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Arautos no Mundo


Rezar é também agradecer
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Homilia na Missa de encerramento do XI Congresso Internacional de Cooperadores

Não podemos deixar de guardar em nossos cestos espirituais as “sobras” deste encontro, pois guardar aquilo que de Deus recebemos é sinônimo de gratidão.

Estamos encerrando o XI?Con­gresso Internacional de Cooperadores dos Arautos do Evangelho, no qual vivemos, ou seja — segundo uma clássica definição conhecida entre nós —, estivemos juntos, nos olhamos e nos quisemos bem, em torno d’Aquele que é a causa da nossa existência. Os momentos aqui vividos já começam a deixar saudades, palavra tão difícil de ser traduzida do português para outras línguas, mas, sem dúvida, um sentimento universal, experimentado por todos os homens em determinadas circunstâncias.

O milagre de Jesus é sempre portador de uma lição sobrenatural

Sim, chegou o dia de concluir o nosso encontro e, sem cálculo humano, a Liturgia da Igreja parece hoje ter sido escolhida sob encomenda. O Evangelho de São João apresenta o célebre milagre da multiplicação dos pães.
Dentre os quatro Evangelistas, São João foi o último a escrever. O seu relato contém dados particulares. Para citar um exemplo, reparemos que, enquanto os outros usam a palavra milagre, São João chama os feitos miraculosos de sinais, porque o milagre de Jesus é sempre portador de uma verdade superior, de uma lição sobrenatural, tão necessária de ser recolhida quanto se apresenta necessário o benefício físico.

Elementos que exigem a intervenção divina

Note-se que o capítulo sexto de São João pode ser dividido em três partes: a preparação do milagre, o sinal propriamente dito e o modo como este foi recebido pelos homens. A preparação dá-se ao se apresentar uma necessidade somada a uma impossibilidade, elementos que propiciam ou, se quiserem, quase exigem a intervenção divina.

Por certo, situações semelhantes aparecem tanto no milagre operado por Eliseu (cf. II Rs 4, 42-44), narrado na primeira leitura de hoje, quanto no relatado pelo Evangelista (cf. Jo 6, 1-15). Diante do profeta, juntam-se necessidade e impossibilidade: vinte pães para alimentar cem homens. A Nosso Senhor apresentam cinco pães para alimentar milhares de pessoas. Embora o milagre seja essencialmente o mesmo, há diferença não só no que diz respeito à época na qual os fatos ocorreram, mas, sobretudo, nas proporções do milagre. O do Novo Testamento é transbordante, comparado ao do Antigo. Excede-o de longe! São os parâmetros de misericórdia e prodigalidade da Nova Aliança inaugurada por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Quando o Mestre ordena dar de comer à multidão, São Filipe deixa um registro útil de considerar: “Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um” (Jo 6, 7). O salário de duzentos trabalhadores não seria suficiente para matar a fome daquela multidão, pois cada moeda correspondia a uma diária. A necessidade do milagre era, portanto, absoluta, a impossibilidade, completa e a incapacidade humana, patente.

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Um menino apresenta o tributo de sua inocência

Nesse momento, é apresentado a Jesus um menino, o qual recorda a inocência. Ele devia estar perto, ouvindo a discussão dos Apóstolos e os murmúrios dos que pudessem estar reclamando da falta de pão. Sem dizer palavra alguma, nem externar dúvida, o pequeno apresenta o tributo da sua inocência, acompanhado da única oferta que possuía — cinco pães e dois peixes —, ingênua, diríamos totalmente insuficiente, caso sobre ela não tivesse pousado o divino olhar.

O pequeno conservava com Deus uma relação limpa, livre de enganos ou falsidades e, por isso, tão irrisória porção de pães aparecia-lhe como realmente suficiente. Para o inocente tudo é possível quando Deus está presente. Dá, então, o pouco de que era capaz e, sem saber o resultado, não se questiona a esse respeito, pois tem fé. O milagre é, por assim dizer, atraído por esse ato de entrega generosa e confiante, recolhida por Jesus e tida na condição de suficiente para operar o milagre.

Aguardar na calma a ação divina

Diz o texto grego que, a seguir, o Mestre ε?χαριστ?ω (euchariste?), ou seja, deu graças. Desse modo, quis ensinar-nos que rezar também é agradecer, pois se não formos atendidos no objeto do nosso pedido, sê-lo-emos naquilo que realmente necessitamos. Mas, ao tomar essa atitude de gratidão, alude ainda ao milagre que operaria às vésperas da Paixão: o da multiplicação, não de um pão comum, mas do Pão Sagrado da Eucaristia. Jesus deu ordem a todos os presentes de se sentarem (cf. Jo 6, 10), pois diante da dificuldade é preciso saber conservar a calma dos inocentes, uma atitude de completo abandono nas mãos da Providência Divina, oposta à aflição dos pragmáticos. E multiplicados os pães, “distribuiu-os aos que estavam sentados” (Jo 6, 11). Caso alguém continuasse na inquietação, em pé e desobedecendo ao seu pedido, corria o risco de não receber o pão. Era preciso aguardar na calma a ação divina.

Deus atende com abundância

E terminada a distribuição, sobra uma boa quantidade de pão, recolhida em doze cestos, porque Deus não é mesquinho, Ele atende com abundância. Quando alguém reza e julga fazer um pedido ousado, recebe mais do que poderia imaginar. Nosso Pai celeste sabe o que mais nos convém. Devemos rezar com insistência, em atitude de confiança e de ação de graças, não para obtermos aquilo que desejamos ou até exigimos, mas para saber qual é a vontade divina, pois Deus nos dará o que há de mais excelente e de modo pródigo.
“Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca” (Jo 6, 12). Mudam-se as épocas e a história se repete. Recolher as sobras simboliza aqui, para nós, guardar as impressões hauridas daquilo que vimos e ouvimos, equiparmo-nos com a lembrança das graças recebidas, para, no dia da aridez, podermos adentrar um pouco nos nossos cestos de recordações, fazê-las voltar à tona e tirar delas as forças para continuar o caminho até o próximo Congresso Internacional dos Arautos do Evangelho. Não podemos deixar de guardar em nossos cestos espirituais as “sobras” deste encontro, pois guardar aquilo que de Deus recebemos é sinônimo de gratidão.

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O ingrato, recebido o benefício e tendo-se alimentado do pão, não se recorda de agradecer ao benfeitor. Do que se recorda ele? “Acabou! Não tem mais! Quero mais!”. O ingrato tem dificuldade em perceber que aquele alimento proveio de mãos miraculosas, mas não tem a menor dificuldade em reclamar quando o pão falta. Procurai o benfeitor, e não unicamente o benefício! “E sede agradecidos” (Col 3, 15). ²

 
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