Artigos


Espiritualidade


O exemplo dos esquilos
 
AUTOR: PE. RYAN FRANCIS MURPHY, EP
 
Decrease Increase
Texto
Solo lectura
0
0
 
Em boa parte da Europa, e praticamente em toda a América do Norte, não há criança que não tenha se entretido com um dos mais encantadores e pitorescos animaizinhos existentes neste mundo...

 

Uma das experiências marcantes que se tem na infância consiste, sem dúvida, nos primeiros contatos travados com os animaizinhos, domésticos ou não, com os quais as crianças sempre buscam fazer “amizade”. A pequena Santa Catarina Esquilo do Parque da Rainha-Toronto.jpgLabouré encantava-se em alimentar as brancas pombas que esvoaçavam em torno de sua casa; o bom e comunicativo menino chamado João Bosco já exercitava seu inato desejo de ajudar e proteger, acudindo os cãezinhos vira-latas que perambulavam em sua rua.

Em boa parte da Europa, e praticamente em toda a América do Norte, não há criança que não tenha se entretido com os mais encantadores e pitorescos animaizinhos existentes neste mundo: os esquilos.

Extremamente versáteis, pode-se vê-los subindo e descendo pelas árvores, com uma agilidade que parece desafiar a lei da gravidade. Ora invadem a área reservada para alimentação dos pássaros, a fim de roubar-lhes as sementes, ora saltam em meio às folhas do outono, buscando o melhor lugar para esconder uma valiosa noz.

Sua longa cauda em pluma balança para todas as direções, sempre com elegância e distinção. E quando chove ou neva, eles a usam como um prático guarda-chuva, a protegê-los de modo eficiente contra as gotas e flocos.

Não é fácil conquistar-lhes a amizade. Se os esquilos cinzentos, que conseguem viver nas cidades, já são ariscos, ainda mais os pequenos e rapidíssimos chipmunks, (os famosos esquilos listrados), que só vivem nos bosques.

Um meio de atraí-los é deixar do lado de fora da casa de campo algum tipo de noz. No início, longe das construções; depois, cada dia um pouco mais perto. Se tudo correr bem, após certo tempo o pequenino e aveludado esquilo, com seus grandes e desconfiados olhos negros, estará à nossa janela de manhã, à espera de sua quota diária de sementes.

Fizemos certa vez uma experiência interessantíssima, ensinada por um sacerdote amigo que tinha o dom de captar a confiança dos elusivos esquilos. Colocamos no beiral da janela, separadas, variadas espécies de sementes: avelãs, nozes, amêndoas e amendoins. Pouco tempo depois, farejando algo apetitoso, apareceu nosso felpudo amiguinho. Observou atentamente a todas, em seguida apanhou com os dentes a noz e saiu na disparada, para escondê-la em local seguro. Voltou logo após, pegando dessa vez a amêndoa. E assim sucessivamente, levando todas em perfeita ordem, desde a mais valiosa até a mais comum. Por fim, pegou os corriqueiros e baratos amendoins.

Transcorridos os anos, e atingida a idade adulta, não é raro acontecer que, em meio às desilusões da existência, as pessoas esqueçam os úteis ensinamentos aprendidos nos doces anos da infância.

Esquilo do Parque da Rainha,Toronto - Canadá.jpg
Fotos: Gustavo Kralj

Um menino, ou uma menina, que tivesse observado o proceder dos esquilos poderia, sem dificuldade, tirar uma sábia lição para toda a sua vida. Esses animaizinhos invariavelmente escolhem primeiro o melhor e mais importante, e só depois tomam o secundário, o de menor valor. Parece algo muito simples, mas, infelizmente, não é o que sempre fazemos.

Sabemos e admitimos como certo que Deus existe. Conhecemos seus mandamentos. No entanto, quantas e quantas vezes não é Ele o último personagem nas cogitações do homem comum? Ao tomar uma decisão, ou ao desejar algo, não é mais freqüente alguém pensar primeiro no prestígio, no prazer ou nas vantagens pessoais que esta ou aquela situação lhe trará? E como é rara a seguinte preocupação: “Será isso o que Deus quer de mim?”

Sim, para nossa dor, no mais das vezes, agimos com menos discernimento do que os esquilos. Agarramos primeiro o menos importante – o terreno – e deixamos para depois, às vezes para nunca, o mais valioso: o celeste. Eis aí a razão de tantas das tristezas e amarguras que afligem nossa pobre humanidade.

Os versáteis esquilos não possuem propriamente inteligência. Mas se lhes fosse dado falar, quem sabe, saltando no beiral de nossa janela, um deles não viria repetir-nos o ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Criador dos homens e dos esquilos: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6, 33).² (Revista Arautos do Evangelho, Junho/2007, n. 66, p. 50-51)

 
Comentários