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Contos Infantis


O aprendiz de ferreiro
 
AUTOR: IR. MARIA CECÍLIA LINS BRANDÃO VEAS, EP
 
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Impressionado pela dureza de coração de Firmino, o menino concebeu um plano... Trazer de volta à Igreja uma ovelha perdida não seria um belo presente para Aquele que em breve iria receber?

Mal o Sol deitava seus primeiros raios sobre a aldeia e da chaminé da casa do ferreiro saia uma fumaça densa e negra, elevando-se em direção ao topo da montanha. Observando-a atentamente, o pequeno Bernardo disse a Stella, sua irmã mais velha.

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“Posso trabalhar com o senhor?
Quero aprender a ser ferreiro”

– Olha, Firmino está trabalhando na forja desde cedo!

– Que homem ruim este ferreiro… – respondeu a menina – Tão ranzinza é que ninguém consegue suportá-lo. Poucas vezes o tenho visto, mas dizem que quando trabalha parece um demônio ateando fogo no inferno. Vive sozinho, passa o dia inteiro diante da forja, só fala quando entrega os artigos que lhe encomendaram e ninguém consegue convencê-lo de ir às Missas aos domingos. Todo mundo tem pavor dele!

– Como será a alma de um homem que nunca vai à igreja para receber a Eucaristia? – indagou Bernardo, pensativo.

Ele estava se preparando para fazer a Primeira Comunhão e, a partir daí, uma ideia tomou conta de sua mente infantil: não podia fazer algum bem àquela alma por quem Nosso Senhor Jesus Cristo também derramara seu Sangue preciosíssimo na Cruz?

Além do mais, aprendera na catequese que “haverá maior júbilo no Céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (Lc 15, 7). Trazer de volta à Igreja uma ovelha perdida não seria um belo presente para oferecer a Jesus Eucarístico?

A ideia não o abandonou nem um minuto ao longo do dia. No fim da tarde, montou em sua bicicleta e dirigiu-se à casa do ferreiro. Tomado de coragem entrou na oficina, sem hesitar. Deparou-se com a imensa forja, ferros e ferraduras por todos os cantos. Onde estaria Firmino? De repente, ouviu uma voz grave atrás de si:

– Que fazes aqui, menino?

Logo o semblante de Bernardo perdeu o colorido. Estava diante do terror da aldeia…

Contra toda a expectativa, ante aquele olhar assustado e inocente, o ferreiro se comoveu e disse:

– Em que te posso ajudar? Percebendo ter chegado o momento propício, Bernardo
lançou uma proposta:

– Posso trabalhar com o senhor? Quero aprender a ser ferreiro.

Bastaram estas poucas palavras para que a simpatia se acendesse em sua alma empedernida. Aceitando o pedido, ofereceu abrir o local sempre que o menino terminasse as aulas, dispondo de seus horários para ensinar-lhe os segredos da profissão.

Transcorreram alguns meses neste relacionamento cordial. Bernardo várias vezes convidava Firmino para ir à igreja na cidade próxima, pois na aldeia não havia paróquia. Este, todavia, sempre recusava… Aquele homem, perito em dobrar metais, era incapaz de amolecer seu coração de ferro. Contudo, não tardou ele em notar que estando com o pequeno aprendiz seu espírito se acalmava e algo da candura do menino lhe penetrava na alma. Mesmo assim, não queria dar-se por vencido…

Inesperadamente uma grave doença abateu Firmino e viu-se ele mal à morte, piorando a cada dia. Havia mais de trinta anos que o Sacramento da Reconciliação não exercia seus efeitos naquela alma endurecida. Os vizinhos e Bernardo insistiam para que aceitasse conversar com um sacerdote, mas em vão.

Gemendo no leito, Firmino repetia:

– Nenhum padre ouse pisar aqui. Não quero! Passei a vida sozinho e sozinho vou morrer!

Longe de desistir, Bernardo, que era coroinha, decidiu ir de bicicleta até a cidade, a fim de pedir ao pároco que fosse visitar o ferreiro. A tarde começava a cair e uma densa neblina encobria o caminho. Com receio de não conseguir chegar a tempo, acelerou o quanto pôde. Suas pernas tremiam pelo frio da forte ventania que, de súbito, se fez sentir. Quando já não podia quase enxergar, caiu e a bicicleta rolou ladeira abaixo! Ofegante, mas sem desanimar, reergueu-se de imediato e retomou a pé o caminho até a igreja.

Fez-se noite e uma forte chuva começou a cair. Inteiramente molhado e sem conseguir distinguir o caminho por causa da escuridão, o menino desatou a chorar, gritando desconsolado:

– Mamãe, socorro! Mamãe, me ajude!

Então ouviu uma voz a sussurrar-lhe no ouvido:

– Não chames por tua mãe. Ela não pode escutar-te aqui. Tem confiança, tudo vai se resolver.

Voltou-se em busca de quem havia pronunciado aquelas palavras e não viu ninguém. Entretanto, elas o tranquilizaram completamente e ele começou a rezar.

– Ó minha Mãe, ó Santa Virgem Maria, não me abandoneis! Não permitais que eu morra antes de minha Primeira Comunhão!

Foi então que uma forte luz iluminou Bernardo. Eram os faróis de um carro que parou ao seu lado. Dele desceu seu pai, que o tomou nos braços com cuidado e o acomodou no banco de trás. Sabendo por Stella do piedoso motivo daquela aventura, admoestou-o com muita suavidade e tomou o caminho de volta para casa, a fim de que trocasse a roupa molhada logo. O menino, porém, não se esquecera de seu intento e insistiu em passar antes pela paróquia, para buscar o padre Mateus e levá-lo até a casa de seu amigo.

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Longe de desistir, Bernardo decidiu ir de bicicleta até a cidade. A tarde
começava a cair e uma densa neblina encobria o caminho…

Quando regressaram, a aventura do pequeno herói já se havia espalhado pela aldeia, chegando aos ouvidos de Firmino. Aquilo foi como um raio de conversão a penetrar em seu coração de aço… Ao aproximar-se do ferreiro moribundo, o sacerdote ficou estupefato ao ouvir:

– Padre, entre! Estou esperando-o, pois quero me confessar!

O ferreiro recebeu os Sacramentos e faleceu serenamente no dia seguinte. Bernardo não pôde comparecer aos funerais por estar acamado, curando-se do forte resfriado apanhado na estrada. No entanto, no dia em que comungou por primeira vez, ofereceu a Jesus Sacramentado, cheio de alegria, a alma do velho Firmino. (Revista Arautos do Evangelho, Outubro/2014, n. 154, p. 46-47)

 
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