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Arautos


Arautos no Mundo


Pelas sendas da “África em miniatura”
 
AUTOR: FRANÇOIS BOULAY
 
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Pelos seus mil gestos de afeto, benquerença e fraternal amizade, mas sobretudo pela ardente devoção à
Virgem Santíssima que ali encontramos, o povo camaronês conquistou os nossos corações.

Situado no litoral oeste da África Central, Camarões tornou-se conhecido como a “África em miniatura”, em virtude de sua notável diversidade geológica e cultural. Praias, desertos, montanhas, florestas tropicais e savanas cobrem um território de quase 500 mil quilômetros quadrados. Sua população de 22 milhões de habitantes representa mais de 200 grupos étnicos.

Em 1890 lá chegaram os primeiros missionários, os palotinos, e hoje o país conta com 4,25 milhões de católicos. Camarões é considerado um oásis de paz cercado de turbulências, pois faz fronteira com várias nações às voltas com guerras, violências e enfermidades. Paul Ede Ekpe, correspondente e cooperador dos Arautos neste país, atribui tal estabilidade ao fato de ter sido ele consagrado à Santíssima Virgem já nos primórdios de sua evangelização.

Fruto do trabalho de dois cooperadores

O modo como se iniciou o apostolado dos Arautos do Evangelho em Camarões mostra como por vezes o Espírito Santo se utiliza de pequenas circunstâncias para realizar seus planos. Há catorze anos, um camaronês professor de alemão, Jean Isidore Nkoto Eba, enviou a esta Associação uma carta solicitando a remessa de algumas publicações. Depois de muitos outros contatos epistolares, tornou-se coordenador de grupos do Apostolado do Oratório dos Arautos na região onde reside, nas proximidades da capital, Yaoundé.

Mons. João Scognamiglio Clá Dias propôs-lhe, então, ingressar como cooperador nas fileiras dos Arautos do Evangelho e o convidou a visitar a Casa-Mãe desta Associação, em São Paulo, para receber a capa de cooperador. Jean Isidore aceitou a proposta, mas, por motivos vários, não pôde fazer a viagem. Foi-lhe então remetida por correio a capa, que ele recebeu com demonstrações de alegria e gratidão.

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 Nanga Eboko Paul Ekpe, cooperador camaronês dos Arautos, quis que Imagem Peregrina visitasse sua cidade natal antes
de percorrer 
 as aldeias da diocese de Mamfe.  Centenas de pessoas, entre elas membros do Apostolado do Oratório, a
esperaram a três  quilômetros 
do município e a  conduziram em alegre procissão até a igreja.

Pouco tempo depois travou contato com Paul Ekpe, um nigeriano residente em Camarões, o qual também se tornou cooperador dos Arautos. Atuando em conjunto, os dois divulgavam as publicações desta Associação, formavam e orientavam sucessivos grupos do Apostolado do Oratório. E agora, depois de catorze anos de atividade evangelizadora, lá chegou a Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria, conduzida por três missionários arautos — dois canadenses e um indiano — para uma maternal visita a seus filhos camaroneses.

Ela, por fim, havia chegado!

Um lamentável imprevisto nos aguardava ao desembarcarmos no aeroporto de Yaoundé, no dia 1º de outubro: por uma falha da companhia aérea, a Imagem Peregrina não havia chegado

Lá nos esperavam o padre Samuel Tabeson, sacerdote da Diocese de Mamfe, onde seria realizada a Missão Mariana, Paul Ekpe e uma delegação de dez paroquianos vindos para recepcioná-la. Apesar do desapontamento pelo extravio, manifestaram alegria em receber os três missionários com cantos e danças, à meia-noite, em pleno aeroporto!

Nós nos encontrávamos, entretanto, numa embaraçosa situação: estava programada para o dia 3 a visita à paróquia de Nanga Eboko, onde reside o cooperador Jean Isidore; ora, segundo os cálculos dos responsáveis, não havia possibilidade alguma de a imagem chegar antes do dia 4. Com enorme tristeza, o pároco e os fiéis receberam a notícia de que iríamos para a visita, mas não acompanhados por ela.

A Divina Providência, porém, jamais abandona aqueles que pedem com fé. Na noite de 2 de outubro, às 22h, o padre Samuel recebeu uma ligação do aeroporto, avisando que a imagem havia chegado! Dando graças a Deus, fomos sem demora buscar nossa celeste Acompanhante!

