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Meditando sobre o caminho de Nosso Senhor ao Calvário
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 16/04/2014
 
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Redação (Quarta-feira, 16-04-2014, Gaudium Press) Entramos na Semana Santa com os olhos postos nas cerimônias do Tríduo Pascal, quando celebraremos a Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, que por amor a cada um de nós se ofereceu como vítima reparatória por nossos pecados.jesus.jpg

Acompanhemos essa breve meditação feita por Monsenhor João Clá Dias sobre o caminho de Nosso Senhor Jesus Cristo ao Calvário e nos preparemos para participar das cerimônias dos próximos dias.

Jesus carrega a sua Cruz

O texto nos diz: ¨Carregando sua cruz, encaminhou-se Jesus para um lugar chamado Calvário, em hebreu Gólgota”.

Carregando sua cruz! Jesus acaba de ser condenado. Condenado a carregar a cruz às costas e ser crucificado. Nosso Senhor encontra-se no Pretório, Ele está à espera da chegada da cruz para carregá-la às costas. A cruz entra no Pretório cheio de gente, de curiosos. Mas a cruz constituía naquele tempo um verdadeiro horror, era a lepra, era o câncer, ela era o horror dos horrores. E a multidão se encontra ali apinhada para ver o que aconteceria. Essa multidão é dividida ao passar a cruz, porque a cruz vem de fora, e atravessa todo o Pretório para pôr-se à disposição de Jesus. E ao entrar, as pessoas se espremem, se afastam, permitem que a cruz passe, porque têm pânico de nela tocar.

Cruz, símbolo de maldição; cruz símbolo de tormento; cruz símbolo de horror; cruz símbolo de abjeção. Ela, ao entrar, divide todos aqueles que estão no Pretório. O silêncio se estabelece, as pessoas ficam meio pasmas sobre o que vai acontecer com o horror daquela cruz, e imediatamente fazem silêncio. Essa cruz que divide a multidão, não dividirá somente a multidão, mas ela é símbolo de uma outra divisão ainda muito maior, ou seja, aquela que se estabeleceu, a partir deste momento, na própria História. A História se dividirá em duas: os que amam a cruz e os que odeiam a cruz.

Essa cruz que divide o povo, que já está dentro do Pretório, essa cruz dividirá a humanidade em duas ¨humanidades¨: aqueles que odeiam a cruz, e aqueles que amam a cruz. Mas não dividirá somente a História, dividirá também o Juízo Final. Quando o Filho do Homem aparecer no esplendor de sua glória, descendo do céu, trazendo junto sua cruz gloriosa, essa cruz dividirá a humanidade inteira que se encontrará no vale de Josafá. Os bons à direita e os maus à esquerda. É a cruz que divide.

A cruz que Nosso Senhor vai receber já está diante dEle. Essa cruz é um símbolo, um sinal de contradição. Quando o Menino Jesus foi apresentado no Templo e esteve nas mãos do velho Simeão, este sacerdote disse: “Este Menino veio para ser sinal de contradição, para a salvação e ruína de muitos”. E aí está o símbolo desta contradição que foi prognosticada, que foi profetizada por Simeão no Templo. Esta cruz divide. É esta cruz que traz a contradição. De um lado ficam os ímpios que, com risos, com gargalhadas, escarnecem daquele Rei que, ao invés de tomar um cetro de brilhante, um cetro de ouro, um cetro com pedras preciosas, toma, isto sim, um cetro que é um madeiro negro, um madeiro em forma de cruz; esse é o cetro dEle. É com este cetro que Ele vai governar o mundo. Sobre este cetro ainda colocarão um título: JESUS NAZARENO REI DOS JUDEUS. É um Rei que está sentado sobre um trono que se chama cruz. E os ímpios riram deste Rei que toma um cetro que é uma cruz, um trono que é uma cruz. Mas, pelo contrário, as almas piedosas, olhando para esta cruz, terão um senso de veneração, terão a noção de que esta cruz, sendo um trono, sendo o cetro de um Rei que é Deus, essa cruz, em determinado momento, será tomada como a glória das glórias e todos os reis da face da Terra vão tomar essa cruz para colocar no alto de suas coroas. Os reis reconheceram a grande força, o grande poder deste cetro e deste trono: a cruz!

A cruz está diante de Nosso Senhor que olha aquele instrumento de tormento, de dor; e olha contemplando. Nosso Senhor contempla sua cruz, mas tem sofreguidão em pegá-la, em abraçá-la, em pô-la sobre os seus ombros. E é o que Ele faz. Ele se ajoelha sem o auxílio de ninguém, com as forças quase desaparecidas. Contudo, Ele está ali com disposição, com ânimo, com ardor e com entusiasmo, e assim Ele abraça a cruz.jesus_1.jpg

Que exemplo para nós! Nós somos cristãos, somos batizados, estamos marcados com este sinal indelével que imprime caráter e nos é colocado na alma na hora de nosso batismo.

