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Palavra dos Pastores


Qual é a solução de Jesus?
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Jesus apresenta-nos o caminho para saciar não só a nossa fome, mas também a do mundo. Este passa necessariamente por fazer a vontade do Pai, manifestada no Verbo e realizada no Espírito que dá a verdadeira vida.

Dom Edgar Peña Parra
Núncio Apostólico em Moçambique


Queridos irmãos e irmãs, antes de passar à nossa reflexão sobre a Palavra de hoje, quero agradecer o vosso gentil convite para celebrar a Eucaristia convosco. Esta é uma ótima oportunidade para rogar a Deus que nos conceda a todos a graça de ser fiel à sua vontade e, de modo especial, ao vosso carisma dentro desta Igreja de Moçambique.

.Milagre da multiplicação dos pães e dos peixes (detalhe) - Biblioteca do Mosteiro de Yuso, São Millán de la Cogolla (Espanha).jpg
Nem com mais de meio ano de trabalho
se poderia alimentar essa multidão; é
impossível resolver este problema por
nossas próprias forças

Solicitude de Deus perante a “fome” da multidão

A Palavra deste domingo nos ajuda a repensar a nossa adesão a Deus e a nossa experiência de vida comunitária, apresentando-nos um tema fundamental: a “fome” da multidão.

A multidão que segue Jesus tem fome e não tem o que comer (cf. Jo 6, 5-6). Esta passagem de clara conotação veterotestamentária – fazendo referência ao Êxodo e à travessia no deserto – mostra a solicitude de Deus, que responde às necessidades do seu povo. De igual forma Jesus apercebe-Se da situação do povo, da nossa situação, e busca uma solução.

Devemos, portanto, perguntar-nos qual é a solução de Jesus. Antes de apresentá-la, porém, convém ressaltar que Ele envolve desde o ­primeiro momento a comunidade dos seus discípulos. A comunidade de Jesus precisa sentir-se responsável pela “fome” dos homens e tem de sentir que é a sua responsabilidade e missão saciar essa “fome”.

Problema impossível de resolver por nossas próprias forças

Neste sentido, João diz-nos que Jesus apresenta este problema aos seus discípulos, representados por Filipe, para ver como eles vão resolver a “fome” do mundo. Será no sistema econômico vigente, que se baseia no egoísmo e no poder do dinheiro, em resumo, em trocas comerciais? Ou haverá outro caminho? Constatamos que os discípulos, num primeiro momento, estão nesta lógica comercial. Filipe, com efeito, reconhece que “duzentos denários não bastariam para dar um pedaço a cada um” (6, 7). Um denário equivalia ao salário base de um dia de trabalho. Então, nem com mais de meio ano de trabalho se poderia alimentar essa multidão. Dito de outra maneira, é impossível resolver este problema por nossas próprias forças.

Dom Edgar Peña na Casa dos Arautos de Matola.jpg
Dom Edgar Peña foi recebido com o Hino Pontifício à sua chegada na Casa dos Arautos de
Matola; a seguir, (foto abaixo)o Núncio presidiu a Celebração Eucarística, que
foi concelebrada pelo Pe. Alessandro Schurig, EP, auxiliado pelo Diác. Diego Faustino, EP

Somos, pois, convidados por Jesus a abandonar este sistema e a encontrar outro. André, Apóstolo desde a primeira hora e, portanto, mais íntimo do Mestre, apresenta uma solução diferente (cf. Jo 6, 8-9), mas não está muito convicto dos resultados, afinal “o que é isso para tanta gente?” (6, 9). Ou seja, André sabe que deve haver outro sistema, contudo, não crê que resulte.

Para Deus, tudo é possível

Ora, Jesus vai mostrar que realmente existe outro sistema. “Aquilo que é impossível aos homens é possível a Deus” (Lc 18, 27). Tudo é possível para Deus e, ademais, Ele não abandona ninguém. Diante da incerteza ou da pouca fé dos discípulos, Jesus diz “não faltará, e até sobrará”. O Senhor, que confia totalmente no Pai, sabe bem que a nossa resignação só pode ser vencida pela mão de Deus. A passagem evangélica de hoje nos fala de uns poucos pães de cevada (recordemos que o pão de cevada era o pão dos pobres, por oposição ao de trigo, mais rico e saboroso); Jesus precisa somente daqueles cinco pães de cevada. E é com esses pães pobres que Ele sacia cinco mil pessoas. É suficiente o pouco que temos – o pouco amor, a pouca compaixão, os poucos bens materiais, a pouca disponibilidade, o pouco tempo – para matar a fome, quer a da alma, quer a do corpo.

A tentação de nos agarrarmos a coisas estéreis

O desafio consiste em entregar nas mãos do Senhor este “pouco” que temos, e não perder tempo nas coisas que impedem que o Senhor atue. Quantas pessoas sozinhas, doentes, tristes, abandonadas, encontrariam consolação e conforto se nós déssemos, ao menos, um pouco mais do nosso tempo e do nosso coração! É necessário multiplicar a caridade, estender a compaixão, ir ao encontro de todo aquele que tenha urgência de ajuda, como insiste frequentemente o Papa Francisco: “Saí, para ir consolar os excluídos”.

Queridos irmãos e irmãs, quantas vezes não vivemos nós nesta tentação de agarrar-nos a tantas coisas estéreis e, aí, procurar a vida! E até coisas boas, até a própria ação pastoral. A questão é se nelas nos buscamos a nós próprios, na nossa esterilidade, ou buscamos a vontade de Deus.

Dom Edgar Peña na Casa dos Arautos de Matola2.jpg
O desafio consiste em entregar nas mãos do Senhor este “pouco” que temos, e não perder
tempo nas coisas que impedem que o Senhor atue

Com efeito, Jesus apresenta-nos o caminho para saciar não só a nossa fome como também a fome do mundo. Este passa necessariamente por fazer a vontade do Pai, manifestada no Verbo e realizada no Espírito que dá a verdadeira vida.

Peçamos ao Senhor que nos ajude cada dia a não ceder à tentação de apoiar-nos nas nossas forças, porque, de fato, sem Ele nada podemos fazer; e que o Imaculado Coração de Maria nos conduza cada vez mais a entregar-nos nos braços amorosos do Pai, de modo a viver da sua vontade para poder saciar a nossa fome e a fome do mundo. (Homilia na Casa dos Arautos do Evangelho em Matola, 26/7/2015) – Revista Arautos do Evangelho, Setembro/2015, n. 165, p. 38-39)

 
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