Imagine-se a agradável surpresa dos fiéis no dia seguinte, ao nos verem nas proximidades da aldeia com a imagem sagrada! Foi tão grande que explodiu em expressões de alegria e entusiasmo quase incontroláveis. Formou-se logo uma procissão que percorreu cerca de três quilômetros, com cantos e danças. Na igreja, após rezarem com especial fervor o Rosário, puderam todos contemplar de perto a maternal fisionomia de Maria e apresentar-Lhe seus pedidos individuais. Assim foi a primeira jornada missionária dos Arautos do Evangelho em Camarões. E já de início ficamos muito tocados pelas incontáveis manifestações de fé e piedade que pudemos presenciar.

A mais nova diocese de Camarões

A próxima etapa da nossa viagem era a missão organizada em Mamfe por nosso cooperador Paul Ekpe e pelo padre Samuel Tabeson.

Erigida em 1999, Mamfe é a mais nova diocese de Camarões. Seu território abrange uma grande região do sudoeste do país, a maior parte da qual coberta pelas florestas tropicais da África Equatorial. O primeiro Bispo, Dom Francis Teke Lysinge, enfrentou grandes dificuldades, como caminhar cinco horas ou mais em estradas de terra para chegar a algum povoado. Por falta de rodovias pavimentadas, a comunicação com localidades do interior fica limitada durante a época de chuva, ou seja, seis meses do ano. E o Bispo precisa passar pela Nigéria para visitar
algumas paróquias.

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Fotabong Dificuldades enfrentadas durante a viagem fizeram com que a imagem chegasse ao povoado perto da meia noite. Mas o tardio
da hora não diminuiu o entusiasmo dos quase 300 fiéis que a esperavam desde as 16h e a receberam ao modo africano: com danças e tambores.

Apesar de todos esses obstáculos, a Diocese de Mamfe hoje conta com 34 mil fiéis, sobre uma população total próxima dos 250 mil habitantes. Ela está dividida em 21 paróquias, cada qual com várias comunidades. A visita da Imagem Peregrina foi preparada com grande esmero. Incentivadas por uma carta pastoral do Bispo, todas as paróquias se dispuseram a recebê-la da melhor maneira possível. Na cidade de Mamfe viam-se cartazes anunciando o evento. Numerosos fiéis transitavam vestindo camisetas ou portando véus com a imagem impressa da celestial Visitante. 

Entusiasmadas orações no meio da noite

“É melhor chegar três horas mais cedo do que um minuto atrasado”.1 Esta conhecida frase de Shakespeare em nada influencia a vida cotidiana dos camaroneses, os quais se deixam levar mais por um ditado popular: “O africano não espera a hora, esta é que espera o africano”.

 Grande novidade era para nós — canadenses muito propensos à pontualidade — esse conceito do african time. Dele tivemos a primeira experiência na visita à Paróquia São João Evangelista, de Fotabong. A chegada estava marcada para as 16h. Aconteceu, porém, que alguns trechos da estrada de terra eram quase intransponíveis por causa da lama. Ademais, nos perdemos no caminho… Para resumir, chegamos às 23h, depois de inesquecíveis aventuras. Pois bem, a essa hora tardia, encontramos à nossa espera um grupo de quase 300 pessoas cheias de entusiasmo. Ao som de tambores e à luz de velas, cantavam e dançavam, ostentando coloridos pompons, enquanto soavam os sinos! Lá estavam três sacerdotes que nos acolheram com fraternal benquerença.

Mas outra reconfortante surpresa nos aguardava. Sem a mínima manifestação de queixa a respeito do atraso, os bravos paroquianos deram início, com grande pompa, ao programa de recepção da Imagem Peregrina: discursos de boas-vindas e agradecimentos, seguidos de uma procissão até a igreja, recitação de um terço em conjunto, um tempo para orações individuais junto à imagem e, por fim, a solene celebração da Santa Missa, com cortejos, incensamentos, cânticos de um afinado coral. Resultado, o relógio marcava 2:30h da madrugada quando se encerrou a cerimônia litúrgica!

