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Contos Infantis


A mais bela coroa de flores
 
AUTOR: MARIA TEREZA DOS SANTOS LUBIÁN, EP
 
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A jovem noviça submeteu-se, embora um pouco inconformada interiormente. Duvidava que tão breves orações pudessem agradar tanto à Santíssima Virgem...

Os duques Catarina e Rodrigo viviam desconsolados: não tinham herdeiros! Contudo, jamais deixavam de invocar a Rainha de Misericórdia, suplicando-Lhe um descendente. E tanta perseverança, afinal, teve seu prêmio: atendendo às orações, promessas, penitências e até jejuns, Nossa Senhora lhes concedeu uma linda menina, a quem deram o nome de Mariana.

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Rezando ali em profundo recolhimento,
sentiu-se tomada por uma graça…

Grande foi a alegria da corte e do povo quando ela veio à luz e, sobretudo cinco dias depois, ao ser realizado com toda a pompa o Batismo da pequena, na catedral. Era a festa da Assunção de Maria e os duques também a consagraram à Mãe de Deus. Passava o tempo e Mariana crescia em idade e devoção à Santíssima Virgem. Tornou-se uma criança cheia de graça e encanto, obediente aos pais, inteligente e muito responsável.

Ela costumava, ao entardecer, passear pelo jardim do castelo, onde havia uma imagem de Nossa Senhora em tamanho natural. Uma tarde, rezando ali em profundo recolhimento, sentiu-se tomada por uma graça e decidiu entregar-se por inteiro nas mãos de seu Divino Filho: tão logo a idade o permitisse, entraria numa ordem religiosa. Como penhor desta resolução, firmou o propósito de, até o fim da vida, tecer diariamente uma coroa de flores e oferecê-la Àquela a quem se tinha confiado. Quando estava já mocinha, Mariana comunicou aos pais sua deliberação. Embora fosse filha única, ambos ficaram muito felizes. Decerto Deus reservara para Si aquela jovem nascida em circunstâncias tão especiais.

Ao ingressar no convento, recebeu o nome de irmã Maria do Imaculado Coração. Continuando seu antigo costume, às tardes colhia flores no jardim e as levava para sua cela, a fim de que a graciosa imagem da Mãe do Divino Amor, que trouxera da casa dos pais, nunca ficasse sem sua coroa de botões frescos, coloridos e perfumados. A superiora, ao saber deste propósito feito na infância, achou-o belíssimo e autorizou-a a continuá-lo no seio da vida comunitária.

Alguns meses mais tarde, a madre mandou chamá-la. Deveria partir sem demora para a cidade, em companhia da irmã Ana de São José, para buscar algumas doações. Mal ouvira a ordem, irmã Maria estremeceu em seu interior: a viagem demoraria vários dias, durante os quais não poderia observar o trato feito com a Rainha do Céu…

A bondosa superiora logo percebeu a aflição da noviça e procurou tranquilizá-la, recordando-lhe que, para uma religiosa, a obediência é mais importante do que qualquer outro ato de devoção. E ordenou que, durante o tempo que passaria fora do convento, oferecesse à Santíssima Virgem, a cada dia, dez Ave-Marias e cinco Pai-Nossos, garantindo-lhe que tais orações agradariam a Nossa Senhora ainda mais que as flores.

A jovem submeteu-se, embora um pouco inconformada interiormente. Duvidava que tão breves orações pudessem agradar tanto à Santíssima Virgem quanto a singela coroa que sempre preparava com todo carinho e esmero…

Na manhã seguinte, as noviças acomodaram-se na carruagem contratada pela irmã ecônoma e partiram. Ao cair da tarde, chegaram à residência de um casal de benfeitores, onde ficariam hospedadas. Logo que entrou em seus aposentos, irmã Maria se ajoelhou e rezou as orações determinadas pela madre. Por primeira vez iria dormir sem poder cumprir a promessa que fizera…

Terminada a missão, chegou a hora do regresso. Uma forte tempestade deixara as estradas intransponíveis, obrigando-as a seguir por um caminho secundário, que atravessava uma floresta solitária. A certa altura do percurso, uma das rodas começou a ranger de modo alarmante. Os cocheiros pararam a carruagem para repará-la e as religiosas aproveitaram o tempo de espera para passearem um pouco pelo bosque. “Quem sabe conseguiriam encontrar ali algumas flores para oferecer a Nossa Senhora”, pensava irmã Maria…

Mal sabiam o que as aguardava… Três ladrões, famosos por sua crueldade, encontravam-se escondidos em meio à mata esperando uma vítima!

Caminhando tranquilas, sem nada suspeitar, conversavam elas sobre os mais variados assuntos. Lembrando-se de que ainda não havia rezado as orações de sua obediência, irmã Maria do Imaculado Coração propôs à companheira que as recitassem em conjunto.

Sem perceber se aproximavam dos bandidos, ocultos detrás das folhagens… Mas, no momento em que estes se dispunham a assaltá-las, uma visão celestial os deteve: junto às religiosas, uma formosa Senhora, cheia de luz, fazia brotar dos lábios da irmã Maria uma rosa vermelha ou branca por cada Pai-Nosso ou Ave-Maria que ela rezava, e as tomava em suas alvíssimas mãos. Terminadas as preces, a régia Dama teceu com aquelas flores uma magnífica coroa e desapareceu, elevando-Se ao Céu.

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 A cada Pai-Nosso ou Ave-Maria, aquela
formosa Senhora fazia brotar uma rosa
vermelha ou branca

Espantados com o que viam, trêmulos, os ladrões se aproximaram das duas freiras e perguntaram-lhes:

– Quem era aquela Senhora mais brilhante que o Sol?

As duas nada entendiam… De onde saíram semelhantes malfeitores? De que estavam falando? Ainda um pouco assustada, irmã Ana de São José respondeu que não havia ninguém no bosque, além delas e dos cocheiros…

Os bandidos insistiam que tinham visto uma fulgurante Senhora a seu lado. E, apontando para irmã Maria, explicaram que a Dama retirava rosas vermelhas e brancas de sua boca, com as quais teceu uma coroa reluzente de flores.

Irmã Maria compreendeu que a Santíssima Virgem usara deste meio tão singular para repreender sua incredulidade. Contou aos admirados ladrões a promessa que fizera, as orações impostas pela superiora e a desconfiança interior com que acatara sua ordem. A cena à qual eles assistiram mostrava que aqueles Pai-Nossos e Ave-Marias eram por Ela acolhidos com maior agrado do que a mais bela coroa de flores.

Arrependidos, os bandidos retiraram-se, rogando às religiosas que rezassem por eles, e fizeram o propósito de emendar sua vida.

Chegando ao convento, as duas noviças contaram às suas irmãs o sucedido e decidiram rezar em conjunto, a partir de então, não apenas dez Ave-Marias e cinco Pai-Nossos, mas o Santo Rosário em honra a Maria Santíssima. Assim, a comunidade ofereceria a Nossa Senhora, todos os dias, uma coroa de flores de inigualável valor! (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2015, n. 161, pp. 46-47)

 
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