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Dom Petrini fala sobre como os fiéis vivem o Encontro de Milão
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 01/06/2012
 
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Milão (Quinta-feira, 31-05-2012, Gaudium Press) Participando do Encontro Mundial das Famílias, que acontece na cidade de Milão, na Itália, os bispos do Brasil declararam que a família brasileira pode levar um belo e particular testemunho ao mundo ocidental.

No entanto, segundo eles, na própria realidade ela deve enfrentar o desafio da secularização, e também as mudanças da lei que podem levar ao indiferentismo nas pessoas da própria natureza da família.

Neste sentido, os prelados salientam que a lei não basta, o que vale mais é a formação das pessoas. Porque o futuro e a força estão na consciência dos próprios fiéis que podem ser exemplo de contraposição das tendências seculares.

Hoje, a Gaudium Press falou com Dom João Carlos Petrini, bispo de Camaçari (BA) e presidente da Comissão Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sobre como os fiéis vivem o Encontro em Milão.

 

Gaudium Press – Quais são suas primeiras impressões sobre o Encontro Mundial das Famílias?

Dom Petrini, Bispo da CNBB - Contra o aborto.jpg
“A característica da família brasileira é que é uma família muito alegre”, afirma Dom Petrini

Dom Petrini – O que mais impressiona são as pessoas que chegam de diversos países. São 135 países representados. Há uma facilidade do diálogo. Então, impressiona muito bem como no fundo esta realidade católica una pessoas tão diferentes. História, cultura, circunstâncias de vida. Prevalece este sentimento de unidade que deixa sempre as pessoas cheias de admiração e há também o efeito de um grande consolo. Não estamos sós, há muita gente também em outras partes do mundo que está fazendo esse caminho de fé, mas também de batalha para não perder a vida da família em circunstâncias às vezes muito hostis.

GP – De onde e quais são as famílias provenientes do Brasil?

Dom Petrini – Há famílias um pouco de todo o Brasil, principalmente do sul, onde grandes movimentos familiares são talvez mais organizados. As zonas do Brasil onde há mais recursos que tornam mais fácil realizar uma viagem longa.

GP- As famílias mais ricas ajudaram as mais pobres a participarem?

Dom Petrini – Certamente sempre acontece isto. Um núcleo, um grupo que se organiza, há sempre alguém que diz: eu não posso. No momento estou sem recursos porque não trabalho há três meses, etc. Em grupo, geralmente há esta facilidade de recolher de cada um um pouco para que tenham possibilidade de participar. É um costume belíssimo da Igreja católica que se renova em circunstâncias.

Milão por poucos dias tornou-se uma capital das famílias. A família brasileira como pode contribuir para a família ambrosiana e não somente ela?

A característica da família brasileira é que é uma família muito alegre. O brasileiro em geral é o tipo humano cheio de esperança, de iniciativa, de criatividade, que não pára diante de uma dificuldade. Isto na família se torna muito importante, porque a família é feita de tantas expectativas, de tantas esperanças, de tantas alegrias de cotidiano, também de pequenos dramas. É importante no dia de hoje, ter este olhar positivo também diante de dificuldades e dramas. Porque creio que a cultura na qual vivemos não é capaz de conviver com os dramas, tende a não olhar para eles, de ignorá-los, de substituí-los com um modo mais banal. De viver vendo passar o tempo, sem pensar nas dificuldades. Tenho a impressão que também no Brasil esta realidade mundial tenha a sua importância, porém há esta característica do espírito brasileiro que é muito diferente. Eu noto que na Europa há uma tendência a se lamentar. A se lamentar de tudo, das circunstâncias, da vida, da família, do clima, de tudo. Como uma doença em fundo, como se o olhar se concentrasse somente em aspectos menos positivos, menos belos do que a realidades. A família brasileira pode contribuir no sentido da positividade quase espontânea. Depois, quando encontra Jesus Cristo, dá uma verdadeira explosão de vida, de cultura, de atenção pelo outro. A esperança que é capaz de atravessar também as dificuldades.

GP – O que deseja ver como fruto deste encontro?

Dom Petrini – A minha esperança é que o tema da relação entre o trabalho e a família seja de fundamental importância. É muito pouco sentido. Começa a ser mais sentido por toda a sociedade e também pela comunidade cristã. Às vezes, por ingenuidade perde coisas importantes. Uma pessoa deve trabalhar e fica fora de casa quinze horas por dia e depois de um tempo não se dá conta que é um estranho para seu filho. O que quer dizer: Se não se pensa um pouco nestas situações acaba criando problemas previstos, sem buscar uma resposta adequada. Certamente a concentração entre trabalho e família é de excepcional importância. Que o trabalho se torna uma idolatria. É verdade que é preciso trabalhar, porque é preciso ganhar dinheiro. É necessário para manter a família. É também verdade que às vezes se exagera muito. Porque muitas vezes não há um olhar equilibrado sobre certas necessidades. Quem sabe, um dos dois poderia trabalhar menos, dedicar-se mais às crianças que estão crescendo. Creio que uma grande contribuição deste VII Congresso Mundial das Famílias seja uma ajuda para pensar nesta realidade do trabalho e na relação da família, a procriação dos filhos, a convivência do casal que não são prejudicados como aparece no cotidiano da família.

