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Catecismo


O maior milagre da História
 
AUTOR: IR. MARIANA DE OLIVEIRA, EP
 
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Entre as manifestações divinas de misericórdia e justiça, em qual delas Deus Se mostra mais poderoso? Qual das duas atrai milagres mais sublimes?

Misericórdia e justiça são uma constante em toda a ação de Deus na História, desde que Ele próprio guiava o povo eleito, herdeiro da promessa da Redenção, como também ao longo de toda a Era Cristã.

Uma inquietude, porém, sempre se faz presente na mente humana em todos os tempos: o que afinal tem mais valor ou importância, a divina justiça ou sua misericórdia? Em qual delas Deus manifesta mais o seu poder? Qual das duas atrai milagres mais sublimes?

Jesus cura o paralitico na piscina de Siloe - Copia de Bartolome Esteban Murillo - Hospital de La Caridad - Sevilha.jpg
Paradoxo maior não há: o Inocente quis assumir sobre Si, por sua
misericórdia infinita, as deficiências corporais da natureza humana

É São Tomás quem responde, ao afirmar: “a onipotência de Deus se manifesta sobretudo perdoando e praticando a misericórdia, porque, por essas ações, se mostra que Deus tem o supremo poder”.

Então, discorramos com alguns fatos que não só ilustram, como patenteiam o aspecto mais alto do poder do Altíssimo exercido na misericórdia.

Uma dívida infinita paga com amor

Após o pecado original, a humanidade havia contraído uma dívida com o Criador. Todavia, como poderia o homem, finito como é, satisfazer o Infinito? Só mesmo alguém infinito poderia oferecer uma reparação à altura. Este foi o motivo, diz o mesmo São Tomás, da Encarnação de Cristo: “Era preciso pois, para uma satisfação condigna, que a ação do que satisfaz tivesse uma eficácia infinita, como a que procede do Homem-Deus”.

Tal satisfação desvenda o grande amor de Deus para conosco e revela um reflexo tão alto do poder divino, que escapa completamente tanto à cogitação humana quanto à angélica. Consideremos aqui um aspecto apenas, salientado por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP: “ao Se encarnar no seio puríssimo de Maria, Nosso Senhor fez o milagre negativo de assumir um corpo padecente”.

Eis o mistério que pasma toda criatura: Ele veio à nossa humanidade, sem deixar a divindade, para ser imolado no Sagrado Madeiro e, assim, comprar e reatar nossa amizade com Deus!

Milagre “negativo”: Deus Se faz Homem

Que milagre! De fato, o Doutor Angélico define o milagre como: “as coisas feitas por Deus fora das causas por nós conhecidas”.4 Muitas vezes, consiste ele na transformação de algo pequeno, ou até insignificante, em obra de grande valor. Ou na elevação de algo defeituoso ao seu estado de perfeição.

Pensemos, por exemplo, no coxo de nascença “que punham todos os dias à porta do Templo, chamada Formosa, para que pedisse esmolas” (At 3, 2). Supomos que os transeuntes deviam compadecer-se e dar-lhe, de vez em quando, algum óbolo. Mas, poucos anos depois de sua morte, quem se lembraria dele? Decerto os anais históricos não teriam jamais registrado sua existência, se um dia não tivesse sido alvo do retumbante milagre de voltar a andar, à voz de São Pedro: “em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!” (At 3, 6). Digamos ter sido este um milagre “positivo”.

O que seria, então, fazer um milagre “negativo”? Seria como se, em lugar de coxo, este homem fosse atlético, ativo e de muito bom porte físico, e um dos Apóstolos, certo dia, olhando bem para ele ordenasse o milagre “negativo” de instantaneamente ficar deficiente. Chamaríamos isto de desgraça, nunca de prodígio.

Ora, Nosso Senhor Jesus Cristo quis assumir sobre Si, por sua misericórdia infinita, as deficiências corporais da natureza humana e assim lavar-nos da infelicidade do pecado. Pois, “se o Filho de Deus houvesse assumido um corpo celeste, não teria tido verdadeiramente sede e fome, nem suportado a Paixão e a Morte”.

Paradoxo maior não há, por ser Ele o Inocente! É o que a Deus aprouve fazer por nós: Se encarnou pela nossa salvação, “realizando um milagre contra Si mesmo, pois preferiu tomar um corpo padecente”, àquele que por sua vida na glória não podia padecer!

O poder da misericórdia

O que a misericórdia do Todo-Poderoso não é capaz de fazer! Quanto poder!

Muitos milagres “positivos” houve no decorrer dos séculos, beneficiando inúmeros homens. Na vida pública do Salvador não houve doente que se apresentasse diante d’Ele com fé que não fosse curado. No entanto, para consigo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo quis fazer um milagre “negativo”, com o fim de resgatar aqueles que ama. São Leão Magno o descreve com estas belas palavras:

“A humildade foi assumida pela majestade, a fraqueza, pela força, a mortalidade, pela eternidade. Para saldar a dívida de nossa condição humana, a natureza impassível uniu-se à natureza passível. […]

“Assumiu a condição de escravo, sem mancha de pecado, engrandecendo o humano, sem diminuir o divino. Porque o aniquilamento, pelo qual o invisível se tornou visível, e o Criador de tudo quis ser um dos mortais, foi uma condescendência de sua misericórdia, não uma falha do seu poder. […]

“Entrou, portanto, o Filho neste mundo tão pequeno, descendo do trono celeste, mas sem deixar a glória do Pai; é gerado e nasce de modo totalmente novo. De modo novo porque, sendo invisível em Si mesmo, torna-Se visível como nós; incompreensível, quis ser compreendido; existindo antes dos tempos, começou a existir no tempo. O Senhor do universo assume a condição de escravo, envolvendo em sombra a imensidão de sua majestade; o Deus impassível não recusou ser homem passível, o imortal submeteu-se às leis da morte.

“Aquele que é verdadeiro Deus, é também verdadeiro Homem; e nesta unidade nada há de falso, porque n’Ele é perfeita respectivamente tanto a humanidade do Homem como a grandeza de Deus.

“Nem Deus sofre mudança com esta condescendência da sua misericórdia nem o homem é destruído com sua elevação a tão alta dignidade”.

Eis o poder misericordioso do Altíssimo, que deu origem ao maior e mais sublime milagre de toda a História! (Revista Arautos do Evangelho, Abril/2016, n. 172, pp. 24-25)

 
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