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Voz dos Papas


Reconciliação: Penitência!
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Somos criaturas limitadas, pecadores sempre necessitados de penitência e de conversão. Como é importante ouvir e aceitar tal exortação nesta nossa época!

Como povo de Deus começamos o caminho da Quaresma, tempo em que procuramos unir-nos mais intimamente ao Senhor, num movimento de reconciliação, para compartilhar o mistério da sua Paixão e da sua Ressurreição. A Liturgia de hoje propõe-nos antes de tudo o trecho do profeta Joel, enviado por Deus para chamar o povo à penitência e à conversão, por causa de uma calamidade (uma invasão de gafanhotos) que devasta a Judeia. Unicamente o Senhor pode salvar do flagelo e, por conseguinte, é necessário suplicá-lo com orações e jejuns, confessando o próprio pecado.

Oração e caminho de conversão cada vez mais autênticos

O profeta insiste sobre a conversão interior: “Voltai para Mim com todo o vosso coração” (2, 12). Voltar para o Senhor “com todo o vosso coração” significa empreender o caminho de uma conversão não superficial nem transitória, mas sim um itinerário espiritual que diz respeito ao lugar mais íntimo da nossa pessoa. Com efeito, o coração é a sede dos nossos sentimentos, o centro no qual amadurecem as nossas escolhas e as nossas atitudes. Aquele “voltai para Mim com todo o vosso coração” não se refere unicamente aos indivíduos, mas estende-se à comunidade inteira, é uma convocação dirigida a todos: “reuni o povo; santificai a assembleia, agrupai os anciãos, congregai as crianças e os lactentes; saia o recém-casado dos seus aposentos, e a esposa da sua câmara nupcial” (2, 15-16).

O profeta medita de maneira particular sobre a prece dos sacerdotes, observando que ela deve ser acompanhada de lágrimas. Far-nos-á bem a todos, mas especialmente a nós sacerdotes, no início desta Quaresma, pedir o dom das lágrimas, de modo a tornar a nossa oração e o nosso caminho de conversão cada vez mais autênticos e sem hipocrisia. Far-nos-á bem interrogar-nos: “Eu choro? O Papa chora? Os Cardeais choram? Os Bispos choram? Os consagrados choram? Os sacerdotes choram? Há pranto nas nossas orações?”.

Praticar as boas obras confiando unicamente na recompensa do Pai

É precisamente esta a mensagem do Evangelho deste dia. No trecho de Mateus, Jesus volta a ler as três obras de piedade previstas na Lei Mosaica: a esmola, a oração e o jejum. E distingue a situação exterior da interior, daquele chorar com o coração. Ao longo do tempo, estas prescrições foram corroídas pela ferrugem do formalismo exterior, ou até se transformaram num sinal de superioridade social.

Jesus põe em evidência uma tentação comum nestas três obras, que se pode resumir precisamente na hipocrisia (que é mencionada três vezes): “Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes admirados por eles… Quando, pois, deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas… Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé… para serem vistos pelos homens… E quando jejuardes, não tenhais um ar triste, como os hipócritas” (Mt 6, 1?2.5.16). Irmãos, estai conscientes de que os hipócritas não sabem chorar, já se esqueceram de como se chora, não pedem o dom das lágrimas.

Deixemo-nos reconciliar com Deus!

Estimados irmãos e irmãs, o Senhor nunca Se cansa de ter misericórdia de nós, e deseja oferecer-nos mais uma vez o seu perdão – todos nós temos necessidade disto – convidando-nos a voltar para Ele com um coração novo, para haver a reconciliação, através da purificação pelas lágrimas, para participar na sua alegria.

Como responder a este convite? É São Paulo quem no-lo sugere: “Rogamos-vos, em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus!” (II Cor 5, 20). Este esforço de conversão não é apenas uma obra humana, mas significa deixar-se reconciliar. A reconciliação entre nós e Deus é possível graças à misericórdia do Pai que, por amor a nós, não hesitou em sacrificar o seu único Filho.

Com efeito, Cristo, que era justo e não conhecia o pecado, fez-Se pecado por nós (cf. II Cor 5, 21), quando na Cruz assumiu os nossos pecados, e deste modo nos resgatou e justificou diante de Deus. “N’Ele” nós podemos tornar-nos justos, n’Ele nós podemos mudar, se acolhermos a graça de Deus e não deixarmos passar em vão este “momento favorável” (II Cor 6, 2). Por favor, paremos, detenhamo-nos um pouco para nos deixarmos reconciliar com Deus!

Somos criaturas limitadas, necessitadas de penitência, conversão e reconciliação

Com esta consciência, encetemos confiantes e jubilosamente o itinerário quaresmal. Maria, Mãe Imaculada, sem pecado, sustente o nosso combate espiritual contra o pecado, acompanhando-nos neste momento favorável, a fim de que possamos entoar juntos a exultação da vitória no dia da Páscoa. E como sinal da vontade de nos deixarmos reconciliar com Deus, além das lágrimas que estarão “no segredo”, em público também realizaremos o gesto da imposição das cinzas sobre a cabeça.

O celebrante pronuncia as seguintes palavras: “Recorda-te que és pó, e pó te hás de tornar” (cf. Gn 3, 19), ou então repete a exortação de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (cf. Mc 1, 15). Ambas as fórmulas constituem uma evocação da verdade acerca da existência humana: somos criaturas limitadas, pecadores sempre necessitados de penitência, de conversão e de reconciliação.

Como é importante ouvir e aceitar tal exortação nesta nossa época! Por isso, o convite à conversão constitui um impulso a voltar, como fez o filho da parábola, aos braços de Deus, Pai terno e misericordioso, a chorar naquele abraço, a confiar n’Ele e a entregar-se a Ele.

Homilia na Missa de Quarta-Feira de Cinzas, 18/2/2015 – Revista Arautos do Evangelho. Abril/2015, n. 160, p. 6-7.
 
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