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Palavra dos Pastores


Eslovênia: nação mariana e missionária
 
AUTOR: IR. CÉSAR MANUEL ESCOBAR CASTRO, EP
 
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Apesar de possuir apenas 2 milhões de habitantes, a Eslovênia envia numerosos missionários por todo o mundo. O senhor poderia nos dizer alguma coisa sobre isso?

Entrevista com Mons. Franci Petric

Editor-chefe da revista semanal “Druzina” (Família), Mons. Franci Petric nos desvenda atraentes aspectos da Fé e tradições da sua terra natal.

César Manuel Escobar Castro, EP

Sim, a nação eslovena tem nesse sentido algo de especial. No tempo do movimento de renovação e autoconsciência nacional da Eslovênia, na metade do século XIX, houve também uma renovação missionária, uma renovação espiritual.

Um dos primeiros missionários dessa época foi o Venerável Frederico Baraga, que se tornou Bispo de Marquette, Michigan, onde faleceu. Trabalhou entre os índios, mas também com os colonizadores que iam da Europa aos Estados Unidos. Ficou famoso pelas cartas enviadas à Eslovênia detalhando suas atividades para granjear apoio para sua diocese.

Dom Frederico Baraga - Litografia de Josef Kriehuber 1854.jpg

“O senso de colaboração
com as missões é também
realmente forte em
nosso país”

Dom Frederico Baraga
Litografia de
Josef Kriehuber,
1854

Os primeiros jornais impressos na Eslovênia, na metade do século XIX, publicaram vasta matéria sobre as missões. Ainda hoje o conceito de missão continua muito vivo em nosso país. Cerca de 1 milhão e meio em uma população de aproximadamente 2 milhões de habitantes são católicos que realmente praticam sua Fé. Há atualmente 120 missionários pelo mundo.

A diocese de Farafangana, em Madagascar, tem a maior comunidade de missionários eslovenos. Há outros em Moçambique e Angola. Temos também uma importante missão jesuítica na Zâmbia e outra em Malawi. Além do mais há sempre missionários eslovenos em países da América do Sul, mesmo sendo estas nações católicas. Há alguns trabalhando no Peru, outros na República Dominicana, e temos também religiosas atuando no Brasil.

O senso de colaboração com as missões é também realmente forte em nosso país, e me ufano disso. Por exemplo, o Bispo Baraga escreveu um dicionário e um catecismo em dialeto ojíbua, contribuindo muito para a cultura e educação dos povos nativos de sua diocese.

Na Eslovênia parece que no alto de cada colina há uma igreja! Qual a razão desse fenômeno?

Bem, na primeira vez que o Papa João Paulo II visitou a Eslovênia, ele disse que era um país abençoado por causa de suas muitas igrejas. É algo que realmente chama a atenção do visitante! Há alguma coisa na mentalidade da nação que faz com que as pessoas queiram a Deus como parte integral de suas vidas, e também aos santos, e a Maria, especialmente.

Há aproximadamente 2.800 igrejas na Eslovênia – eu as contei, não estou exagerando. Contam-se 360 santuários marianos, em muitos dos quais – entre 60 e 70 – é celebrada Missa com regularidade. Algumas igrejas estão “ativas” somente uma vez por ano, mas todas elas são bem cuidadas.

O Estado não ajuda a mantê-las. É a própria população que cuida das igrejas, por amor. Eles querem mostrar assim sua gratidão a Deus, a Nossa Senhora e a todos os nossos protetores.

O senhor escreveu um livro sobre essas igrejas…

Sim, eu era secretário do Arcebispo no tempo em que o comunismo arruinou nosso país. Quando ele visitava as paróquias para ministrar a Confirmação ou para solenidades, tinha por costume visitar todas as outras capelas da aldeia – porque, no nosso país, ao redor de uma igreja paroquial há sempre outras capelas afiliadas a ela.

Durante essas viagens, ocorreu-me que deveria fazer-se um registro escrito de todas essas igrejas; e, como jornalista e editor de nosso semanário católico, decidi começar a escrever sua história: por que e quando elas foram construídas, quais os tesouros artísticos nelas contidos, etc. Nasceu assim o livro intitulado Os Santuários Eslovenos, que serve também como guia para os visitantes que desejam se aprofundar um pouco mais na nossa história.

O senhor mencionou que é editor…

Sim, sou o editor do semanário católico nacional chamado Druzina, que significa “família”. Foi fundado em 1952, quando a Igreja havia sido proibida pelo comunismo. Tínhamos 350 sacerdotes na cadeia, naquele tempo.

Depois da queda do comunismo, o número de nossos assinantes alcançou 140 mil. As coisas estão mudando agora, as publicações culturais estão em declínio e as pessoas buscam informações na internet, na televisão ou no rádio. Ainda temos cerca de 40 mil assinantes no país. Temos também dois jornais e dez revistas sobre espiritualidade, oração, leitura diária da Bíblia, além de uma revista de variedades destinada aos eslovenos que vivem no exterior.

O senhor poderia nos dizer algo a respeito da Cartuxa de Pleterje?

