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Quando Adão fazia ‘religião’ no Paraíso
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 23/06/2014
 
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Redação (Segunda-feira, 23-06-2014, Gaudium Press) O ‘ser’, é algo ainda por descobrir.

Como o demonstrou até a saciedade o Padre Cornelio Fabro, uma das maiores descobertas de São Tomás de Aquino foi descobrir e ressaltar a importância fundamental do ‘esse’, do ser. São Tomás não fez a esse respeito um mero ‘collage’ entre a doutrina platônica e a doutrina aristotélica, mas encontrou algo novo, além de solucionar os graves problemas que apresentavam certas suposições do grande Platão e de seus discípulos.

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Platão colocava a autêntica realidade não nas coisas sensíveis mas nas grandes “ideias”, com vida própria e autonomia, das quais os seres sensíveis não eram senão meras aparências. Mas resulta que essas Ideias vivas -habitando em seu mundo próprio, o mundo das Ideias- simplesmente não existem. E o “Filósofo” (que era como São Tomás chamava Aristóteles, dando-lhe esse título por antonomasía) quase que lhe dava uma autonomia absoluta às criaturas sensíveis, com suas famosas formas imanentes.

Superando a Platão e a Aristóteles, e inspirado pela revelação cristã, São Tomás negou a existência das Ideias platônicas vivendo aparte em seu Mundo, e mostrou como na Essência divina do único Deus verdadeiro podiam morar essas ideias; que elas não eram diferentes da essência divina, e que eram a causa exemplar e a causa eficiente de todos os seres criados.

Assim mesmo, negando a eternidade do universo que propunha Aristóteles, o Aquinate mostrou não só a necessidade do Ser divino para explicar o ser dos seres criados, mas afirmou que a só permanência na existência de cada criatura equivale a uma espécie de criação constante, afirmando e purificando assim a doutrina platônica da participação do ser dos seres no Ser divino.

Nesta linha, para Tomás de Aquino Deus não é só o Motor Imóvel do universo, mas o conjunto da Criação, como exalação amorosa da ‘intimidade’ de Deus, não pode ser outra coisa que uma gigantesca e maravilhosa sinfonia que canta a todo momento a glória do Ser que é por essência, do “Ser Puro” que cria e sustenta o ser do que somos meros seres por participação.

E após estabelecer esse vínculo indissolúvel entre Criador e criaturas, São Tomás coloca no pináculo da estrutura dos entes ao Ato de ser, é esse ser dos entes, das criaturas, essa perfeição das perfeições da qual se deriva qualquer outra perfeição, pois se não existisse não haveria nada.

Entretanto, ousamos dizer que com essa doutrina o Doutor Universal da Igreja não fez senão abrir desde o âmbito filosófico uma magnífica porta dourada, que dá acesso ao caminho da contemplação da Essência divina, através do prisma da harmonia do conjunto dos seres.

Na verdade, podemos afirmar que não existe o ‘verde’ enquanto verde, mas que ele é mais em um prado, ou em uma árvore; mas mais que habitar o reino vegetal, existe o Verde presente nas ideias divinas que geram as coisas verdes. Igualmente, não existe na realidade a ideia ‘leão’, mas sim existem os leões concretos, e acima deles existe a ideia leão habitando na Essência divina.

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Nessa linha, certamente o que vemos não são senão meras “aparências”, mas não no sentido platônico, mas no de afirmar que nada do que existe pode ser outra coisa senão um reflexo, uma participação, um vestígio, uma imagem do Ser de Deus.

Narra o Gêneses que Adão por disposição divina deu o nome a todos os animais. Como explicam alguns exegetas, isto era porque o primeiro homem possuía o dom da Sabedoria, que não é outra coisa que uma participação na visão que Deus tem do Universo. Adão via os seres e naquele momento tornava explícito o que Deus queria refletir em cada espécie em um termo que expressasse essa ‘ideia divina’, feita carne no leão, no colibri, no cordeiro.

No fundo, Adão pôs o nome nos seres, quando entendeu o que eles significavam para Deus, e simbolizavam de Deus. Adão no Paraíso, e através da Ordem da Criação, também estava fazendo religião…

Por Saúl Castiblanco

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

 
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