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Espiritualidade


Os milagres comprovam a divindade
 
AUTOR: IR. MARIA CECÍLIA LINS BRANDÃO VEAS, EP
 
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De que valeria, de fato, ornar uma catedral com magníficos vitrais, se nunca incidissem sobre eles os raios do Sol?

É célebre a conversa de Talleyrand com Lepaux, membro do Diretório francês, que estava frustrado por não conseguir adeptos para a pretensa nova religião filantrópica que fundara. Disse-lhe o famoso ministro e diplomata:

– Não me espanto com teu fracasso. Se quiser ter êxito, vá e faça milagres; cure os doentes, ressuscite mortos. Em seguida deixe-se crucificar e ressuscite ao terceiro dia. Assim garanto que muitos o seguirão.POR DO SOL.jpg

Logo compreendeu o filósofo que cabe somente a Deus fundar uma Religião, e, para mantê-la viva, o único meio são os enviados d’Ele mesmo que confirmem seus ensinamentos com milagres.1

De que valeria, de fato, ornar uma catedral com magníficos vitrais, se nunca incidissem sobre eles os raios do Sol? Não passariam de meros pedaços de vidro, coloridos e unidos, sem significado algum. E o mesmo se passaria com toda a Terra, pois o Sol é que dá brilho e vida a todas as coisas, como o foi tão poeticamente expressado por Rostand: “Ô Soleil! Toi sans qui les choses ne seraient que ce qu’elles sont 2 – Oh, Sol! Tu, sem o qual as coisas serão apenas o que elas são”.

“O que é o Sol para o mundo sensível, é Deus para o mundo espiritual: a luz da justiça e da verdade eterna, da mais elevada formosura e do amor infinito, da mais pura santidade e da mais perfeita felicidade”,3 ensina o padre Scheeben.

O Sol, astro de fogo, faz incidir sobre a Terra apenas sua luz e calor; porém, uma lupa exposta aos seus raios é capaz de produzir um incêndio. Assim também Deus guia os rumos da História por meio de almas fogosas, capazes de incendiar no amor a Ele, atrair, converter, operando milagres e prodígios. “Aquele que crê em Mim fará também as obras que Eu faço, e fará ainda maiores do que estas” (Jo 14, 12).

Seria possível crer que, quando Nosso Senhor Jesus Cristo subia aos Céus, “Aquela Alma infinitamente nobre e grande, que abarcava o Céu e a Terra […], aquela Alma que é o Sol divino de nossas almas, a própria alma de nossas almas”,4 consentiria em deixar de conviver conosco? Mais do que nunca, vibrava nos Apóstolos as palavras pronunciadas antes de sua morte: “Não vos deixarei órfãos” (Jo 14, 18). Como?

Os Apóstolos acompanhavam a gloriosa Ascensão de Jesus e sentiam a terrível dor da separação (cf. At 1, 9-10). O Autor de tantos milagres não os faria mais; aquelas santas mãos que haviam expulsado os vendilhões do templo, dado vista aos cegos, feito surdos ouvir e mudos falar, não curariam mais; aquela voz, ora suave, ora imperiosa, que fizera calar ventos e apaziguar tempestades e que tantos ensinamentos transmitira, não mais se faria ouvir. Compreendiam, de forma obnubilada, que o Mestre não mais estaria com eles. Porém, um olhar meigo, levado aos extremos de ternura, casto e delicado, fitava-os um a um: o de Maria Santíssima, cuja presença faziam-nos confiantes, seguros e fortes. Não hesitaram, e logo se reuniram ao redor d’Ela (cf. At 1, 14).

Nossa Senhora era o sustentáculo do bem na Terra e rezava ardentemente por aqueles que constituiriam o fundamento da Igreja. Até que, em Pentecostes – quiçá também antecipado por Ela como o foi o momento da Encarnação -, os Apóstolos recebem o Espírito Santo e saem intrepidamente, pregando a Boa-nova do Evangelho: “Os discípulos partiram e pregaram por toda parte. O Senhor cooperava com eles e confirmava a sua palavra com os milagres que a acompanhavam” (Mc 16, 20). Assim se ia formando a Santa Igreja.

