesus, as vicissitudes de sua infância, suas ocupações, seu apostolado, sua paixão dolorosa, sua morte ignominiosa na cruz, para se poder formar ima idéia, embora pálida, dos atos de virtude praticados por sua divina Mãe.

No terceiro período, enfim, tornam a prevalecer os atos da vida contemplativa. E que sublime contemplação. Que êxtases dulcíssimos! Que aspirações e como se lançava em Deus seu Coração, no Coração de seu Deus! Nem por isso, contudo, descurou das atos da virtude ativa, pois, enquanto se achava toda absorta na contemplação de seu amado Bem, atendia, como Rainha dos Apóstolos, com zelo singular, às funções de uma vida toda apostólica.

Na existência da Virgem Santíssima, portanto, encontramos reunidos todas as características, toas as perfeições, todos os méritos da vida ativa e da contemplativa; encontramos n’Ela as duas asas da águia dadas à mulher coroada de estrelas, figura evidente da Mãe de Deus; n’Ela, aquela águia grande e forte, de asas abertas, descrita por Ezequiel, que arrancou vôo até os píncaros do Líbano e aí se fartou com a medula do cedro, isto é, por meio da excelência das boas obras alcançou o vértice supremo da graça.

– Subjetivamente perfeitíssimas

Se as obras boas praticadas por Maria foram tão excelentes enquanto consideradas em sua objetividade material, que se deverá dizer de sua perfeição subjetiva, ou seja, do fervor de caridade, da pureza da intenção em geral, das disposições santíssimas com que foram realizadas?

Mesmo as obras de um pobre homem, embora sejam de pouca monta em si mesmas, isto é, em sua objetividade, se forem praticadas com grande fervor de caridade, diante de Deus, que pesa mais o modo como se dá do que o que se dá, são bem mais preciosas e meritórias do que as obras mais esplendidas de outra pessoa, por mais importante que seja, porém realizadas sem ou com pouco fervor. Ora, os atos da Virgem Santíssima foram excelentes em sumo grau não só objetivamente, mas também subjetivamente, em razão do ardor indizível da caridade, das disposições perfeitíssimas, com que foram realizados. Nenhuma obra externa, nem o mínimo movimento interior se verificava n’Ela que não fosse fervoroso e perfeito. Ela operava sempre com toda a intensidade do amor. Quem poderá, portanto, dizer quando Ela cresceu sem cessar, mesmo sob este aspecto, na graça?

– Numericamente incontáveis

Enfim, note-se o número realmente impressionante dessas obras boas tão perfeitas, tanto objetiva quanto subjetivamente, e, portanto, o número sempre crescente dos méritos, correspondente ao número dos atos bons. Desde sua Imaculada Conceição até sua gloriosa Assunção, isto é, desde o primeiro até o último instante de sua existência terrena, não houve uma hora, um só momento, um só instante, em que não tivesse aumentado seus méritos. Quase sem interrupção apreciável, com a mente fixa em Deus, pensava em coisas divinas e, tendo o pleno domínio de seus atos, não sofria jamais distração alguma, nem mesmo involuntária. Cooperava continuamente, de um modo admirável, com a graça divina.

Nunca houve na Santíssima Virgem um ato meritório imperfeito ou remisso. Isto teria sido uma imperfeição moral, uma menor generosidade em seu serviço de Deus, e, como vimos, os teólogos estão de acordo em negar-Lhe esta imperfeição.

Os méritos de Maria, portanto, obtinham imediatamente o aumento de caridade a que faziam jus, e eram, por isso mesmo, cada vez mais perfeitos. Seu coração puríssimo se dilatava, por assim dizer, sempre mais, e sua capacidade divina crescia, conforme as palavras do Salmo: Corri, Senhor, nos caminhos de teus mandamentos, quando dilataste meu coração (SI. CXVIII, 32).

Todos os instantes da Virgem foram, portanto, meritórios no grau mais perfeito.

– Crescimento uniforme e acelerado

Postos estes atos inumeráveis de virtude, tão perfeitos objetiva e subjetivamente, em que proporções crescia a Virgem Santíssima na graça santificante?

Diante de tal pergunta, a mente humana vacila e quase fica sem rumo. Muitos teólogos marianos, tendo à frente Suárez, nos dizem que os graus de graça e de santidade (a que correspondem os graus do mérito) foram pelo menos duplicados a casa ato seu de virtude. De sorte que se Ela, por exemplo, quando fez o primeiro ato de virtude, não tinha senão um só grau de graça, depois desse ato bom passara ao menos a ter dois graus, isto é, passara a ser duas vezes santa; depois do segundo ato de virtude que Ela tivesse feito, teria passado a possuir quatro graus de graça; depois do terceiro, oito; depois do quarto, dezesseis; depois do quinto, trinta e dois; depois do sexto, sessenta e quatro … E assim por diante.

Como quer que seja, é certíssimo que totalmente incalculável terá sido a graça a que chegou Maria ao termo de sua vida terrena.

A este propósito, acrescenta o Fr. Garrigou-Labrange:

Na vida dos santos, o progresso do amor é muito mais rápido – e isto é coisa clara – durante seus últimos anos que ao começar. Caminham espiritualmente não com passo uniforme, mas apressado, apesar do entorpecimento da ancianidade: sua juventude espiritual se renova como a da águia (SI. CII, 5).

Esse progresso cada vez mais rápido existiu sobretudo, na vida da Santíssima Virgem aqui na Terra, porque não encontrava nenhum obstáculo, nenhuma detença ou atraso. Nenhum impedimento nas coisas terrenas ou n’Ela mesma. E esse progresso espiritual de Maria era tanto mais intenso quanto maior foi a rapidez inicial ou a graça primeira. Houve, pois, em Maria, uma aceleração maravilhosa do amor de Deus, da qual é muito pálida imagem a lei da gravidade.

 (CLÁ DIAS, JOÃO. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. Artpress. São Paulo, 1997, pp. 464-468)

 
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