Sim! É o único mosteiro da ordem de São Bruno que resta na Europa oriental. Ela era muito popular na Eslovênia há 600 anos. Atualmente, quatro grandes cartuxas ainda se conservam no nosso país. São lugares maravilhosos para visitar, mas três deles não estão mais em atividade.

Mons Franci Petric e Cesar Castro EP..jpg

“Há aproximadamente 2.800 igrejas na Eslovênia
– eu as contei, não estou exagerando”

Um momento da entrevista, realizada no Seminário
dos Arautos do Evangelho em Caieiras, SP

A única que mantém a vida monástica está localizada a cerca de uma hora de viagem da capital, perto da fronteira com a Croácia. Ela é habitada por uma comunidade muito internacional, composta no momento por 12 monges. Eles recebem muitos visitantes – não é algo que os monges favoreçam, uma vez que eles desejam cultivar o silêncio e a oração – mas é um sinal de que as pessoas estão sedentas de espiritualidade.

Os eslovenos distinguem-se por sua devoção mariana – Maria é a principal Padroeira da Eslovênia…

De fato. O Santuário de Nossa Senhora de Brezje, Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos, como Ela é conhecida, é um dos mais populares. Foi fundado na metade do século XIX. Mas há muitos outros santuários marianos no nosso país, alguns dos quais são muito antigos.

Diz-se que quando a nação eslovena foi “batizada”, quando foi cristianizada, nos séculos VI e VII, sua primeira igreja foi consagrada a Nossa Senhora. Todas as nações tendem a denominarem-se marianas, mas se pode verdadeiramente dizer que os santuários marianos eslovenos brilham pelo número de peregrinos, embora as nossas peregrinações não sejam tãoimagem de Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos.jpg multitudinárias como as que acontecem no Brasil… O que é lógico se compararmos sua população de 200 milhões de habitantes, comparada com nossos dois milhões!

Também é interessante notar que as canções eslovenas mais populares são marianas.

Ljudsko petje…

Sim, Ljudsko petje é uma música folclórica popular. Na Eslovênia temos muitos corais lindos. Um dos nossos mais famosos compositores, Jacobus Gallus, alcançou fama mundial. Suas canções estão muito difundidas na Igreja Católica.

Uma das melhores lembranças que os visitantes levam de nosso país é a música escutada nas igrejas. Nelas todo mundo canta – e não apenas a uma, mas até a quatro vozes -, o que cria um efeito esplêndido. São João Paulo II teve uma experiência inesquecível quando presidiu as ladainhas na Catedral, porque entre cada versículo nós cantávamos um hino mariano!

As pessoas ensaiam ou é um canto espontâneo?

Sempre que vamos à igreja nós cantamos, e absolutamente todo mundo participa. As canções religiosas são assimiladas com facilidade desde a infância e resultam impossíveis de esquecer.

Na Eslovênia costumamos comemorar o mês de Maria com uma forma especial de devoção. Toda noite nos reunimos na igreja para a leitura da vida dos santos ou de temas marianos. Também recitamos as ladainhas e cantamos. Sempre cantamos. Quando eu era vigário em uma paróquia próxima de Ljubljana, por volta de 220 a 230 crianças se reuniam toda noite para ensaiar antes da celebração. E quando terminava, ficávamos praticando por mais 15 minutos. Com isso, as músicas se tornavam segunda natureza. Mas, devo dizer que admiro a música dos Arautos; quando ouço as músicas aqui, fico simplesmente encantado por serem tão magníficas.

O senhor gostaria de dizer uma palavra final a nossos leitores?

Desejo fazer notar minha admiração pelo seu fundador, Mons. João, que tanto trabalha pelo bem da Igreja. Ele descobre toda a riqueza do Catolicismo, a preserva e a transmite à juventude, o que é muito importante. Se queremos ser verdadeiros evangelizadores, devemos mostrar que todos os tesouros da arte, da música, da arquitetura e tudo o mais que o Catolicismo produziu em dois mil anos – não apenas na Europa, embora tenhamos a tendência de focalizar originalmente na Europa – é algo que pertence a todos os católicos. E me alegra ver que vocês mantêm vivos todos esses tesouros.

Nascido a 16 de outubro de 1960, em Jesenice, Eslovênia, Mons. Franci Petric obteve o Mestrado em Teologia na Mons. Franci PetriC.jpgUniversidade de Ljubljana com uma tese sobre o tema “Peregrinações – Reflorescimento do Mundo de Valores”. Ordenado sacerdote em Ljubljana em 29 de junho de 1986, foi secretário do Arcebispo entre os anos 1987 e 1990.

A 1º de outubro de 1990 ele se tornou editor do semanário católico nacional Druzina, e, de fevereiro de 1992 até o presente, é o editor-chefe dessa revista. Foi nomeado Monsenhor por São João Paulo II em 1996. Escreveu e editou vários livros sobre a Igreja na Eslovênia e sobre personagens da vida da Igreja. Atualmente atua como vigário episcopal para 46 das paróquias da Arquidiocese. (Revista Arautos do Evangelho, Outubro/2014, n. 154, p. 32 à 34)

 
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