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Tesouros da Igreja


O palácio pobre de um poderoso rei
 
AUTOR: IR. JOSÉ ANTONIO DOMINGUEZ, EP
 
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O Escorial parece refletir a personalidade do Rei Filipe II. No exterior, sério, austero e dominador. No interior, um coração afetuoso, cheio de fé e ardente de zelo pela Igreja.

A “oitava maravilha do mundo” é o Mosteiro do Escorial, dizem com legítimo orgulho os espanhóis. Certamente os franceses discordarão, afirmando ser o Palácio de Versailles.

Mas, deixando de lado as compreensíveis parcialidades patrióticas de cada nação, convido o leitor a fixarmos juntos, por alguns instantes, a grandiosa fachada do Mosteiro do Escorial. Toda ela de austero granito cinza – as serranias das proximidades forneceram com generosa abundância essa pedra para a monumental construção – é quase desprovida de ornamentos. E o “quase” transforma- se em “nenhum” quando dobramos a esquina do edifício e contemplamos a outra fachada.

Será que faltou imaginação ao arquiteto ou foi intencional essa ausência de ornamentos externos, no edifício?

É natural que se faça a pergunta. Mas, convenhamos: para um mosteiro, fica bem a austeridade, a pobreza. Acho que até aqui concordamos. No entanto, sem querer diminuir o mérito do construtor, deixar uma fachada, assim, sem nenhum adorno, com o granito exposto e sem acabamento, dá uma nota de rudeza demasiadamente acentuada. Pelo menos uma pintura… Não deixaria de ser pobre, mas o edifício ficaria mais acolhedor.

Tanto mais que este mosteiro era ao mesmo tempo um palácio real. Sim, nele habitou, com a sua corte, um dos monarcas mais poderosos de seu tempo, que foi também Rei do Brasil: Filipe II, da Espanha (do Brasil e de Portugal era Filipe I). É preciso dizer: foi dos reis mais fervorosamente católicos de sua época.

* * *

Voltemos, porém, ao Mosteiro-Palácio do Escorial. Afinal, um rei tão poderoso – que chegou a ponto de mandar pôr, no alto da agulha da cúpula da basílica, um tijolo de ouro maciço, para selar sua determinação de levar até o fim aquela imensa obra – não podia gastar um pouquinho mais em ornamentação? O contraste é, até, chocante.

Mas o simples fato de um rei querer estabelecer a sua corte num mosteiro, de si, já lhe acrescenta algo de impalpável e de legendário que nenhum adorno seria capaz de dar.

E por mais que, à primeira vista, essa austeridade choque, talvez seja este um dos aspectos mais belos do mosteiro: o contraste entre a rudeza do exterior e o esplendor da basílica no seu interior.

* * *

O Escorial parece refletir a personalidade do Rei Filipe II. No exterior, sério, austero e dominador. No interior, um coração afetuoso, cheio de Fé e ardente de zelo pela Igreja.

Seria de supor que quem construiu uma obra tão grandiosa reservasse para si aposentos amplos e luxuosos. No entanto, também aqui encontramos mais um belo contraste. O apartamento privado do rei não é muito maior do que a cela de um monge. E tem uma singular particularidade: Filipe II o quis situar o mais próximo possível do Santíssimo Sacramento; a porta de seu escritório e a de seu quarto de dormir se abrem para o presbitério da basílica, pois o rei queria viver, trabalhar e dormir, sempre, na presença do Rei dos reis. Quase se diria que o rei levava vida de monge: sublime exemplo!

* * *

Um episódio de sua vida deixa transparecer a fé que o animava. Numa idade que já estava bem longe da juventude, morreu seu único herdeiro, o Príncipe Carlos Lorenzo, vitimado por uma daquelas mortais febres tão freqüentes então. Situação paradoxal. O rei que sob seu poder reuniu um dos impérios mais extensos da História, ficara sem herdeiros. Consternação e tristeza na Corte e na Espanha inteira. Não parecia aquilo castigo de Deus? Filipe II não se perturbou: confiava na Providência. Se Deus tinha querido levar para junto de Si o Príncipe herdeiro, em idade tão jovem e ainda inocente, isso não era motivo de tristeza, mas de alegria, pois com toda a certeza se podia crer que ele estava no Céu. Então, todos deveriam dar graças a Deus, por isso. E Filipe II (rico em contrastes…) não permitiu as habituais manifestações de luto na Corte, pela morte do herdeiro da Coroa.

Quanta riqueza de alma por trás da fisionomia severa de Filipe II! Quanto esplendor se encobre atrás dos muros sólidos e austeros do Mosteiro do Escorial!

Não é verdade que o esplendor ganha realce quando posto em contraste com a austeridade? (Revista Arautos do Evangelho, Dez/2005, n. 48, p. 50-51)

 
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