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Contos Infantis


A lição da formiguinha
 
AUTOR: IR. LETÍCIA GONÇALVES SOUSA, EP
 
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Tomado por um novo entusiasmo, Mauro voltou às suas atividades cotidianas, convencido de que a graça não pode inspirar desejos irrealizáveis!

Era a festa do nascimento da Santíssima Virgem. A natureza, naquela manhã, estava especialmente radiante. No Mosteiro de Santa Maria, os religiosos se preparavam para a grande comemoração. Uns arrumavam as flores, outros limpavam a capela, outros ainda se ocupavam em preparar as funções litúrgicas, com muito espírito de oração e recolhimento. Tudo parecia contribuir para uma linda cerimônia. Porém, havia alguém que “ajudava” de modo singular…

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Tudo parecia contribuir para uma linda
cerimônia. Porém, havia alguém que
“ajudava” de modo singular…

Tr r a a á – p á – p á – pum!!! Crás!!!… O velho padre Egídio que, de olhos fechados, estava muito compenetrado em sua prece, levantou-se espantado e, pensando ser o ataque de algum bandido, exclamou:

– Santíssima Virgem Maria, valei-nos! Que havia acontecido?

Em instantes descobriu ele tratar-se de mais um estrago produzido pelo noviço Mauro, que tinha muito desejo de ser santo, vivia rezando, oferecia-se com presteza para qualquer serviço, mas… era um atrapalhado! Padre Reginaldo, o prior, auxiliado pelos demais, acabara de terminar a limpeza da capela, que brilhava como nunca: as cores dos vitrais resplandeciam com maior nitidez e o mármore do altar jamais reluzira daquela forma. Pedira ao noviço, então, que fizesse a caridade de levar o último vaso de flores para o presbitério. Entretanto, ao subir os degraus, Mauro tropeçou e caiu. E – foi o pior de tudo! – além de quebrar o vaso, agarrou-se ao arranjo floral feito para o nicho da imagem de Nossa Senhora, desfazendo-o por completo. Em dez segundos conseguira destruir o que custara horas para se elaborar!

Impossível foi esconder o desapontamento dos monges: teriam que recomeçar os trabalhos, nos quais gastaram a manhã inteira! O contratempo, contudo, em nada os fez perder a paz interior. Alguns instantes depois, retomavam o trabalho com afinco, sem dar nenhuma mostra de indignação contra o noviço, ao qual pediram, delicadamente, a caridade de não os “ajudar” mais…

Na hora da cerimônia, Mauro não estava alegre como os outros religiosos, mas macambúzio e desapontado. E com o passar dos dias, o abatimento não diminuiu, mas sim seu fervor. Achava que o fato de ser tão desastrado tornava-lhe impossível alcançar a tão almejada santidade. Orações, penitências e sacrifícios pareciam-lhe inúteis para melhorar, uma vez que, na aparência, de nada adiantavam.

Assim, logo afundou em terrível desalento e amargura. Rezar não o atraía mais… Durante o ofício, era muitas vezes vencido pelo sono… Paulatinamente seus exercícios de piedade foram se tornando menos frequentes, até que não mais os fazia. Aquele noviço, antes sempre disposto a ajudar os outros, procurava fugir até dos seus próprios encargos, e vivia resmungando pelos corredores… Desanimado, chegou a pensar em ir embora do mosteiro.

Uma tarde, mergulhado em tais cogitações, pediu autorização ao prior para passear no bosque. Ao conceder-lhe a licença, padre Reginaldo recomendou-lhe que aproveitasse aquela ocasião de solidão para rezar muito a Nossa Senhora.

Atravessou o portão do mosteiro e começou a vagar sem rumo em meio às grandes árvores, refletindo em sua atual

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“Serei santo, custe o que custar!
Abraçarei minha vocação com todas
as forças”

situação. Em certo momento, lembrou-se do conselho do prior e resolveu rezar o Rosário – o que há tempos não fazia… -, pedindo à Mãe do Céu socorro para seus problemas. Sua alma, todavia, estava tão fraca e melancólica que, na primeira dezena, deixou cair o terço.

Quando se inclinou para recolhê-lo, percebeu algo que se movia junto a seus pés… Deteve-se, para descobrir de que se tratava. Viu, então, uma formiguinha carregando uma folha muito maior do que ela. O peso fazia com que pendesse ora para um lado, ora para outro. Apesar de tamanha desigualdade, ela mantinha-se perseverante em transportar sua enorme carga. E a cada vez que tropeçava, a formiguinha recomeçava… Prendia a folha com força e continuava o caminho, pois seus instintos lhe diziam quão importante era aquele fardo diante do terrível inverno que logo chegaria.

Mauro acompanhou o longo percurso do inseto até que ele entrou no formigueiro, meditando na cena que lhe calara fundo na alma… Quando se deu conta, já estava escurecendo e aproximava-se o horário determinado para retornar.

No caminho de regresso, pôs-se a analisar seu estado espiritual: havia se deixado levar pelo desânimo e abandonado a constância na oração. Mas recebendo a lição de nunca desistir, dada por aquela formiguinha, com firmeza decidiu:

– Serei santo, custe o que custar! Abraçarei minha vocação com todas as forças, mesmo que as tentações me derrubem. Permanecerei na busca do bem até que, um dia, pela misericórdia de Nossa Senhora, Ela me obtenha a graça de ser um monge que pratique as virtudes em grau heroico!

E recomeçou a recitação do Rosário, agora com incomparável fervor.

Desde então, Mauro tomou-se por um entusiasmo maior do que quando entrara para a vida monacal, e voltou às suas atividades cotidianas convencido de que a graça não pode inspirar desejos irrealizáveis! Aprendera que, apesar de sua pequenez, podia aspirar à santidade, pois o que Deus quer é a confiança em sua misericórdia e a perseverança na oração. E, ainda que Ele queira também o esforço, a santidade sempre será dada como um presente, que é necessário pedir…

Retomou a vida no mosteiro e, embora uma ou outra vez quebrasse um prato ou uma taça, já não era tão desastrado… E quando isso acontecia, jamais perdia o ânimo e a alegria! Ajoelhava-se, rezava uma breve oração e oferecia o acontecido a Nossa Senhora, como fruto natural de sua fraqueza. E aos poucos foi vencendo esta sua dificuldade, com a ajuda da graça e o apoio fraterno de seus irmãos de hábito, caminhando a passos largos na via de sua tão anelada santificação. (Revista Arautos do Evangelho, Setembro/2014, n. 153, p. 46-47)

 
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