Há mais de dois mil anos Deus perpetua os milagres por meio da Igreja, pois é por esta instituição que Nosso Senhor Jesus Cristo se faz “tocar” ao longo da História, através dos Sacramentos. “O que Cristo quer fazer, fá-lo por meio da Igreja. […] Logo, a Igreja em certo sentido é onipotente e onisciente porque é instrumento da onipotência e porta-voz da onisciência de Deus”.5

Quereis ver Jesus? Ide à Igreja e lá O encontrareis sob as espécies Eucarísticas. Quereis ser curados de vossa lepra espiritual? Ide ao confessionário, onde Jesus, sob a voz do sacerdote vos perdoará. Quereis tornar-vos filhos de Deus? Ide à pia batismal, deixai cair sobre vossas cabeças as santas águas, pelas mãos do ministro de Cristo, e logo ouvireis os Anjos cantarem jubilosos por terdes conquistado vosso lugar no Céu. Quereis seguir Jesus? Caminhai na Igreja de Deus!

Mais beneficiados que o povo eleito introduzido na Terra Prometida são os que fazem parte da Santa Igreja Católica Apostólica Consagração_Santa Missa..jpgRomana, instituição perfeita, a pátria de nossas almas, mais valiosa que dez mil terras prometidas.6 E não só por meio dos Sacramentos, mas também no triunfo constante da Santa Igreja na Terra os milagres se fazem sentir, ecoando a voz do Salvador: “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).

Ora, quer por meio dos homens, quer das criaturas, todos os milagres realizados devem sua força a Maria Santíssima, pois “dom algum é concedido […], que não passe por suas mãos virginais”.7

Em nossos conturbados tempos, unamo-nos à Virgem Santíssima, o tesouro inesgotável de Deus, “de cuja plenitude os homens se enriquecem”,8 e levemos em consideração que

[…] em virtude de uma lei superior da Providência, os milagres tornam-se mais frequentes nas épocas em que são mais necessários. Desse modo, sempre que a situação no mundo vai se apresentando mais precária, que a impiedade vai crescendo, como vemos em nossos dias, o número de milagres deverá aumentar. Poderão demorar mais ou menos tempo para começar, mas virão na hora certa e farão sua obra. E nós, católicos, devemos contar com eles para abrirmos caminho no meio de tantas provações, confusões e decadências. Deus tem desígnios e mistérios que não nos cabe alcançar. Apenas devemos confiar e esperar que Ele, a rogos de Maria Santíssima, intervenha de modo miraculoso para tocar o coração da humanidade contemporânea .9

Confiemos neste panorama que se descortina aos nossos olhos! Creiamos não só na divindade de Jesus, como também na divindade de seu Corpo Místico – a Igreja -, que, ancorada em Maria, é um dos milagres mais patentes já realizados na História: permanece incólume já por mais de dois mil anos, apesar de todas as procelas que teve de enfrentar ao longo do tempo.

Esperai, esperemos! Cristo prometeu estabelecer seu Reino entre os homens e este Reino se efetuará por meio de Maria,10 assim como quis Ele vir ao mundo por meio d’Ela: “Por meio de Maria começou a salvação do mundo e é por Maria que deve ser consumada”.11 “São os milagres da destra d’Ela, para glória d’Ela”,12 que hão de fundar este Reino.

1 Cf. SPIRAGO, Francisco. Catecismo en ejemplos. Barcelona: Políglota, 1927, v. I, p. 45-46.

2 ROSTAND, Edmund. Hymne au Soleil. In: Chantecler. Paris: Fasquelle, 1928, p. 26.

3 SCHEEBEN, Mattias-Joseph. As maravilhas da graça divina. Petrópolis: Vozes, 1956, p. 177.

4 EDITORIAL. “Alma de Cristo, santificai-nos; Corpo de Cristo, salvai-nos!”. In: Dr. Plinio. São Paulo: Ano IX, n. 96, mar. 2006, p. 4.

5 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Glória a Deus no Céu, e paz na Terra aos homens de boa vontade. In: Dr. Plinio. São Paulo: Ano V, n. 57, dez. 2002, p. 7.

6 Cf. Id. Os Impropérios: cântico de dor e esperança. In: Dr. Plinio. São Paulo: Ano IX, n. 97, abr. 2006, p. 21.

7 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit. n. 25, p. 31.

8 Ibid. n. 23, p. 30.

9 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Bondade régia da Virgem do Miracolo. In: Dr. Plinio. São Paulo: Ano V, n. 46, jan. 2002, p. 9.

10 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit. n. 217, p. 210-211.

11 Ibid. n. 49, p. 50.

112 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência. São Paulo, 25 set. 1972. (Arquivo IFTE).

 
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