Somos nós seguidores de Cristo? Queremos seguir fielmente nosso Salvador? Se quisermos seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo, devemos prestar atenção a este gesto dEle. Aí está a cruz e com sofreguidão Ele a abraça. E mesmo antes de pô-la às costas a abraça e oscula. É essa a cruz que vai lhe servir de tormento, é nesta cruz que Ele vai morrer; é também esta cruz que depois será venerada, adorada por toda a humanidade e por todos os séculos. É assim que Ele toma a cruz que Deus Pai preparou.

E nós que somos seguidores de Cristo, nós que somos cristãos, como tomamos as nossas cruzes, que atitude tomamos em relação às cruzes que Deus nos manda? Doença às vezes. Dado que somos concebidos no pecado original, a doença nos colhe. Será um simples mal estar, ou será algo mais grave que nos põe em perigo e em risco de vida? Será uma grande dor, será um mal que os médicos não descobrem? É a cruz, a doença é uma cruz. Como me porto diante desta cruz chamada doença? Eu me porto como Nosso Senhor? Abraço esse mal que a Providência me enviou com resignação, com amor? Ou eu tomo esta dor com horror, com insatisfação, com revolta, perguntando-me por que Deus permitiu este mal a mim?

Às vezes é um mau negócio, às vezes é uma falta de trabalho, às vezes é o desemprego, às vezes pode ser até mesmo a pobreza. Como tomo essa circunstância da vida que constitui para mim uma cruz? Eu a tomo com amor, com paciência, ou tomo com revolta?

Orfandade. Pode ser que meus pais tenham morrido…

Viuvez. Pode ser que eu tenha ficado só, casei-me e, a certa altura, perdi meu cônjuge. Como fico eu? Aceito isso com resignação ou me revolto?

Desprezo. Como aceito o desprezo? Tal qual Nosso Senhor aceitou a cruz que lhe foi dada?

A vida tem seus incômodos, seus inconvenientes, seus males, a vida, às vezes, é ácida, áspera. Como eu aceito esses incômodos da vida?

Ingratidão. Eu faço o bem aqui, faço o bem lá, faço-o acolá, recebo em paga a ingratidão. Eu, como tomo essa ingratidão? Mas não é só. Há também as leis morais, as leis da Igreja, as leis que foram decretadas por Deus. Essas leis que se encontram em meu consciente, que formam, portanto, a minha consciência, obrigam-me a um sacrifício, a praticar as virtudes, a fugir das ocasiões próximas de pecado, a não pecar. Eu, como tomo essas dores que a lei moral impõe sobre mim?

A moda. A moda vai impondo suas leis. Eu tenho dentro de mim as leis da moda e as leis de Deus. Eu, o que faço com as leis de Deus? Dou as costas à lei de Deus e resolvo abraçar a moda, porque é mais cômodo e mais unânime, e, com isso, sinto-me igual a todos, se bem que eu possa me sentir inteiramente contrário às leis de Deus. Mas pouco me importa. O que quero é sentir o meu instinto de sociabilidade atendido, com as pessoas olhando-me e aprovando-me. Como pratico a lei de Deus, no que diz respeito à moda? Eu aceito essa dor, esse sofrimento, essa cruz que me é imposta por causa das leis morais?

E em relação a todas essas cruzes, compreendo que elas vêm de Deus, que Ele quis a dor das dores, o sofrimento dos sofrimentos, a morte das mortes para o seu próprio Filho, para a glória dEle, e que, portanto, Ele quer também para mim?

Nosso Senhor é inocente, Ele é a Inocência. Eu tenho meus pecados, eu tenho minhas faltas, eu mereço esse sofrimento todo. Portanto, devo ter a noção de que aceitando essas cruzes, eu alivio as dores de Nosso Senhor Jesus Cristo, e devo, como Ele, abraçar a minha cruz.jesus_2.jpg

E, terminando este primeiro ponto de minha meditação, volto-me para Nossa Senhora dizendo: Ó Minha Mãe, eu Vos agradeço por me ter feito conhecer esses pontos a respeito da importância do amor à cruz. Dai-me, eu Vos peço, Minha Mãe, a graça de reagir tal qual vosso divino Filho e Vós mesma, diante da cruz que a Ele se apresentou. ¨Ave crux, spes única¨! Ave ó cruz, salve ó cruz, única esperança de salvação. É pela cruz que nós chegamos à luz. Ó Minha Mãe, dai-me esta convicção, e não só convicção de razão, mas dai-me, sobretudo, força de vontade para abraçar todas as cruzes que me forem enviadas durante a minha vida.

O encontro com o Cirineu

Diz o texto sagrado: ¨Ao sair da cidade, eles encontram um homem que por ali passava de volta do seu campo, chamado Simão, pai de Alexandre e de Rufo, e o constrangeram a carregar a cruz atrás de Jesus¨.

