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Palavra dos Pastores


Na Encarnação, Cristo tornou-se Sacerdote para sempre
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Em 2006, na Catedral de São Paulo, diante de numerosos Arautos, Dom Benedito Beni dos Santos mostra como todos os atos da vida de Jesus foram sacerdotais, e como a Virgem Maria cumpriu sua missão de apresentá-Lo ao mundo inteiro.

Dom Benedito Beni dos Santos

A liturgia da festa de hoje, a Apresentação do Senhor, é bela e rica. Ela nos mostra diversos aspectos do mistério de Cristo. Na primeira leitura, o profeta Malaquias anuncia a vinda do Messias ao mundo. Ele não será, segundo o profeta, aquele Messias político esperado pelo povo. Será o Messias Redentor que, com o fogo da graça, vai purificar o povo de seus pecados. A segunda leitura faz eco à primeira: o autor da Carta aos Hebreus afirma que Jesus é o Sumo Sacerdote, cheio de misericórdia, que veio para expiar os nossos pecados.

O sacerdote, um mediador escolhido pelo próprio Deus

No Novo Testamento, o texto que trata oficialmente do sacerdócio de Cristo é justamente a Carta aos Hebreus. Segundo esta carta, o sacerdote é o representante legítimo do povo perante Deus. É ele que oferece orações e sacrifícios pelo pecado do povo. O sacerdote é o mediador entre Deus e os homens. Aqui vem um pormenor significativo: o sacerdote é um mediador escolhido, não pelos homens, não pela comunidade, mas pelo próprio Deus.

Por assim dizer, a tese central da Carta aos Hebreus é esta: o sacerdócio de Cristo é único e original. É diferente do sacerdócio existente nas outras religiões. Diferente até mesmo do sacerdócio levítico do Antigo Testamento e do tempo de Jesus.

Ensina a Carta aos Hebreus que o filho de Deus tornou-se sacerdote para sempre na sua Encarnação. Portanto, irmãos e irmãs, a Catedral na qual o Filho de Deus foi ordenado sacerdote é o ventre puríssimo da Virgem Maria. O primeiro sacrifício que Ele ofereceu a Deus, segundo a Carta aos Hebreus, foi o seu ato de obediência aceitando a nossa natureza, a nossa condição humana: “Eis por que, ao entrar no mundo, Cristo diz: ‘Não quiseste sacrifício nem oblação, mas me formaste um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não me agradam.’ Então eu disse: ‘Eis que venho (porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade’ (Sl 39, 7ss)” (Hb 10, 5-7)

Segundo a mesma Carta, Jesus Cristo exerceu em plenitude o seu sacerdócio na Cruz, mas toda a sua vida foi sacerdotal. Todos os atos de sua vida foram sacerdotais, porque a sua existência esteve sempre marcada pela Cruz. A própria Encarnação foi, de certo modo, uma Cruz. Segundo São Paulo, no capítulo II da Carta aos Filipenses: na Encarnação houve a “keluzis”, palavra grega que significa escondimento, despojamento. Na Encarnação, Ele escondeu a sua divindade, para assumir a condição de servo, do servo Redentor proclamado por Isaías: foi obediente ao Pai até à morte, e morte de Cruz.

Toda a vida de Jesus foi marcada pela contradição

O nascimento de Jesus esteve também marcado pela Cruz: nasceu na pobreza de uma manjedoura. A sua infância esteve marcada pela Cruz: algum tempo após seu nascimento, Herodes o procura para matar. Toda a sua vida, todo o seu ministério, conforme proclamou Simeão no Templo, esteve marcado pela contradição: acolhimento por parte de tantos, mas também rejeição, perseguição, até chegar à Cruz no Calvário.

Apresenta??o no Templi - RAE 51.JPGFinalmente, conforme ensina a Carta aos Hebreus, após a Ressurreição, Jesus, como Sumo e Eterno Sacerdote, penetra no santuário celeste para apresentar ao Pai o seu sacrifício. É essa apresentação eterna de Jesus ao Pai que é a fonte de reconciliação, de redenção para toda a humanidade.

A festa da Apresentação do Senhor no Templo é, de certo modo, um anúncio e também uma realização antecipada do seu sacrifício na Cruz. Sacrifício em que Ele foi ao mesmo tempo sacerdote e vítima. No Templo, Simeão afirma que ele será um sinal de contradição. Isso nós vemos no ministério de Jesus. Ele é acolhido por muitos como Salvador, desde o primeiro dia na sinagoga de Nazaré, mas outros O rejeitam, O combatem até levá-lO à Cruz.

Cristo, Salvador e Senhor: três títulos da identidade de Jesus

Foi ainda no Templo que Simeão se voltou para Nossa Senhora e Lhe disse: “Uma espada de dor atravessará a tua alma” (Lc 2,35). Com estas palavras, Simeão mostrou claramente a participação única e original de Maria no sofrimento redentor de Cristo.Esta profecia feita no momento em que o Menino Jesus foi apresentado no Templo, ela cumpriu-se no alto do Calvário: enquanto a lança do soldado atravessava o Coração de Jesus, uma espada de dor atravessou a alma de Maria.

