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Palavra dos Pastores


Confessar em nome do Santo Padre
 
AUTOR: EDUARDO CABALLERO
 
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Frei Isidoro Liberale Gatti é um franciscano conventual que há oito anos pertence ao Colégio dos Penitenciários Apostólicos da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Sua voz suave e firme, suas expressões claras e precisas, suas atitudes paternais e atentas, revelam uma grande experiência no cuidado das almas. Proveniente da Região do Vêneto, Frei Gatti está a serviço direto do Santo Padre, tendo a missão particular de atender no confessionário os peregrinos "pro Gallica Natione", isto é, os provenientes de países francófonos. No verão de cada ano, ele viaja a Paris, onde é também confessor e pregador na Basílica do Sagrado Coração de Montmartre.

Entrevista com um Penitenciário Apostólico

Arautos do Evangelho: O que é a Penitenciaria Apostólica?

Frei Isidoro Liberale Gatti_1.JPG
“Os penitenciários apostólicos são
nomeados pelo Papa e estão
diretamente  a  serviço
da Santa Sé”
Fotos: Victor Toniolo

Frei Liberale Gatti: É um tribunal apostólico que tem competência no foro interno, isto é, sobre tudo quanto diz respeito à consciência dos fiéis, seja para a absolvição de certos pecados reservados à Santa Sé, seja para dispensas também a ela reservadas. A Penitenciaria Apostólica se ocupa também da concessão das indulgências. Recentemente, por exemplo, foi concedida uma indulgência especial para o Ano da Eucaristia. O responsável pela Penitenciaria Apostólica é um cardeal, chamado de Penitenciário Maior, nomeado pelo Papa. Nós, confessores, somos “penitenciários menores”.

AE: Por que esse título de “penitenciários apostólicos”?

Frei Gatti: O nome penitenciário deriva do ministério a nós confiado, o de ministrar o Sacramento da Penitência ou da Reconciliação (também chamado da Confissão), ou seja, com sabedoria e caridade acolhedora, fazer as almas pecadoras se encontrarem com a misericórdia de Deus e com sua Palavra. O Sacramento da Penitência é destinado a apagar os pecados pessoais cometidos depois do Batismo, antes de tudo os mortais, e também os veniais.

São penitenciários “apostólicos” porque são nomeados pelo Papa e estão diretamente a serviço da Santa Sé. Podem atender Confissão em qualquer parte do mundo.

AE: Como um sacerdote se torna penitenciário apostólico?

Frei Gatti: Os sacerdotes penitenciários são escolhidos pelo Superior Geral de sua respectiva Ordem religiosa entre os membros que têm uma certa experiência de atender confissões em igrejas importantes, e que possuem uma doutrina moral e canônica adequada pelo menos ao comportamento humano nos casos comuns, unida à prudência pastoral e à humildade.

O Superior Geral apresenta o candidato à Penitenciária Apostólica, que o submete a um exame de teologia moral e de direito, perante uma comissão composta pelo Cardeal, o Regente, um teólogo e um canonista. Uma vez aprovado, o novo penitenciário faz um juramento nas mãos do Cardeal Penitenciário, de confessar sempre segundo a doutrina do magistério ordinário e extraordinário da Igreja.

Cada penitenciário deve conhecer pelo menos duas línguas. Na Basílica de São Pedro confessa- se em italiano, francês, alemão, espanhol, português, inglês, húngaro, maltês, croata, esloveno, russo, polonês, ucraniano, e também em chinês!

AE: O que é o “Colégio dos Penitenciários?

Frei Gatti: O “Colégio” é um grupo de penitenciários menores incumbidos das confissões em uma das quatro basílicas patriarcais romanas, e que vivem em comunidade sob a direção de um superior ou reitor. O Papa São Pio V estabeleceu, entre 1568 e 1569, três colégios: o Colégio Vaticano, para a Basílica de São Pedro, confiado aos jesuítas; o Colégio Lateranense, para a Basílica de São João, confiado aos franciscanos (Frades Menores); e o Colégio Liberiano, para a de Santa Maria Maior, confiado aos dominicanos. O Papa Clemente XIV, pelo breve Miserator Dominus, de 10 agosto de 1774, colocou em São Pedro, no lugar dos jesuítas, os franciscanos conventuais.
Em 1933 o Papa Pio XI instituiu o Colégio Ostiense, para São Paulo Extramuros, confiando-o aos beneditinos.

AE: O senhor falou de “pecados reservados”. Do que se trata?

Frei Gatti: Trata-se de alguns pecados gravíssimos que, infelizmente, ofendem gravemente a Deus e à Igreja. Po

Frei Isidoro Liberale Gatti.JPG
“Alguns penitentes, ao se confessar com um Penitenciário
Apostólico, tem a impressão de fazê-lo com o próprio Papa.”

r exemplo, quem profana a Eucaristia, levando hóstias consagradas para jogar em lugares imundos, ou para usar em atos sacrílegos, como a celebração de “missa negra”. Ou então quem comete um ato de violência física contra a pessoa do Papa.

