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Contos Infantis


“Creio em Deus Pai todo-poderoso”
 
AUTOR: LUCÍLIA BERNADETE DOS ANJOS DE MARIA LIMA GUARANY
 
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Passados alguns meses em alto-mar, os aventureiros avistaram terra. Mas, ao desembarcar, as coisas não se desenrolaram como eles esperavam…

Nos tempos em que o Brasil colônia   

Nos tempos em que o Brasil ainda era colônia, muitos eram os aventureiros que cobiçavam nossa Terra de Santa Cruz.

   — Meus caros compatriotas, conquistemos um bom pedaço daquelas plagas! – clamava um rude marujo, naquela aldeia litorânea – Apoderemo-nos de suas riquezas, submetamos os seus moradores! Para Portugal não fará falta nenhuma; para nós será o negócio das nossas vidas.

   Vários dos rapazes que o escutavam, deslumbrados pelas promessas do experimentado lobo do mar, uniram-se às suas hostes. O navio que ele comandava estava terminando os preparativos para a viagem e zarparia sem delongas.

A aventura de atravessar o Atlântico

   Naquela época, a travessia do Atlântico rumo ao Novo Mundo era muito demorada. Passava-se muitas semanas a bordo da embarcação, durante as quais o capitão instruía os novatos no uso das armas e prometia um futuro cheio de prazeres para os que se sobressaíssem nas conquistas.

   Dentre os aldeães que seguiam o velho capitão, um dos mais atentos e aguerridos era Franz, jovem de origem alemã que vivera errante até se unir à expedição. Seu grande desejo era ser o melhor combatente daquele exército clandestino, ficar rico e assim poder formar o seu próprio bando. Por isso, ouvia com muita atenção as explicações e esforçava-se por superar todos nos exercícios bélicos.

A forte resistência dos brasileiros

   Passados alguns meses em alto-mar, os aventureiros avistaram terra. As coisas, porém, não se desenrolaram como eles esperavam… Ao desembarcar em nossas belas praias, seu ímpeto de domínio encontrou forte resistência entre os habitantes, muitos dos quais indígenas já lavados nas águas batismais, fruto do dedicado trabalho de evangelização feito pelos zelosos missionários que por aqui andavam.

   Depois de não pequena luta, os invasores conseguiram assegurar alguns pontos estratégicos, mas os embates continuavam. No fragor do enfrentamento, Franz não percebeu que havia uma armadilha entre duas palmeiras e caiu dentro de um buraco, sendo capturado e levado para uma cela de pau a pique.

   — Por que eu? – queixava-se ele – Se sou o melhor combatente de nossa quadrilha!

A caridade e bom exemplo de uma indiazinha católica

   De repente, enquanto murmurava, sentiu-se olhado por alguém. Qual não foi a sua surpresa quando, por entre a folhagem, divisou uns olhinhos negros e brilhantes que o fixavam. Era uma indiazinha trazendo-lhe algo para comer. Em sua arrogância, Franz desviou o olhar, como se não estivesse faminto… Ela deixou-lhe a comida e se afastou. Observando-a distanciar-se, viu que caminhava em direção a uma capelinha e lá a esperava um sacerdote, que também o observava…

   Esta cena se repetiu por vários dias e a curiosidade do prisioneiro só aumentava. Havia alguma coisa que o atraía naquela singela edificação e ele decidiu perguntar à pequena, quando veio, mais uma vez, deixar-lhe a comida:

   — Ei! Menina! O que vocês fazem lá dentro?

   — Dentro de onde? Da capela?

   — É…

Você crê, mesmo, que na Hóstia está Jesus?

   — Muitas coisas: de manhã temos Missa, porque bem cedo os homens partem para a guerra; à tarde, o padre chama as crianças, para rezarmos diante de Jesus, na Eucaristia, e pedirmos que Ele nos proteja e nos defenda.

   Franz sentiu um arrepio, pois recordou-se de sua infância, quando também ia rezar na igreja de sua aldeia… Não obstante, querendo afastar a lembrança, perguntou com desprezo:

   — E você crê, mesmo, que na Hóstia está Jesus?

   — Claro!

   — Vamos ver… Você sabe o Pai-Nosso? – inquiriu desafiante.

   — Sei sim – respondeu Potira Maria, a indiazinha – “Pai nosso, que estais no Céu”…

   — Suficiente! Veja o que diz: esse Pai, que você pensa que é Deus, está no Céu! Logo, não pode estar na Hóstia…

  “Creio em Deus Pai todo-poderoso”

A menina pensou um instante e retrucou:

   — E o senhor, já ouviu alguma vez o Credo?

Enquanto o prisioneiro murmurava por causa da sua sorte, dois olhinhos negros e brilhantes o fixavam

 O presunçoso prisioneiro se assustou com a ousadia da menina e balbuciou:

   — É… Já ouvi, sim…

   — E seria capaz de repeti-lo?

   Ele enrubesceu, mas se arriscou a pronunciar as palavras que há anos queria ter-se esquecido…

   — “Creio em Deus Pai todo-poderoso”…

   — Não precisa continuar… – atalhou a indiazinha – Se Deus é todo-poderoso, pode fazer o que quiser: estar no Céu e, ao mesmo tempo, na Hóstia consagrada!

   Franz disse, meio sem jeito:

   — Ora, não me amole! Só acredito no poder desse seu Pai se Ele me der um sinal…

   Potira Maria dirigiu-se à capela, ajoelhou-se bem junto ao sacrário e fez uma humilde súplica:

   — Meu Jesus, mostrai o vosso poder, mandando um sinal para aquele incrédulo prisioneiro e, pela vossa graça, ele poderá crer em Vós…

   O padre entrou na igreja no momento em que a menina estava rezando e se uniu à sua prece inocente, na certeza de que ela seria atendida.

Um verdadeiro milagre

   Passada uma semana, Franz foi surpreendido pela chegada de vários de seus amigos, agora cativos como ele.

   — Que aconteceu? Por que vieram parar aqui? – perguntou ao que foi posto em sua cela.

   — Fomos obrigados a recuar até o mar – disse ele – Não tínhamos mais saída! Começamos a intensificar nossos ataques e, de repente, vimos aparecer no Céu uma Mulher com um Menino reluzente nos braços, tendo a seu lado um varão que nos apontava seu cajado com severidade e nos mandava sair destas terras. Ademais, os nativos nos acertavam seus tiros, com a pólvora que tínhamos molhado! Impossível era que a pólvora molhada pudesse explodir… Foi um verdadeiro milagre! Os únicos que ficamos com vida fomos nós… e aqui estamos!!!

   Franz começou a chorar e se pôs de joelhos, pois reconhecia naquele prodígio o sinal que pedira! Um pesado remorso foi entrando em seu coração e ele se lembrou de todos os desvarios de sua vida… Então chamou o padre, que ouvia a conversa a certa distância, para fazer uma boa Confissão. Há quantos anos não o fazia!…

   Sentindo-se leve e transformado, Franz usou de sua liderança para levar todos os seus companheiros a abandonarem a vida criminosa a que se tinham entregado. Convertidos todos, passaram eles a viver na Terra de Santa Cruz como uma piedosa milícia, a fim de defender o território dos invasores que nela quisessem se esgueirar. (Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2017, n. 188, p. 46 à 47)

 
Comentários
gessi - 27 de Abril de 2018
Bela história!