O tema da festa também é muito importante porque a família é capaz de alegrar-se junto como no afeto que vive, na reciprocidade da dedicação. Um motivo para fazer festa certamente é uma família mais alegre que terá uma história mais longa. Porque se faz sempre festa. Quando os camponeses terminavam a colheita, se fazia festa de agradecimento. Havia o trabalho de quem tinha plantado, semeado. Havia também a chuva e o sol que vieram gratuitamente. Então havia um senso de gratidão, de uma parte se olhava o trabalho feito, mas do outro, a graça de Deus que gerou tantos bens. Então a ideia de festa é associada a uma gratidão por alguma coisa de belo e grande que aconteceu. Na vida de família pode acontecer algo parecido. Há o empenho do homem para ser fiel à sua mulher, para ocupar-se de seus filhos, mas a experiência de felicidade que se pode viver na família é tão grande que não é o fruto do próprio empenho, isto é mais, é a graça de Deus. Fazer festa, agradecer ao Senhor, ir juntos à missa em clima de oração é certamente um fato importante porque isto é que faz aparecer aos olhos de todos como algo grande que vale a pena ser vivido. Algo que me ajuda porque gastamos menos que é um modo um pouco esquálido. A grandeza da família tem a sua medida.

GP – O olhar brasileiro sobre a relação família-trabalho-festa?

Dom Petrini – Eu diria que o brasileiro é muito propenso para a festa. Talvez mais para a festa que para o trabalho por circunstâncias históricas que não vale a pena recordar. Certamente a festa caracteriza um pouco a alma brasileira. O perigo é que a festa acabe sendo fora da família. Se o espírito brasileiro é que ama a festa, então que a festa seja amada na família. A festa do afeto, da gratuidade, da estima recíproca. A vida que se desenvolve no ventre materno e se torna um verdadeiro milagre. É preciso ter olhos para ver as razões da festa na família.

GP – Em quais projetos está trabalhando a Comissão para a Vida e a Família que o senhor dirige na Conferência Episcopal Brasileira? Como se prepara para o Ano da Fé?

Dom Petrini – Nós temos três grandes projetos. Em primeiro lugar a formação. Porque na realidade cultural se corre sempre o risco de estar muitos passos atrás. A vida da família é muito ligada àquela de nossos avós, pais. O ponto de encontro da família como sacramento e a realidade atual com todas as complexidades e dificuldades do mundo de hoje. Por isso oferecemos muitos momentos de estudo. Uma iniciativa que se chama que tentamos difundir em toda a família. Também outras iniciativas que vão nesta direção. Ajudar principalmente as jovens gerações a entenderem melhor o que é a família cristã, quais são as características e valores específicos do Sacramento e os vários aspectos da vida da família.

Um outro compromisso que temos é o de fazer diversas famílias cristãs de vida fraterna. Não que uma família seja isolada nos diversos desafios deste tempo. Mas cultive sistematicamente um pouco a amizade com as famílias com as quais compartilha o caminho da fé de rezar, de ler o Evangelho, mas também de dividir as preocupações, as esperanças, o amor em modo tal que a família se sinta acompanhada por outras famílias e portanto tenha menos ocasiões de desânimo, de desconforto.

O nosso terceiro compromisso é construir as associações das famílias que possam representar a família não como a Igreja que fala, não como a pastoral de dialogar com os poderes públicos, mas que se reúnem para defender os próprios interesses. Que poderão reunir estas associações das famílias as pessoas que têm no coração a família, mas não estão interessadas em estar na pastoral da família. Então, que haja instrumentos civis para poder dialogar. É necessário preparar uma realidade que tenha, do ponto de vista civil, a sua dignidade e existência com as pessoas jurídicas.

Nós vemos o Ano da Fé como uma retomada do Concílio Vaticano II, não por acaso ele inicia no dia do 50º aniversário do Concílio, mas também os 20 anos do Catecismo da Igreja Católica. Então, o olhar da fé sobre todos esses 50 anos foram colocados em movimento também às vezes com os conflitos, pontos de vista exagerados. Porém, o olhar da fé que possa ser importante e o Espírito Santo que guia a Igreja. Que está também na origem do Concílio. Portanto, podemos tentar entender o percurso que o espírito cristão requer neste tempo. A fé é sempre a mesma, mas os desafios mudam a todo instante. Então, é preciso buscar a verdade para sermos portadores da tradição da Igreja. Não como pessoas que vivem fora do mundo, do tempo e do espaço, mas realmente atentos aos desafios de hoje. (BD)

Anna Artymiak

 

 
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