Aos pecados reservados é aplicada uma excomunhão cuja absolvição é reservada ao Papa. O penitenciário que recebe a confissão de tais pecados não pode absolvê-los, mas deve escrever, mantendo em segredo o nome do pecador, ao Cardeal Penitenciário, e esperar a resposta e a indicação da penitência a cumprir como expiação.

Existem graus nas “reservas”. Por exemplo, a excomunhão aplicada a quem provoca um aborto, ou a quem fraudulentamente grava ou divulga nos meios de comunicação social aquilo que foi dito durante uma Confissão.
O penitenciário menor tem a faculdade de absolver dessas excomunhões.

AE: Então, para obter essa absolvição, é preciso vir a Roma…

Frei Gatti: A Igreja é mãe, e não pode se esquecer de seus filhos pecadores que vivem longe: no Congo, no Brasil, na Nova Zelândia…

Assim, em cada Igreja Catedral pode-se encontrar o confessionário do “Cônego Penitenciário”, ao qual todo fiel pode dirigir-se sem necessidade de vir pessoalmente a Roma. Caberá ao “Cônego Penitenciário” consultar a Penitenciaria Apostólica, conforme cada caso concreto.

Existem outras possibilidades, sempre tendo em vista o bem das almas, sobretudo se o penitente se encontra em perigo de morte. Mas não interessa entrar aqui em detalhes.

Permito-me, contudo, contar um pequeno caso pessoal. Quando eu era menino, minha paróquia era a Catedral de Treviso. Certo dia eu li, num dos confessionários, esta inscrição: “Cônego Penitenciário”. Fugi assustado, pensando: “Que padre ruim, que põe um cartaz avisando que dará penitências e castigos! Nunca me confessarei com ele!”

AE: O que procura e o que encontra o peregrino no penitenciário?

Frei Gatti: Procura o homem de Deus que se encontra junto ao túmulo de São Pedro, o lugar onde o primeiro Papa sofreu o martírio e no qual é glorificado. Muitos penitentes me fazem a confidência emocionada de que vieram confessar-se aqui, para “ver Pedro”. Alguns têm a impressão de confessar-se com o próprio Papa.

Procuram também o homem de Deus ao qual podem, com a liberdade do anonimato, confessar os pecados que não ousariam revelar ao sacerdote da sua própria paróquia.

O peregrino deve encontrar no penitenciário a sabedoria, a doçura e uma inesgotável paciência. Pois toda pessoa – qualquer que seja seu comportamento, mesmo se não pode ser aprovado – deseja ser respeitada e amada. E devemos recordar o que diz São Paulo: “Irmãos, se alguém for apanhado em alguma falta, cabe a vós, que sois animados pelo Espírito, corrigi- lo com mansidão. E sê vigilante, para não caíres também na mesma culpa” (Gl 6,1).

AE: Portanto, encontrase também uma grande alegria nesse ministério?

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“O peregrino deve encontrar no
penitenciário a sabedoria, a
doçura e uma inesgotável
paciência”
Arquivo pessoal Frei Liberale Gatti

Frei Gatti: Certamente. Existe a alegria de constatar como “o Onipotente faz grandes coisas”. Sente-se grande alegria quando vêm aqueles que dizem: “Eu pensei, e pensei bem. Vejo que escolhi o caminho errado e estou transviado. Decidi firmemente mudar de vida a partir de hoje, aconteça o que acontecer”. Ou então quando vem um penitente que diz: “Entrei na Basílica com meu grupo de turistas, sem a intenção de me confessar, porque não o faço há muitos anos. Vi, porém, os confessionários, vi as pessoas que se confessavam. Uma voz interior me convidava: por que você não vai também? E assim eu me decidi. O que pode haver de mais belo do que eu ser um desses penitentes que recuperam a paz com Deus e consigo mesmos?”

Outros vêm à Confissão atraídos pela beleza da arte, da arquitetura, da liturgia, dos cantos da Capela Sistina. A percepção da beleza se converte em admiração e desejo do bem, já que Deus age também através das características comuns a todos os homens: a aspiração ao Belo, ao Bom e ao Verdadeiro. A admiração da beleza pode restaurar no homem a vida moral.

Nesses momentos eu me sinto exatamente como disse de si mesmo, no primeiro dia de seu pontificado, nosso Papa Bento XVI: um humilde trabalhador na vinha do Senhor.

Aqui está, evidentemente, a obra do Espírito Santo. Afinal, o que fiz eu para atrair essas almas? O Paráclito já havia feito tudo.

(Revista Arautos do Evangelho, Fev/2006, n. 50, p. 12 à 14)

 
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