Não é, portanto, uma tradição. Está no próprio Evangelho. É o Cirineu que aparece a essas alturas, durante a Via Sacra, para simbolizar algo de muito especial. Ele agarrou a parte de trás da cruz; o peso sobre as costas de Nosso Senhor não diminuiu; houve apenas uma pequena vantagem: a cruz deixou de ser arrastada, deixou de ir golpeando esta e aquela pedra do caminho, passando por uma infratuosidade do terreno, ela deixou de ferir mais as costas dEle, o que foi de um certo alívio para Nosso Senhor. Mas Jesus permitiu que isso acontecesse neste passo da Paixão para nos mostrar o quanto devemos estar dispostos a ajudar os outros a carregarem a cruz. Não só eu devo carregar a minha cruz, mas devo fazer também com que os outros sintam o meu apoio, o meu auxílio. Não devemos, portanto, esperar que as pessoas peçam. É compreensível, não tem dúvida, que eu deva ajudar materialmente a esses e àqueles. Devo fazer visitas aos que estão no hospital, àqueles que se encontram no presídio, aos que se encontram em situação de penúria. Tudo isto é muito bom. Mas não devo esquecer que, sobretudo, sobretudo, o mais importante é atender as necessidades de alma. Encontrar pelo caminho alguém que está desviado moralmente, alguém que está se afastando da religião, alguém que está perdendo a consciência de Deus, a este deve ajudar, como o Cirineu ajudou Jesus.

Jesus se encontra com as Santas Mulheres

E passo ao terceiro ponto da meditação: ¨Acompanhava-o uma multidão do povo e de mulheres que, batendo no peito, O lamentavam. Mas Jesus, voltando-se para elas, disse-lhes: não choreis por mim, mas chorai por vós e por vossos filhos, porque tempo virá em que se há de dizer: felizes as estéreis, as entranhas que não geraram e os seios que não amamentaram. Então começarão a dizer às montanhas: ¨caiam sobre nós¨, e aos outeiros: ¨ocultai-nos¨. Porque se o lenho verde é assim tratado, o que há de ser do seco?¨

E temos diante de nós esta cena. Esta cena de mulheres que choram. São mulheres boas, piedosas. E neste passo da Paixão, aparece a sensibilidade feminina, toda feita de senso maternal, e que se compadece das dores de Nosso Senhor. Mas Jesus, que é a Misericórdia, que é a Bondade, que é o Bem, quer retribuir a estas que o tratam com tanto carinho. E Ele então lhes diz: ¨Não choreis por Mim¨. Por que não choreis por Mim? Porque Ele tem pena delas, por causa daquele pecado que estava sendo cometido. Que pecado? Pecado de deicídio. Estavam matando um Deus, estavam condenando à morte um Deus.nossa_senhora.jpg

Deicídio, pecado horroroso, pecado gravíssimo por não terem ouvido a orientação dada por Nosso Senhor, não terem recebido com fé as suas palavras, não terem querido emendar as suas próprias vidas, não terem querido caminhar para o Reino. E o castigo viria. Quantos profetas haviam anunciado este castigo? Ele não tinha chegado? Entretanto, ali estava o último dos profetas e o Profeta por excelência, o profeta Filho de Deus que dizia que este castigo viria. Jesus se compadece das santas mulheres e, ao mesmo tempo, anuncia o que aconteceria. Mas agora já com palavras divinas, ditas diretamente por Ele mesmo. Mas já havia anunciado, Ele já havia previsto que ia acontecer. A cidade de Jerusalém seria tomada pelos romanos e, ai dos judeus que nela estivessem. E Ele prognostica isto. Assim são os castigos, as calamidades que caem sobre aqueles que voltam as costas a Deus.

Este trecho da Paixão, esta estação da Via Sacra nos mostra que os castigos e as calamidades, mais dia ou menos dia, caem. Desde Leão XIII os papas vêm advertindo; são calamidades, são guerras; o ateísmo que cresce; a imoralidade que vai tomando conta de tudo; é Nossa Senhora que aparece em Fátima. Quantos avisos! E a humanidade vai virando as costas, vai cruzando os braços, vai fazendo pouco caso da Lei de Deus, vai se entregando cada vez mais ao crime e ao pecado. Aonde vai dar tudo isso? Exatamente no mesmo que deu com Jerusalém. Mas a humanidade não se dá conta; a sociedade moderna não ouve tudo o que se diz a respeito das guerras, das lágrimas, nada. A humanidade não aprendeu a lição. O abandono da verdadeira religião vai se estabelecendo por todos os cantos; os costumes vão se deteriorando cada vez mais. São palavras, são gestos, é a educação, é a família que vai se demolindo, vai desaparecendo; o gozo da vida que cada vez vai se tornando mais desenfreado, a mentira que vai se espalhando por todos os cantos, o roubo que se torna uma instituição. Não é possível que Deus, em determinado momento, diga a esta humanidade: ¨Não choreis por Mim, mas choreis por vós e por vossos filhos¨. Algo de grave paira sobre a humanidade nos dias hoje. Que devemos nós fazer? Oferecermos uma confissão bem feita a Nossa Senhora em reparação ao Seu Imaculado coração. Repararmos com um empenho, com um ardor especial o Sapiencial e Imaculado Coração de Maria, por nossos pecados. (EPC)

Por Monsenhor João S. Clá Dias.

 
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