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Contos Infantis


O Santo que desafiou o acrobata
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 07/10/2009
 
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O desafio era singular: um saltimbanco profissional e um jovem aspirante ao sacerdócio competiam em habilidade e força. Toda a cidade de Chieri se reuniu para assistir à disputa.

Senhoras e senhores, por favor, aproximem-se e observem com atenção!” – anunciou o acrobata ambulante aos habitantes reunidos na pequena praça central de Chieri, cidade italiana então com 9 mil habitantes.

Isto dito, deu um salto prodigioso, atingindo uma altura maior que a dos assistentes. Depois, tão repentino quanto antes, pôs-se a caminhar de mãos no chão e pés para o alto. Daí a pouco, andava na corda bamba entre duas oscilantes árvores, com a agilidade de um símio.

A admiração da platéia aumentava a cada novo número. Aclamaram-no quando saltou da corda bamba, dando uma pirueta para o lado oposto. Com que elegância cumprimentou a todos, apresentando seu chapéu no qual foram jogadas moedas em quantidade! Num passe de mágica, ele as lançou para o alto, fazendo todas desaparecerem como se tivessem evaporado.

“Agora, senhoras e senhores, moças e rapazes, preparem-se para ver algo ainda mais deslumbrante!” – proclamou ele. Em seguida, com gesto dramático, puxou de sua orelha uma adaga.

* * *

Nesse momento tocaram os sinos, chamando o povo para as orações dominicais na igreja de Santo Antônio. Era também a hora em que o jovem João Bosco reunia seus amigos da Sociedade da Alegria para dar-lhes um sadio entretenimento e lhes ensinar doutrina católica. Porém, a multidão absorta continuava assistindo ao espetáculo.

Bosco via com preocupação quanto o saltimbanco, com suas apresentações aos domingos, afastava aquela boa gente da igreja e das práticas de piedade. Tentou várias vezes, inutilmente, demovê-lo de dar espetáculos nos dias de preceito. O único recurso era, pois, fazê-lo mudar de cidade. Com esse objetivo, estava também ele na Praça Santo Antônio, nesse dia, observando os truques do charlatão.

* * *

Este facilitou a tarefa de João Bosco, ao declarar que nem todos os estudantes de Chieri juntos seriam capazes de fazer uma só de suas proezas. E passeando seu olhar insolente pelo grupo de rapazes envergonhados e furiosos, acrescentou um desafio para uma corrida:

– Atravesso a cidade em dois minutos e meio, correndo pelas ruas mais longas.

– Eu atravesso em apenas dois minutos – disse João, com enorme surpresa de todos os assistentes.

O saltimbanco riu-se desse jovem aspirante ao sacerdócio que aceitara seu desafio, e propôs-lhe uma aposta de 20 liras.

Proposta aceita, escolhe-se um juiz a quem é entregue o valor da aposta. Este dá o sinal de partida, João faz o sinal-da-cruz e começa a corrida. No primeiro minuto o acrobata leva vantagem, mas logo João o ultrapassa e deixa-o a uma tal distância que ele desiste a meio caminho.

– Bem se vê que estás acostumado a correr atrás das vacas em tua aldeia! – desabafa o vencido, furioso.

– Mas adiante de um burro é a primeira vez… – replica um assistente entusiasmado pela proeza do jovem Bosco.

* * *

Acabrunhado pelo riso dos espectadores que se juntaram em grande número, o acrobata tenta uma desforra: desafia Dom Bosco para um salto, dobrando o valor da aposta. Dirigemse todos para o canal de irrigação que tem à margem uma mureta de pedra.

O acrobata salta em primeiro lugar, caindo do outro lado do canal, com os pés bem junto à mureta. Ir além, um centímetro sequer, é impossível. Mas João não se perturba. Do fundo do coração, invoca o auxílio da Virgem, benze- se e, num pulo elegante, bate os pés junto à mureta, dá um salto mortal e cai de pé no outro lado.

Ante essa demonstração de agilidade impensável e inesperada, a multidão estrondeia em aplausos.

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* * *

O charlatão não se dá por vencido, e faz outro desafio… e perde de novo. Querendo desforrar-se, de uma só vez, de todas essas derrotas, propõe uma aposta de 100 liras para quem subir mais alto nos galhos de uma árvore ali existente. João Bosco aceita.

“Bem, esta será minha vez! Afinal de contas, nesta disputa eu sou invencível”, pensa o saltimbanco. Impelido pela raiva, abraça-se ao tronco da árvore – um olmeiro novo e flexível – e trepa com agilidade a uma tal altura que o galho está na iminência de quebrar- se. Pára no topo um instante, a fim de afirmar sua vitória, e em seguida desce com ar triunfante.

Desta vez, até os admiradores de João Bosco se mostram abalados, achando que ele já estava derrotado. Impossível chegar mais alto sem quebrar os galhos da árvore e cair!

Com toda tranqüilidade, João Bosco faz o sinal-da-cruz e começa a subir. Os galhos da árvore pendem, ora para a direita, ora para a esquerda, ameaçando romperem-se a qualquer momento. Finalmente, ele alcança o ponto atingido pelo acrobata. Por um instante, parece um empate!

Enquanto todos permanecem nesse suspense, Dom Bosco agarra-se com firmeza aos galhos da árvore, vira-se de cabeça para baixo e começa a levantar as pernas.

Coisa fácil de fazer numa barra de ginástica, mas muito difícil e arriscada a vinte metros de altura, sem ter outro apoio que dois galhos frágeis e bamboleantes de um olmeiro!

Com essa manobra, ele toca um metro mais alto que seu adversário. Seria difícil descrever os gritos, os aplausos e a excitação da multidão embaixo, bem como a triste situação em que ficou o saltimbanco.

* * *

João Bosco, no entanto, mostrando-se tão misericordioso na vitória quanto fora ágil e firme nas disputas, compadeceu- se do vencido. Declarou que lhe devolveria o dinheiro com a condição de que pagasse um almoço para ele e seus amigos da Sociedade da Alegria, 23 pessoas ao todo. Com grande alívio, o acrobata aceitou a generosa oferta, todos almoçaram alegremente e… nunca mais ele foi visto em Chieri.

Dom Bosco, satisfeito, contou muitos anos depois: “Aquele foi um dia de alegria! Eu me cobri de glória por ter vencido em habilidades um saltimbanco profissional”. Na realidade, seu maior júbilo foi por ter livrado a cidade daquelas exibições que afastavam o povo da igreja .

(Revista Arautos do Evangelho, Jun/2005, n. 42, p. 46-47)

 
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