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Tesouros da Igreja


O mítico Bucintoro
 
AUTOR: JOSÉ MANUEL JIMÉNEZ ALEIXANDRE
 
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A nave que conduz o Doge para o legendário casamento de Veneza com o mar é um dos mais significativos símbolos da cidade das maravilhas. Tudo, neste navio, nos reporta a um mundo de sonhos, beleza e esplendor.

Por volta do século VI ou VII, fugindo das invasões bárbaras um povo veio alojar-se nas pantanosas ilhotas de uma laguna à beira do Adriático, dando origem à cidade de Veneza. Constituído por católicos, após fortalecer a população primigênia, esse povo começou a se lançar em grandes empreendimentos marítimos.

Origem da festa da “Sensa”

Um deles teve início em 9 de maio de 998, festa da Sensa, ou Ascensão de Nosso Senhor, no dialeto veneziano.

As populações católicas da região haviam pedido ajuda à República Sereníssima contra as contínuas investidas dos piratas. Para atendêlas, o Doge Pietro II Orseolo organizou uma poderosa frota de 35 naus abençoada pelo Bispo, Dom Domenico Gradenigo, o qual entregou ao comandante um novo estandarte com o símbolo de São Marcos, padroeiro da cidade: o leão alado de ouro sobre fundo vermelho. A esquadra desmantelou as bases dos piratas e arrasou sua principal cidade. Com isso, o mar Adriático ficava livre de pilhagens.

Em lembrança dessa vitória, todos os anos o Doge embarcava no melhor navio de Veneza e dirigiase com o Bispo até a entrada do porto. O prelado benzia uma porção de água, aspergia o Doge e o povo, e implorava: “Dignai-Vos, Senhor, fazer que este mar seja tranquilo, tanto para nós como para todos os que o sulcarem!”. Dito isso, despejava o resto da água benta nas ondas.

E assim foi até que em 1176, pela fidelidade do Doge de Veneza à Sé romana contra as pretensões do imperador Frederico I Barbarroxa, o Papa Alexandre III presenteou-o com um anel de ouro, dizendo-lhe: “Recebei-o como penhor da soberania que vós e vossos sucessores tereis perpetuamente sobre o mar”.

Desde então, a festa da Sensa mudou de aspecto.

“Esposamos o mar”

A nave mais bela de Veneza era chamada Bucintoro.

A origem do nome é incerta, porém mais provavelmente ele deve provir da conjugação dos termos buzo (grande nau) e in oro (dourado). Daí a palavra italiana bucintoro.

O primeiro Bucintoro cuja descrição conhecemos data de 1311. Tinha dois conveses. O inferior destinava-se aos 96 remadores; o superior era recoberto de sedas, veludos e dourações, e dividido em dois salões: um para o Doge e seus principais convidados, outro para os demais nobres. A mesma estrutura permaneceria nas ulteriores versões da nau, de 1526, 1606 e 1729.

Na festa da Sensa, a população da cidade acompanhava o Bucintoro em gôndolas e barcas enfeitadas com ricos tecidos. Ao chegar à “porta do mar”, o Prelado benzia a água e um belo anel de ouro que, em seguida, o Doge jogava nas águas, declarando: “Esposamos o mar, como sinal de verdadeiro e perpétuo domínio”.

Assim transcorreram as sucessivas festas da Sensa até que, em 1798, o último Bucintoro foi saqueado e destruído pelas tropas do general Napoleão Bonaparte.

A maravilhosa nau não mais sulcou as águas da laguna, mas o seu mito perdura pelos séculos. (Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2009, n. 92, p. 50-51)

 
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