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Tesouros da Igreja


A basílica de Maria Auxiliadora
 
AUTOR: IR. ELISABETH VERONICA MACDONALD, EP
 
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Não se pode negar que o olhar de Maria Santíssima pousou sobre aquele lugar, fazendo germinar graças, inspirações e anseios que hoje se materializam no esplêndido santuário.

A Virgem Maria caminha com seus filhos

Data vênia à História, pode-se afirmar que a pedra fundamental do atual Santuário Nacional de Maria Auxiliadora dos Cristãos, em Erin, Wisconsin, não foi lançada nas primeiras décadas do século XX, mas sim no século XVII. Pois foi nessa remota época, antes de os Estados Unidos da América existirem como país, que um certo sacerdote erigiu um altar de pedra na mais alta colina da região e a consagrou para sempre, como solo sagrado, nas mãos de Maria Santíssima.

Antigas tradições indígenas

Poucos dados se tem a respeito desse sacerdote. Chegou a ser identificado com o padre Jacques Marquette, famoso missionário jesuíta e explorador norte-americano, mas essa hipótese é hoje considerada improvável. Em qualquer caso, os índios da região conservaram entre suas tradições a figura de um “chefe de túnica negra” e inclusive faziam desenhos, na areia e na neve. Era representado com um crucifixo na mão e um rosário na cintura, rezando no alto da colina.

Quando, em 1842, fazendeiros irlandeses se instalaram nessa risonha paragem do centro-norte dos Estados Unidos, chamaram-na de Erin — uma forma poética de evocar seu  país natal — e deram àquela montanha o nome de Holy Hill — Monte Sagrado. Anos depois, colonos alemães também chegaram à região e continuaram a nutrir uma reverência religiosa por aquele lugar. Eles deram o nome de Montanha de Maria Auxiliadora — Maria Hilfberg.

Certamente conheciam esses imigrantes as recordações lendárias dos nativos, mas o profundo senso religioso deles — especialmente dos provenientes da “ilha mística” — deve tê-los feito sentir na colina algum desígnio sobrenatural. Pois não se pode negar que o olhar de Maria Santíssima pousou sobre aquele lugar, fazendo germinar ali graças, inspirações e anseios que hoje se materializam no esplêndido santuário.

O enigmático eremita de Holy Hill

O primeiro nome associado a Holy Hill é o do francês François Soubrio. Diz-se que, enquanto servia como assistente de um professor de Quebec, encontrou um mapa e um velho manuscrito, datados de 1676, descrevendo uma região isolada dominada por uma alta colina em forma de cone e relatando a sua conquista em nome de Maria.

A descoberta fez nascer em sua alma o nobre desejo de pôr-se a caminho para edificar sua morada naquele local. Uma versão popular da história descreve-o chegando à montanha num estado de paralisia parcial, causada pela longa viagem, passando a noite em oração e sendo miraculosamente curado na manhã seguinte.

Embora lhe conheçamos o nome, o “eremita de Holy Hill” não deixa de ser uma figura enigmática. Alguns o descrevem como um penitente, uma alma que carregava “grande dor íntima e procurava conforto em Deus” seguindo as pegadas do salmista: “Apenas elevei a voz para o Senhor, Ele me responde de sua montanha santa” (Sl 3, 5).

Quando, por volta de 1862, os fazendeiros das redondezas souberam da existência desse eremita, acolheram-no inicialmente com desconfiança. Mas logo criaram-se laços de amizade: passaram a levar-lhe comida e até lhe construíram uma cabana.

Montanha que Maria Auxiliadora escolheu para morar

Ora, certo dia, um sacerdote austríaco chamado Francis Paulhuber, responsável por três paróquias na região, declarou a um amigo: “Aquele lindo monte lembra-me fortemente uma montanha perto de casa, em minha terra natal”. E, a seguir, completou o corriqueiro comentário com uma intuição quase profética: “Tenho certeza de que não está longe o dia em que ele se tornará um dos locais mais destacados deste país. Ele será consagrado e tornado santo; transformado num lugar de culto e peregrinação, aonde dezenas de milhares virão prestar homenagem à Virgem Maria e a seu Filho”.

Padre Francis não era pessoa de construir castelos no ar, e menos ainda igrejas… Em 1855 comprou do governo norte-americano os pouco mais de 16 hectares do terreno em que estava encravada a colina, com a intenção de mais tarde ceder o local para a arquidiocese.

Ainda vivia o misterioso eremita quando foi erigido ali, em 1863, o primeiro edifício de culto: uma capela rústica, dedicada a Maria Auxiliadora dos Cristãos. Dezesseis anos depois começaram os trabalhos para a construção de uma igreja, e algumas décadas mais tarde houve a necessidade de erigir um templo maior. Surgiu assim o santuário atual, em estilo neorromânico, consagrado em 1931 e elevado a basílica menor em 2006.

As palavras gravadas na pedra fundamental deste templo atestam o maternal dinamismo da presença de Maria em Holy Hill. Traduzidas do latim, dizem: “Por causa do crescente número daqueles que honram a Auxiliadora, a Bem-Aventurada Virgem Maria, eu sou a pedra fundamental do terceiro templo no topo desta colina”.

O edifício é belamente adornado com vitrais, mármores, mosaicos e imagens. No entanto, o mais significativo dos ornatos talvez sejam as muletas enfileiradas na entrada, testemunhas mudas da gratidão daqueles que foram objeto de uma das incontáveis formas de auxílio que Nossa Senhora prodigamente concede aos seus devotos.

Os Padres Carmelitas Descalços, responsáveis pelo santuário desde 1906, oferecem uma afável acolhida aos que desejam passar algum tempo de intimidade com Deus em Holy Hill. Por ano, 500 mil peregrinos acorrem ao santuário procurando este gênero de solidão no complexo que abrange hoje cerca de 175 hectares.

O panorama visto do alto das torres da basílica descortina quilômetros e quilômetros de magnífica natureza. No inverno, a exuberância da vegetação dá lugar à alvura da neve, e o santuário fica envolvido por um silêncio sacral. Remontando às palavras do salmista, bem poderíamos dizer que esta é a montanha que Maria, Auxílio dos Cristãos, escolheu para morar (cf. Sl 67, 17).

Revista Arautos do Evangelho, Março/2015, n. 159, p. 36 à 37.
 
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