Ao entrar, o visitante contempla, encantado, um rico retábulo em arco-cruzeiro, esculpido e policromado, que apresenta uma harmônica composição de ouro sobre azul e vermelho, em medalhões com delicados motivos chineses. Uma iluminação suave inunda o recinto, penetrando pela alta janela de sua sacada, no coro, e realçando as figuras e detalhes dos quadros, nas paredes da nave e no teto. As pinturas das laterais retratam narrações bíblicas e as do teto trazem símbolos das ladainhas.
No centro do altar-mor, porém, está o ápice de todo o conjunto: Maria Santíssima, cuja humildade agradou tanto a Deus que n’Ela quis fazer maravilhas, para que todas as gerações A proclamem Bem-Aventurada (cf. Lc 1, 49-50). A igrejinha parece reproduzir, de fato, o canto da Virgem no Magnificat, em sua modéstia externa e esplendor interno.
Entretanto, qual o motivo de sua inusitada invocação: Nossa Senhora do Ó?
Durante anos, “Nossa Senhora vinha suplicando a Deus que apressasse a chegada do Redentor e, sendo sua oração insondavelmente agradável ao Padre Eterno, d’Ele tudo alcançando, foi atendida nos seus rogos”.1 E Ela concebeu do Espírito Santo, quando disse “Fiat!” ao Anjo que Lhe anunciara a mensagem divina (cf. Lc 1, 38). Por nove meses, a partir da Anunciação, Maria carregou em Si a expectativa dos séculos: não tardaria mais a chegada do Messias. Por este prisma, Ela é chamada de Nossa Senhora da Expectação ou Nossa Senhora do Ó, em alusão às antífonas do Magnificat que a Igreja canta nas Vésperas, no Ofício Divino, durante os sete dias que antecedem o Natal. Elas exprimem a alegria da Mãe do Salvador ao sentir em Si o Corpo adorável do Rei do Universo, prestes a vir à luz, uma vez que todas estas antífonas se iniciam pela interjeição vocativa “Ó”, dirigindo-se a Ele: “Ó Sabedoria… Ó Adonai… Ó Raiz de Jessé… Ó Chave de Davi… Ó Sol nascente justiceiro… Ó Rei das nações… Ó Emanuel…”.
Não nos esqueçamos, contudo, de que este mesmo Cristo que esteve presente no seio puríssimo e virginal de Maria, e “orava ao Pai como de dentro do mais prodigioso dos sacrários, […] hoje, reza no interior dos tabernáculos nos altares de todo o mundo”,2 por toda a humanidade.
Assim, caro leitor, ao longo de seus caminhos, quando cruzar com alguma igreja, seja uma capela, a mais singela, seja uma suntuosa catedral, saiba que ali está o maior de todos os tesouros do universo, Jesus Sacramentado, à espera de sua visita e sua oração, pois Ele mesmo prometeu: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 20). ² (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2014, n.149, p. 50-51)
1 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Jubilosas esperanças no advento do Messias. In: Dr. Plinio. São Paulo. Ano IX. N.105 (Dez., 2006); p.18. 2 Idem, p.20.