Muito enganado estará o leitor se julgar que após essa maratona noturna todos se entregaram a um prolongado repouso. Na Missa dominical das 9h da manhã, a matriz estava lotada! Mais admirável ainda: segundo nos relatou o pároco, padre Reginaldo Owuuzi, vários dos assistentes eram de comunidades distantes da matriz mais de duas horas de caminhada a pé. Portanto, saíram da igreja às 2:30h e não hesitaram em caminhar mais de quatro horas para estar de novo aos pés da Rainha dos Anjos e dos homens, na Missa das 9h.

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 Fontem – A fé e confiança da tribo Bangwa obtiveram como recompensa a criação do Hospital Maria, Saúde da África (esquerda) do
Colégio Sede da  Sabedoria (direita). A imagem foi recebida calorosamente em ambas as instituições

Calorosa recepção no povoado de Fontem

Cada dia conduzíamos a imagem a uma paróquia. Geralmente, ela era recebida pela população à entrada da aldeia, onde, numa singela cerimônia, o líder local a coroava e fazia várias petições à Virgem Santíssima, em nome de todos. Em seguida, nos dirigíamos em procissão até a igreja, sempre com cantos e danças; ali rezávamos em conjunto um terço e o ato de consagração da paróquia a Nossa Senhora; depois de um tempo para cada qual fazer suas preces particulares, iniciava-se a celebração da Santa Missa. Com pequenas variações no programa, devidas a peculiaridades locais, visitamos ao todo 13 paróquias, 146 lares e 9 instituições.

Uma visita especialmente marcante foi a realizada à comunidade de Fontem, numa região rural muito pobre. Contou-nos sua história um médico do Movimento dos Focolares, Dr. Alexander Maldonado, que lá reside há catorze anos.

Há cerca de cinquenta anos a tribo Bangwa, que tinha sido muito numerosa, vinha sendo dizimada por doenças. Mais de 90% das crianças morriam no primeiro ano de vida. Impotentes diante do terrível mal, esses africanos, com os poucos cristãos que havia entre eles, se perguntaram: “Por que Deus nos abandonou?”. E concluíram: “É porque não rezamos!”. Decidiram, então, de comum acordo: “Rezemos por um ano; quem sabe se Deus não Se recordará de nós!”. Rezaram todos os dias durante um ano, ao fim do
qual nada mudara.

Sem desanimar, os cristãos argumentaram:
“Deus não nos atendeu porque não rezamos bastante. Rezemos por mais um ano”. Mais doze meses de súplica… sem resultado. Chegaram então a uma triste constatação: “Nós somos maus, por isso nossas orações não têm valor diante de Deus”. E alguém propôs: “Façamos uma coleta de dinheiro para entregar ao Bispo, para ele encarregar de rezar por nós uma tribo mais digna”.

Comovido, o Bispo interessou-se pelo caso e fez-lhes uma visita, prometendo um hospital. Decorridos três anos, chegaram ao local alguns médicos focolarinos. E o povo Bangwa viu nisso a resposta de Deus às suas súplicas. O Movimento dos Focolares evangelizou a região de Fontem, até então abandonada, fundou um hospital — Maria, Saúde da África — e um colégio dedicado à Sede da Sabedoria. Nesse local, foi das mais calorosas a recepção à Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria.

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Dificuldades que fazem aumentar o fervor

Impossível relatar no curto espaço de um artigo todas as manifestações de fé e piedade do povo camaronês, menos ainda as incontáveis vicissitudes que se nos deparavam a cada momento. Por exemplo, na paróquia de Ekok, perto da fronteira com a Nigéria, nosso carro atolou na estrada enlameada. O comandante da polícia enviou uma viatura para nos auxiliar, mas esta também atolou. Só depois de muito esforço, recebendo ajuda de todos os lados, conseguimos chegar à igreja. Pelo visto, em Camarões as dificuldades fazem aumentar o fervor, pois foi especialmente esplendorosa a procissão com velas, realizada logo a seguir.

Chegamos, por fim, ao nosso destino: Mamfe. Dom Andrew Nkea Fuanya, Bispo Diocesano, encontrava-se em Roma, mas seu secretário, padre Peter Paul Ibeagha, e o Bispo Emérito, Dom Francis Teke Lysinge, nos receberam com as maiores mostras de benquerença e nos hospedaram na residência episcopal.

Também nas paróquias, comunidades e outras instituições desta cidade não poderia ter sido melhor a recepção à celestial Visitante, acolhida por toda parte com manifestações de devoção e de filial carinho.

