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A caverna de Platão, essa que termina sendo não tão tenebrosa pois conduz à Luz
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 12/05/2014
 
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Redação (Segunda-feira, 12-05-2014, Gaudium Press) Foi na República, exatamente em seu Livro VII, onde Platão escreveu a talvez mais conhecida e importante alegoria registrada pela história da Filosofia, o Mito da Caverna.

A ‘Grosso Modo’, o Pai da Metafísica imagina uma cova na qual se encontram uns homens presos pelo pescoço e pernas, que só podem olhar para frente, até a parede de fundo desta caverna, e isso foi assim desde que eram crianças. Depois disso há um muro, depois um corredor elevado e logo uma fogueira e a entrada da caverna.

caverna de Platão

Pelo corredor elevado caminham outros homens que portam diversos objetos, elementos os quais iluminados pela fogueira, se projetam sobre a parede de fundo, aquela única que pode ser observada pelos pobres prisioneiros presos. Eles, portanto, “não terão realmente nenhuma outra coisa mais que as sombras dos objetos fabricados”.

Mas se um destes prisioneiros fosse desatado de suas cadeias e começasse a percorrer pela caverna, depois de um tempo entenderia que o que estava vendo não eram mais do que sombras. E se depois de acostumar-se com a visão dos objetos portados pelos homens e a luz da fogueira, fosse tirado da caverna, veria uma multidão de coisas que “existe lá em cima” e finalmente depois de um tempo até poderia contemplar o sol que tudo ilumina.

Esse caminho de ‘libertação’ até a superfície da terra, é comparado por Platão “com a ascensão da alma até a região inteligível”, e o sol é a representação da “ideia do bem” absoluto, que “uma vez sentido, se percebe que ele é a causa de toda a bondade e beleza que existe em todas as coisas; que, enquanto no mundo visível engendrou a luz e ao soberano desta (o sol real), no inteligível é ele o soberano e produtor da verdade e conhecimento”. Uma muito sugestiva e didática história, algo simplesmente genial que é ponto de partida para as múltiplas discussões epistemológicas, para a pedagogia, e inclusive para tratados de política.

Chegados até aqui, não compreendemos por que ao grande Platão lhe ocorreu dar vida própria e autônoma aos “Intelegíveis” -umas ideias eternas que vivem em seu mundo próprio, a “região intelegível”- se aqui na Alegoria da Caverna estava tão próximo de colocar esses intelegíveis no Bem, ideia que em vários de seus escritos pode-se assimilar a Deus. Talvez simplesmente o pensamento humano estava em uma etapa prévia do caminho que o conduziria a uma concepção racional mais completa do que é o Autor do Universo.

Não obstante, essa noção já mais atual de que as coisas que nossos sentidos percebem não são senão “sombras” das ideias de Deus -conhecimento este que já se esboça na mencionada metáfora do filósofo grego- é simplesmente superlativa, e de uma utilidade colossal. Vejamos por quê.

Toda a psicologia do homem -a quem nada sacia- pede ao Infinito, tem sede inesgotável do Imperecível, da Plenitude total; o ser do homem reclama desde seu mais íntimo ao Absoluto. No belo dizer de Santo Agostinho, o homem só descansará quando descansar em Deus. E quando será isso? Somente no instante em que nossos olhos se fecharem nesta vida para abrir-se à eternidade?

Não. Quem sabe ver nas “sombras” projetadas na “parede da caverna” os “objetos” que lhes dão vida, quer dizer, quem compreende que toda realidade, particularmente as mais belas, não são senão participações do Ser Divino, esse já vai encontrando a Deus nesta terra, vai acalmando sua sede de infinito e vai se preparando para a eternidade.

Os belos elementos que nos dá o universo, não são senão lentes para olhar a Deus. Faz mal quem põem seu ponto de chegada em um ser criado. Mas faz bem quem o toma como vento ascendente até o Criador. E o homem, a imitação dAquele que criou os diamantes e as cachoeiras, os entardeceres e as aves do paraíso, deve produzir na arte belos elementos que também sirvam de degraus até Deus.

caverna de Platão

Sim, é importante a matéria, pois também em algo somos matéria, e até Deus mesmo quis ter “matéria”: a humanidade belíssima e perfeitíssima de Cristo é também um gigantesco presente do Criador ao homem, para que primeiro com seus olhos do corpo, e a partir daí com os olhos da alma, pudesse ir chegando com corpo e alma até o vestíbulo da eternidade. E além de todo o universo, Deus nos deu a graça, a Igreja, os sacramentos, que são pontes até Deus.

Foi esse caminho que nesta terra percorreu o Santo filho de Mônica, evidenciando esse belo dia quando exclamou:

Tarde te amei;
ó beleza antiga e tão nova,
tarde te amei!

Estavas dentro de mim, e eu, voltado para fora, procurava as formas belas das tuas criaturas.

Estavas comigo, mas eu não estava contigo.

Assim, longe de ti me detinham as criaturas que nada seriam, se em ti não existissem.

Tu me chamaste, e teu grito foi maior que minha surdez;
Tu brilhaste, e tua luz venceu minha cegueira;
Exalaste teu perfume e respirei,
E agora te desejo; provei do teu sabor, agora tenho fome e sede de ti;
Tu me tocaste, agora em mim arde o desejo da tua paz.

Por Saúl Castiblanco

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

 
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