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Tesouros da Igreja


O Santuário do Monte Tibidabo
 
AUTOR: PE. MANUEL RODRÍGUEZ SANCHO
 
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Na longa viagem de trem até Barcelona, São João Bosco teve um de seus proféticos sonhos: via um monte sobre o qual se levantava um magnífico templo.

Desde a época em que Carlos Magno a reconquistou dos muçulmanos, Barcelona, na Espanha, ostenta o título de “Cidade Condal”, e hoje em dia é uma enorme e cosmopolita urbe que, como tantas, não deixa de sofrer os efeitos colaterais de um acelerado progresso.

Dinâmica e empreendedora, a burguesia catalã subiu com decisão, já no início da Revolução Industrial, naquele complexo século XIX. E foi nesse mesmo período que surgiram alguns dos maiores santos catalães: Santo Antônio Maria Claret, Santa Teresa de Jesus Jornet, Santo Henrique de Ossó, Santa Joaquina Vedruna e o Beato Francisco Palau y Quer, para mencionar só estes.

Sem dúvida, ao suscitar tantas almas eleitas, a Providência respondia às necessidades espirituais do povo católico, em meio às turbulências de um século marcado por tantas e muitas vezes dolorosas transições.

Mas ainda assim, havia a falta de um símbolo, de um elemento de beleza incontestável que marcasse essa época de ascensão da modernidade com o selo de um Cristianismo que não só pôde permanecer, mas ousou crescer e afirmar a vitória da fé sobre as coisas terrenas.

E isto surgiu de maneira milagrosa, no abençoado Santuário de Tibidabo.

O Monte Tibidabo

Quem se aproxima da cidade pelo mar, observa uma bonita serra que a envolve como um manto verdejante, aliviando a enorme concentração de edifícios, e pacifica os nervos, agredidos pelo trepidante tráfego. Ascendendo por suaves ondulações, chegamos ao ponto mais alto, chamado Monte Tibidabo.

“Tibidabo” provém da união de duas palavras latinas tomadas do Evangelho: tibi dabo (te darei). Elas recordam a terceira tentação de Satanás a Jesus no deserto: “Te darei tudo isso, se prostrado me adorares” (Mt 4, 9). Os monges Jerônimos imaginaram que o diabo poderia ter tentado Jesus, oferecendo-Lhe do alto desse monte todas as riquezas da cidade de Barcelona… Esse nome prenunciava já seu destino religioso e providencial, que haveria de culminar com a doação feita por doze cavalheiros barceloneses, e aceita por um santo em 1886.

Um sonho de Dom Bosco

Em 8 de abril de 1886 chegava à Cidade Condal São João Bosco, com o objetivo de consolidar o novo colégio salesiano de Sarriá e conseguir auxílio para o Templo do Sagrado Coração de Jesus, que ele estava construindo em Roma por encargo do Papa Leão XIII.

Na longa viagem de trem, Dom Bosco teve um de seus proféticos sonhos: via um monte sobre o qual se levantava um magnífico templo; ao mesmo tempo, o ruído compassado do trem lhe sugeria constantemente uma frase latina: “Tibi dabo! Tibi dabo! …”

No último dia de sua estadia em Barcelona, 5 de maio, quando foi agradecer à padroeira da cidade, Nossa Senhora das Mercês, os bens recebidos nessa visita, recebeu das mãos de doze distintos e importantes cavalheiros barceloneses um pergaminho no qual diziam:

“Para perpetuar a lembrança de vossa visita a esta cidade, reuniramse estes senhores, e de comum acordo, determinaram ceder-vos o cume do Monte Tibidabo. Isso para que, no alto do mesmo, que ameaça converter- se em uma fonte de irreligião, seja levantado um santuário dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, a fim de manter firme e indestrutível a religião que com tanto zelo e exemplo nos tendes pregado, e que é nobre herança de nossos pais.”

Dom Bosco, já ancião, ficou comovido, e agradecido lhes respondeu:

“Sois instrumentos da Divina Providência, porque cumpris seus inescrutáveis desígnios. Quando saí de Turim, pensava comigo mesmo: ‘Agora já está quase terminada a igreja do Sagrado Coração de Jesus em Roma, preciso estudar outra empresa para honrar e propagar esta tão salutar devoção’. E uma voz interior me tranqüilizava, pensando que aqui poderia satisfazer meu desejo; era una voz que me repetia: ‘Tibi dabo! Tibi dabo!’ Sim, senhores, com vossa ajuda, logo se levantará neste monte um majestoso santuário dedicado ao Sagrado Coração, no qual todos poderão aproximar-se dos santos Sacramentos, e será perpétua lembrança de vossa caridade e de vosso afeto à religião católica.”

A ermida e as primeiras romarias

Em 30 de maio foi iniciada a construção de uma pequena ermida, custeada por uma piedosa dama barcelonesa: a venerável Dona Dorotea de Chopitea. Em 3 de julho ela foi abençoada, e já se celebraram Missas no domingo seguinte.Infelizmente, depois disso houve várias tentativas de certos governantes anticristãos, de desviar seu uso para “fins de utilidade pública”. Mas o fervor dos barceloneses logrou impedi- lo.

Já no ano seguinte, 1887, se formou um movimento popular: na segunda- feira de Pentecostes, começou uma romaria que, pelo fato de os participantes recolherem flores silvestres ao longo do caminho, recebeu o nome de Romaria dos Ram (ramos, em catalão). Ficou tão arraigado o costume dessa romaria que nem sequer durante os anos da sangrenta Guerra Civil Espanhola, deixou de celebrar-se, ainda que de maneira simulada. O cume mais alto de Barcelona havia sido conquistado definitivamente para Nosso Senhor Jesus Cristo.

A realização de um sonho

No ano de 1902, o Cardeal Casañas, Bispo de Barcelona, ao colocar a pedra fundamental do santuário, disse: “Santificar a montanha do Tibidabo, dedicando-a ao adorável Coração de Jesus, é, sem dúvida, a melhor reparação que se pode oferecer a Deus por parte de Barcelona, pelas ofensas de todo tipo que contra Ele se cometem em nossa cidade. O Sagrado Coração de Jesus se levantará neste cume como eficaz pára-raios que, desarmando os raios da Divina Justiça irritada por nossos pecados, os converterá em centelhas de misericórdia que comovam e em seu amor incendeiem todos os homens”.Em 1911 se inaugurou a cripta, mas a grande penúria econômica tornou muito lento o avanço das obras. Curiosamente, não foi nenhuma grande fortuna que impulsionou essa enorme construção. Foi uma simples dona de casa, Amelia Vivé Negra, quem, sem outros recursos além de seu fervor e calor comunicativo, promoveu uma grande campanha cujo produto se destinava às obras.

Depois das calamidades e desastres da Guerra Civil, reiniciaram- se as obras que foram, por fim, coroadas no dia 10 de outubro de 1961 com a colocação de uma monumental imagem em bronze do Sagrado Coração, de 7 metros de altura e 4.800 kg. Nesse preciso dia, cumpriam-se 75 anos da doação do cume do Monte Tibidabo a São João Bosco.

Um longo e árduo caminho havia sido percorrido. Sem dúvida, a vitória proclamada do alto dessa montanha por esse bendito Santuário é símbolo da glória definitiva que um dia a Santa Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo haverá de alcançar, a qual Ele mesmo profetizou: “Eu venci o mundo!” (Jo 16, 33).  (Revista Arautos do Evangelho, Ag/2007, n. 68, p. 23 à 25)

 

 
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