Especialmente comoventes foram as visitas aos colégios. As crianças desse longínquo rincão africano não possuem celular, poucas vezes assistem televisão e muito raramente acessam a internet. Isso as ajuda a manterem-se muito inocentes e preservadas. Elas fazem logo amizade com quem as trata com bondade. Como há poucos estrangeiros nessas regiões, sobretudo em Mamfe, olhavam curiosas para os missionários e aproximavam-se deles com muita candura. Alguns meninos até entoavam com simpatia uma canção que se traduz mais ou menos assim: “Branco, branco, desde que minha mãe me deu à luz, nunca vi um branco!”. Conversando com os missionários e conhecendo o labor por eles realizado, muitos jovens manifestaram desejo de ser um dia Arautos do Evangelho. Os adultos, perguntavam-nos com frequência sobre a possibilidade de erigirmos uma comunidade em Mamfe. Seguindo uma pitoresca tradição local, uma senhora nos ofereceu um coco para ser plantado frente à catedral, à espera que novos missionários arautos venham colher seus frutos no futuro!

Ginásio São João - Arautos do Evangelho.jpg St. Johns School Nchang_Arautos do Evangelho.jpg

Ginásio São João – Alunos e alunas do ginásio São João, em Nchang, rezaram o terço diante da Imagem Peregrina e a acompanharam
com cânticos e orações  no percurso pelas instalações desse centro de ensino secundário, um dos mais reputados de Camarões.

Sempre ficará gravado em nossos corações!

Poucos dias depois de nossa chegada,Dom Andrew regressou de Roma, a tempo de celebrar a Missa de encerramento da missão, na catedral. Nessa ocasião, dirigiu palavras de agradecimento à Associação Arautos do Evangelho e nos presenteou com alguns trajes tradicionais da região. À noite, fomos agradavelmente surpreendidos por uma animada sessão cultural, constante de peças musicais e danças, apresentadas por representantes de diversas tribos. Uma ceia com pratos típicos encerrou o evento. Realmente nos sentimos parte da grande família da comunidade cristã de Mamfe.

Por seus trajes multicoloridos, suas canções simples e piedosas, suas danças alegres e pitorescas, seus mil gestos de afeto, de benquerença e fraternal amizade, pela candura e simplicidade do seu modo de ser, mas sobretudo por sua fé viva e ardente devoção à Virgem Santíssima, por tudo isto o povo camaronês nos encantou sobremaneira.

E quando por fim, depois de comovidas despedidas, entramos no avião para a viagem de volta, faltavam-nos palavras para exprimir o que tínhamos no coração. Presenciamos algo conhecido por pouca gente no mundo ocidental, algo que nos tocou profundamente, mas ainda não sabemos explicitar. Quiçá possa ser formulado da seguinte forma: “Excelente missão esta, em que os felizes missionários receberam tanto quanto deram! Em certo sentido, talvez um pouco mais…”. Com tais sentimentos, esperamos, ansiosos, a próxima missão na África.

chegada a MAMFE_Arautos do Evangelho1.jpg chegada a MAMFE_Arautos do Evangelho2.jpg chegada a MAMFE_Arautos do Evangelho3.jpg

Chegada a Mamfe – Um longo cortejo precedido por uma cruz procissional deu as boas-vindas à Imagem a Mamfe, cidade
que da nome à diocese, onde ela foi recebida com não menor solenidade e alegria.

Dom Andrew Nkea Fuanya, Bispo Diocesano de Mamfe.jpg Cathedral of Mamfe_Arautos do Evangelho2.jpg Cathedral of Mamfe_Arautos do Evangelho3.jpg

Missa de encerramento – Dom Andrew Nkea Fuanya, Bispo Diocesano de Mamfe, retornou a tempo de Roma para presidir
a solene Missa de Encerramento da missão. Várias centenas de fiéis lotaram a Catedral para despedir a Imagem.

Seminario diocesano de Mamfe_Arautos do Evangelho1.jpg Seminario diocesano de Mamfe_Arautos do Evangelho2.jpg

Seminário diocesano de Mamfe – No dia 10, a Imagem foi recebida no Seminário Maior João Paulo II.Os seminaristas a acompanharam até a capela
da comunidade, onde recitaram o Rosário e escutaram uma breve explicação dos missionários, antes de se aproximarem a venerá-la.

 
Comentários
Cristian - 27 de Fevereiro de 2017
Excelente articulo