Fale conosco
 
 
Receba nossos boletins
 
 
 
Artigos


Voz dos Papas


“Não deixeis de caminhar com alegria!”
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
Decrease Increase
Texto
Solo lectura
0
0
 
Cada Santo nos mostra uma característica do semblante multiforme de Deus. Em Santa Teresa contemplamos o Deus que, sendo "Majestade soberana e Sabedoria eterna", Se revela próximo e companheiro.

No dia 28 de março de 1515 nasceu em Ávila uma menina que, com o tempo, viria a ser conhecida como Santa Teresa de Jesus. Na iminência do V centenário do seu nascimento, dirijo o meu olhar para essa cidade, para dar graças a Deus pela dádiva desta mulher grandiosa e para encorajar os fiéis da amada Diocese de Ávila e todos os espanhóis a conhecerem a história desta fundadora insigne […].

A alegria não pode ser alcançada através do atalho fácil

Cada Santo nos mostra uma característica do semblante multiforme de Deus. Em Santa Teresa contemplamos o Deus que, sendo “Majestade soberana e Sabedoria eterna” (Poesia 2), Se revela próximo e companheiro, e tem prazer de falar com os homens: Deus alegra-Se com cada um de nós. E, sentindo o seu amor, na Santa brotava uma alegria contagiosa que ela não conseguia dissimular e transmitia ao seu redor.

Esta alegria é um caminho que é preciso percorrer durante a vida inteira. Não é instantânea, superficial, tumultuosa. É necessário procurá-la “desde o início” (Vida. XIII, 1). Manifesta o júbilo interior da alma, é humilde e modesta (cf. Fundações. XII, 1). Ela não pode ser alcançada através do atalho fácil que evita a renúncia, o sofrimento ou a cruz, mas encontra-se mediante o padecimento de dificuldades e dores (cf. Vida. VI, 2; XXX, 8), contemplando o Crucificado e procurando o Ressuscitado (cf. Caminho. XXVI, 4).

Santa Teresa de Jesus.jpg
“O realismo teresiano exige obras e não
emoções, amor e não sonhos”

Imagem de Santa Teresa de Jesus, presente
nas comemorações do V Centenário
realizadas em Ávila, 15/10/2014

Por isso, a alegria de Santa Teresa não é egoísta nem autorreferencial. Como o júbilo celeste, ela consiste em “rejubilar com a alegria de todos” (Caminho. XXX, 5), pondo-se ao serviço dos outros com amor abnegado. Como disse num dos seus mosteiros então em dificuldade, a Santa diz-nos também a nós hoje, sobretudo aos jovens: “Não deixeis de caminhar com alegria!” (Carta 284. IV). […]

Em tempos duros são necessários amigos fortes de Deus

A Santa percorreu também o caminho da oração, que ela definia graciosamente como “uma relação de amizade, um encontrar-se frequentemente a sós com quem sabemos que nos ama” (Vida. VIII, 5).

Quando os tempos são “duros”, “são necessários amigos fortes de Deus” para sustentar os mais frágeis (Vida. XV, 5). Rezar não é um modo de fugir, nem de se colocar dentro de uma bolha, e nem sequer de se isolar, mas de progredir numa amizade que quanto mais cresce, tanto mais põe em contato com o Senhor, “amigo autêntico” e fiel “companheiro” de viagem, com o qual “tudo pode ser suportado”, porque Ele sempre “nos infunde ajuda e coragem, e nunca nos abandona” (Vida. XXII, 6).

Para rezar, “o essencial não é pensar muito, mas amar muito” (Moradas. IV, 1, 7), dirigir o olhar para fitar Aquele que olha constantemente para nós com amor e nos suporta com paciência (cf. Caminho. XXVI, 3?4). Deus pode atrair as almas a Si através de muitas veredas, mas a oração é o “caminho seguro” (Vida. XXI, 5).

