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“Que o exemplo das primeiras comunidades nos estimule”, pede o Bispo de Campo Mourão
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 11/05/2015
 
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Campo Mourão – Paraná (Segunda-Feira, 11/05/2015, Gaudium Press) Dom Francisco Javier Delvalle Paredes, Bispo da Diocese de Campo Mourão, no Paraná, escreveu um artigo sobre o livro dos Atos dos Apóstolos. Ele fez uma reflexão sobre os modelos comunitários evidentes no texto sagrado, salientando que Lucas, autor dos Atos, é por excelência um entusiasta pela vida em comunidade.Dom Francisco Javier Delvalle Paredes.jpg

Segundo o Prelado, Lucas acredita que a comunhão oriunda da Fé sintetiza a natureza mesma do agir cristão no mundo. Conforme seu modo de ver a Fé, o Batismo põe o cristão na vida de comunhão com Deus no seio da comunidade à qual passa a pertencer. Dom Paredes ressaltou que transcorrido o Pentecostes (At 2,1-41), evento fundante do dinamismo missionário, Lucas insere a primeira descrição da comunidade de Jerusalém (At 2,42-47).

Para o Bispo, nestes versículos a comunidade, produto de Pentecostes, é descrita como perseverante segundo quatro critérios fundamentais, tais como: ensinamento dos Apóstolos, comunhão fraterna, fração do pão, orações, marcas tipicamente cristã dos primeiros núcleos comunitários formados a partir da experiência com Jesus Cristo.

“Perseverar no ensinamento dos Apóstolos consiste na unanimidade no ato de Fé. Os cristãos se auto-compreenderam desde o início como portadores da revelação plena do Pai na pessoa do Filho feito homem para a salvação do mundo. Este traço das primeiras comunidades ensina que não se pode crer de qualquer jeito”, disse.

Além disso, o Prelado afirmou que a Fé deve ser vivida e professada na Igreja, em comunhão com os batizados, membros do Corpo Místico de Cristo, mas, por outro lado, a Fé precisa ser transmitida. De acordo com ele, os Apóstolos, antes de tudo, foram transmissores da Fé através da pregação da Palavra e do testemunho heroico, portanto, perseverar no ensinamento dos Apóstolos equivale a progredir na pregação apostólica, reproduzindo no presente da história o que eles fizeram nos primórdios da Igreja.

“Lucas prossegue dizendo que a comunidade perseverava na comunhão fraterna. Em grego, língua original dos Atos dos Apóstolos, a expressão comunhão fraterna traduz-se simplesmente por comunhão. Comunhão no sentido mais radical e orgânico do termo, a ponto de transformar os crentes num só coração e numa só alma (At 4,32). Desta comunhão brotou o novo modo de estabelecer relações entre os batizados”, explicou.

Outra questão abordada pelo Bispo é que na sociedade daquele tempo as relações eram verticais, em pirâmide de desigualdade. Segundo ele, no interior da comunidade cristã o verticalismo das relações foi substituído por laços horizontais de fraternidade e ajuda mútua, fazendo com que a vivência autêntica da comunhão colocasse fim ao modelo sócio-cultural separatista e pouco digno, abrindo espaço a comunidades de tamanho humano, das quais se pode dizer: “Não havia entre eles necessitado algum” (At 4,34). Para Dom Paredes, não havia necessitados porque a comunhão tomou o lugar do egoísmo e da ambição mesquinha que exclui e desfigura a feição realmente humana das relações.

Outro aspecto é que perseveravam na fração do pão. Conforme o Prelado, no conjunto do livro a expressão alude à Eucaristia, aliás, fração do pão foi um dos mais antigos nomes dados à Missa na história do cristianismo. Ele enfatizou que aqueles que viviam a comunhão no dia a dia, partilhando de si em favor dos demais, também celebravam a comunhão pela força do sacramento deixado pelo próprio Senhor durante a Última Ceia.

“Desde a primeira hora as comunidades cristãs se auto-compreenderam em chave Eucarística. O exemplo do Senhor, despojando-se totalmente de si mesmo, cunhou o cerne da mensagem cristã. A pregação mais primitiva da Igreja consistiu no anúncio do Cristo crucificado e ressuscitado. Esta memória, celebrada na Eucaristia, esculpiu um dos aspectos centrais da Fé.”

Por fim, Dom Paredes disse que Lucas ainda menciona que os fiéis eram perseverantes nas orações, ressaltando assim a comunidade orante, em perene sintonia com Deus. De fato, de acordo com o Bispo, após a libertação de Pedro e João, o primeiro ato da comunidade é rezar unida aos apóstolos libertos (At 4,23-31). Em Atos 12, estando Pedro novamente preso, diz-se que “a Igreja fazia ardentemente oração a Deus, em favor dele”. Para o Prelado, a oração também se faz pela comunhão, pois não se reza simplesmente na individualidade e quem reza é a Igreja, isto é, a comunidade dos batizados que, numa só boca clama e num só coração professa a Fé.

“Estes quatro aspectos são critérios basilares à compreensão da mística comunitária lucana. Por outro lado, convém recordar que nem tudo foi tão harmonioso quanto parece. A comunidade apresentava problemas, mostrando-se em processo de maturação. Em Atos 5, temos o caso do casal Ananias e Safira que, mentindo aos Apóstolos enquanto representantes da comunidade, mentiu ao Espírito Santo. Ananias e Safira se comportaram de forma egoísta, subvertendo a comunhão, nota basilar da convivência entre os batizados. O casal morre repentinamente”, recordou.

Depois, o Bispo ainda destacou que é necessário perceber os desafios vividos pelos grupos cristãos: são conflitos com autoridades judaicas e romanas, com pagãos e, por vezes com membros seus, conforme atesta o relato acerca do casal Ananias e Safira. Um contexto turbulento que projeta a evangelização para empreendimentos ainda mais ousados.

“Lucas possui visão positiva da história. Apesar dos conflitos e desafios a Palavra e a Igreja crescem numa coextensividade admirável. O autor dos Atos escreve história sem perder de vista o evento fundamental, a experiência com o Ressuscitado na força do Espírito Santo derramado em Pentecostes. Por isso percebe beleza em meio aos reveses da missão evangelizadora.”

Para concluir, Dom Paredes afirmou que nesta atitude de Lucas repousa salutar ensinamento para nossas comunidades. Para ele, mais do que um ponto de vista, Lucas foi capaz de avaliar toda a trajetória cristã do seu tempo a partir do ponto fundamental que fez a Fé se mover como força de transformação sócio-cultural.

“Quanto mais caminhamos tendo presente o impulso primeiro que nos levou à missão, maiores condições possuímos no sentido de perseverar e viver com alegria o caminho abraçado. Que o exemplo das primeiras comunidades nos estimule, encorajando-nos à profecia e à resistência num contexto cada vez mais hostil e omisso às questões fundamentais concernentes à dignidade humana à luz de Deus”, finalizou. (FB)

 
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