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Contos Infantis


Nunca se ouviu dizer…
 
AUTOR: MARIA BEATRIZ RIBEIRO MATOS
 
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Gustavo caiu numa poltrona e ali mesmo adormeceu. Maria Santíssima, porém, Se compadeceu daquele filho ingrato e lhe enviou um sonho.

Já era noite e Gustavo estava exausto: aquele dia fora árduo. Contudo, o cansaço físico do jovem não era nada se comparado ao seu lamentável estado espiritual.

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Todas as tardes, ela se ajoelhava
diante de uma imagem de Nossa Senhora,
tendo ao seu lado Gustavinho

Nascera ele numa pequena aldeia, em uma família cristã fervorosa. Sendo ainda bebê, ficara órfão de pai, um honesto marceneiro. A partir de então, dona Catarina, sua mãe, esmerou-se em sua educação. Não poupava esforços para que o menino se tornasse não só um bom profissional no futuro, mas, sobretudo, fosse um excelente católico. Todas as tardes, quando encerrava os trabalhos, ela se ajoelhava diante de uma imagem de Nossa Senhora, tendo ao seu lado Gustavinho, e rezavam juntos, encomendando-se Àquela que, sempre solícita, era o porto seguro em todas as aflições. Nessa atmosfera de esforço e confiança sem limites em Maria Santíssima, mesmo nas maiores angústias, cresceu Gustavo.

Estando na flor da juventude, porém, o infortúnio bateu à sua porta: dona Catarina ficou terrivelmente doente. Com os poucos recursos que possuíam, tudo fizeram para que se recuperasse, mas foi em vão. Soara para ela o instante temível de prestar contas a Deus de sua vida. Em seus últimos haustos, estando Gustavo desconsolado à sua cabeceira, ela lhe disse:

– Meu filho, Deus vai me chamar a Si quando mais precisas de mim. No entanto, passamos muitas dificuldades juntos e em nenhuma delas desamparou-nos Nossa Senhora. A Ela te confio! Sei que fará por ti muito mais do que estaria ao meu alcance. Todavia, para tua pobre mãe morrer em paz, peço-te prometer-me que não deixarás de n’Ela esperar e de a Ela recorrer em qualquer ocasião; e que todos os dias, ainda estando muito fatigado ou cheio de ocupações, nunca deixarás de rezar ao menos três Ave-Marias…

O jovem, chorando, garantiu-lhe que assim o faria. Depois de receber os últimos Sacramentos e com o nome de Maria nos lábios, a boa senhora entregou sua alma a Deus.

Chegou então para o inexperiente rapaz a hora da prova, do combate, que faz do homem, segundo suas ações, um herói ou um infame, um santo ou um malvado. Os dias se sucederam e Gustavo teve de tomar providências e trabalhar para se manter. Como um alento, as últimas palavras de sua mãe lhe acompanhavam a todo momento nos primeiros meses de sua ausência, a ponto de se tornarem uma regra de vida.

Não obstante, ao adquirir uma situação estável e se acalmarem as primeiras preocupações com a subsistência, o jovem deixou-se arrastar pelo turbilhão mundano, tornando-se amigo de gente gananciosa e avara. A devoção a Nossa Senhora ainda vivia um tanto agonizante na alma do rapaz. Sua vida espiritual, entretanto, ficara reduzida a quase nada, pois só não tivera coragem de abandonar as três Ave-Marias.

Nessa situação se encontrava Gustavo naquela noite. Ao voltar tão fatigado do trabalho, pensava apenas em descansar. Passando pela sala, seus olhos pousaram por acaso na imagenzinha que há não muito tempo tanto lhe tocara… Pensou ele: “Rezar… a estas horas? Não dá! Mas… e minha promessa? Por hoje, passa! Estou com tanto sono!…”.

Caiu numa poltrona e ali mesmo adormeceu. Maria Santíssima, porém, Se compadeceu daquele filho ingrato e lhe enviou um sonho. Gustavo viu como a desolação se espargia em toda a Terra: mares e rios transbordavam, os vulcões lançavam fogo e lava, os astros caíam do firmamento, cidades inteiras eram sepultadas, as montanhas fundiam-se com um estrondo ensurdecedor, e a fome, a guerra, a peste, a miséria e a morte espalhavam-se por todos os cantos. Era o fim do mundo!

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Foi então que o som de uma trombeta fez-se
ouvir, chamando aqueles que dormiam
o sono eterno para comparecerem
ao Juízo Final…

Foi então que o som de uma trombeta fez-se ouvir, chamando os que dormiam o sono eterno para comparecerem ao Juízo Final. Enquanto todos os homens e mulheres acorriam ao Vale de Josafá, em uma nuvem de glória descia o Homem-Deus para julgar os vivos e os mortos.

Jesus Cristo mandava uns à direita e outros à esquerda. Cada qual respondia por seus próprios atos ante o temível Juiz: os pais eram incapazes de salvar seus filhos, ou os filhos, seus pais. Gustavo, aterrorizado, viu-se entre os que seriam julgados e compreendeu de que lado estaria… Levantou os olhos à busca de socorro e avistou a Santíssima Virgem, que o fitava séria e desgostosa.

Ao ver a sempre tão misericordiosa Mãe descontente consigo, o jovem caiu em si e clamou aflito:

– Senhora, Vós que sois a advogada e o refúgio dos pecadores, tende pena de mim! Nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tenham recorrido à vossa proteção, implorado vossa assistência e reclamado vosso socorro, fosse por Vós desamparado! Não serei eu o primeiro! Intercedei por mim!

De joelhos e chorando, pôs-se a rezar as três Ave-Marias abandonadas. Viu, então, o rosto de Nossa Senhora iluminar-se com um sorriso, recolher bondosamente sua prece e apresentá-la ao seu Divino Filho.

Gustavo acordou sobressaltado!… O sonho produziu-lhe tal impressão que, ao amanhecer, seus cabelos, antes negros como o ébano, haviam se tornado brancos como a neve. Ele compreendeu que recebera um aviso de Maria Santíssima para que se corrigisse e voltasse ao bom caminho. A partir daí fez penitência e retomou a via da santidade. (Revista Arautos do Evangelho, Novembro/2013, n. 143, p. 46-47)

 
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