Deixá-la significa perder-se (cf. Vida. XIX, 6). Estes conselhos da Santa são de atualidade perene! Por conseguinte, ide em frente, ao longo do caminho da oração, com determinação e sem parar, até o fim! Isto é válido de maneira particular para todos os membros da vida consagrada. Numa cultura do provisório, vivei a fidelidade do “sempre, sempre, sempre” (Vida. I, 4); num mundo sem esperança, mostrai a fecundidade de um “coração apaixonado” (Poesia 5); e numa sociedade com tantos ídolos, sede testemunhas de que “só Deus basta!” (Poesia 9).

Caminhar juntamente com Cristo, como irmãos

Este caminho, não o podemos percorrer sozinhos, mas juntos. Para a Santa reformadora, o percurso da oração passa pela senda da fraternidade no seio da Igreja Mãe. Foi esta a sua resposta providencial, derivada da inspiração divina e da sua intuição feminina, às problemáticas da Igreja e da sociedade da sua época: fundar pequenas comunidades de mulheres que, à imitação do Colégio Apostólico, seguissem Cristo vivendo o Evangelho de modo simples e sustentando a Igreja inteira mediante uma vida transformada em oração.

“Irmãs, foi para isto que Ele vos reuniu aqui” (Caminho. VIII, 1), e com a seguinte promessa: “Ele, Jesus Cristo, permaneceria ao nosso lado” (Vida. XXXII, 11). Que bonita definição da fraternidade na Igreja: caminhar juntamente com Cristo, como irmãos! Com esta finalidade, Teresa de Jesus não nos dá muitas recomendações, mas simplesmente três: amar-se em grande medida uns aos outros, desapegar-se de tudo e verdadeira humildade, a qual, “embora seja por mim mencionada por último, constitui a virtude principal enquanto as abrange todas” (Caminho. IV, 4).

Nesta época, como eu gostaria de comunidades cristãs mais fraternas, onde se possa percorrer tal itinerário: caminhar na verdade da humildade que nos liberte de nós mesmos, para amar mais e melhor o próximo, sobretudo os mais pobres! Não existe nada de mais belo, do que viver e morrer como filhos desta Igreja Mãe!

Reza mais para entenderes bem o que acontece ao teu redor

Precisamente porque é Mãe de portas abertas, a Igreja está sempre a caminho rumo aos homens, para lhes levar aquela “água viva” (Jo 4, 10) que irriga o horto do seu coração sequioso. A Santa, escritora e mestra de oração, foi fundadora e ao mesmo tempo missionária pelas estradas da Espanha.

A sua experiência mística não a separou do mundo, nem das preocupações das pessoas. Pelo contrário, incutiu-lhe impulso e coragem renovados para os afazeres e tarefas de cada dia, dado que “o Senhor Se encontra até no meio dos tachos” (Fundações. V, 8).

Ela vivia as dificuldades da sua época – muito complicada – sem ceder à tentação do queixume amargo mas, ao contrário, aceitando-as na fé como uma oportunidade para dar mais um passo ao longo do caminho. Pois “para Deus cada momento é bom, quando Ele deseja conceder grandes graças àqueles que O servem” (Fundações. IV, 5).

Hoje, Teresa diz-nos: reza mais para entenderes bem o que acontece ao teu redor e, assim, para agires melhor. A oração derrota o pessimismo e gera boas iniciativas (cf. Moradas. VII, 4, 6). Nisto consiste o realismo teresiano, que exige obras e não emoções, amor e não sonhos; o realismo do amor humilde diante de um ascetismo ofegante!

Às vezes, a Santa abrevia as suas cartas amáveis, dizendo: “Estamos a caminho!” (Carta 469. VII, 9), como expressão da urgência de continuar até o fim a tarefa encetada. Quando o mundo arde, não se pode perder tempo em questões de pouca
importância. Gostaria que contagiasse todos, esta santa pressa de sair para percorrer os caminhos do nosso tempo, com o Evangelho na mão e com o Espírito no coração! Excertos da mensagem enviada a Dom Jesús García Burillo, Bispo de Ávila, por ocasião do V Centenário do nascimento de Santa Teresa de Ávila, 15/10/2014 – Revista Arautos do Evangelho, Dezembro/2014, n. 156, pp. 6-7.

 
Comentários