Creio que muitas pessoas que se encontram nesta Catedral assistiram ao filme de Mel Gibson, “A Paixão de Cristo”.

Nesse filme existe uma cena comovente: Jesus está crucificado, Nossa Senhora se aproxima da Cruz e beija os seus pés ensangüentados. Os lábios de Nossa Senhora ficam tintos do Sangue preciosíssimo de seu Divino Filho. Ela olha para Ele e apenas exclama: “Osso de meus ossos, carne de minha carne!” Aquele corpo do Filho de Deus feito Homem, que nos redimiu na Cruz, é de fato osso de Nossa Senhora, carne de sua carne. Maria pode ser chamada, de certo modo, a Co-Redentora da humanidade.

Irmãos e irmãs, a festa da Apresentação do Senhor no Templo é, de certo modo, o ponto mais alto do Natal. Na noite de Natal, o mensageiro divino revelou a identidade do Menino que acabava de nascer: “Eu vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na cidade de David um Salvador, que é o Cristo, o Senhor” (Lc 2, 10-11).

Esses três títulos – Salvador, Cristo e Senhor – exprimem a identidade de Jesus. Ele é o Salvador, Ele é o Cristo (o Messias enviado por Deus ao mundo), Ele é o Senhor, “Kyriós”, que, na Sagrada Escritura, significa uma Pessoa divina.

Na festa da Apresentação do Senhor no Templo, esta identidade fica completa: além de ser o Salvador, o Messias, o Ser Divino, Ele é também nosso Redentor, sacerdote e vítima ao mesmo tempo.

A devoção a Nossa Senhora nasceu aos pés da Cruz

Na festa de hoje, Maria, com seu esposo José, apresenta o Menino Jesus no Templo. Esta é de fato a missão de Nossa Senhora: apresentar Jesus, mostrar Jesus ao mundo. Na noite de Natal, Ela mostrou Jesus ao povo judeu, representado pelos pastores. Ela mostrou Jesus a todos os povos da terra, representados na Epifania pelos magos. E hoje, no centro religioso de Israel, o Templo, Ela também apresenta Jesus.

Por isso mesmo, irmãos e irmãs, a devoção a Nossa Senhora não é algo acidental na vida do cristão. Conforme João Paulo II, a devoção a Nossa Senhora é a mais antiga na Igreja. Ela nasceu ao pé da Cruz, quando Jesus, vendo ali sua Mãe e um de seus discípulos, o discípulo amado, disse-Lhe: “Mulher, eis aí o teu Filho. E depois disse ao discípulo: eis aí a tua mãe!” (Jo 19, 26-27)

O Evangelho não registra o nome daquele discípulo. E não o registra de propósito, porque aquele discípulo, que estava ao pé da Cruz e recebeu Nossa Senhora por mãe, representava todos os discípulos de Jesus: os daquele tempo, os que surgiram no decorrer da História, os discípulos de hoje. Representava a todos nós!

O autor do quarto Evangelho, um grande teólogo, observa que o discípulo recebeu Nossa Senhora em sua casa. Que casa é esta? Antes de tudo, a casa do próprio coração. Portanto, a devoção a Nossa Senhora pertence à identidade do discípulo de Jesus: o verdadeiro cristão é aquele que reserva um lugar muito especial para Nossa Senhora, antes de tudo na casa de seu coração. E nisso consiste a devoção a Nossa Senhora: reservar um lugar muito especial para Ela em nosso coração, depois em nossa família, em nossas comunidades, em todo o mundo.

Todos nós devemos ser “luz e salvação”, pelo anúncio do Evangelho

A festa de hoje é também celebrada com muita luz, porque na Apresentação Simeão proclamou que Jesus era a luz para iluminar todos os povos.

Luz, na Sagrada Escritura, significa salvação. Portanto, Jesus foi proclamado, nessa ocasião, Salvador não só do povo judeu, mas também de todos os povos da terra. Nós, cristãos, como afirma São Paulo, somos filhos da Luz. Também devemos ter em nossas mãos uma lâmpada acesa, para iluminar a todos; ou seja, devemos ser, para todos, sinal de salvação.

Somos sinal de salvação através de nossas boas obras. “Brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos Céus”, disse Jesus (Mt 5, 16). Nós somos luz e salvação quando obedecemos ao Evangelho. Mas, sobretudo, somos luz e salvação quando somos evangelizadores, somos arautos do Evangelho e nos tornamos missionários.

Que esta seja, pois, a conclusão da nossa reflexão nesta festa: sermos, verdadeiramente, no mundo secularizado de hoje, luz de salvação para todas as pessoas.

(Revista Arautos do Evangelho, Março/2006, n. 51, p. 22)

 
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