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Arautos


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Conversa com o Pe. Arão Mazive, EP: A vida da Igreja no Continente da Esperança
 
AUTOR: PE. ALEX BARBOSA DE BRITO, EP
 
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Na África o Catolicismo cresce cada vez mais, descortinando um promissor panorama espiritual, sobretudo entre os jovens. É o que descreve o Pe. Arão Mazive, enquanto nos mostra os diversos ambientes da casa dos Arautos em Maputo e a construção da nova igreja.
“Na casa dos Arautos em Moçambique,
temos muitas pessoas que vêm de longe
para assistir à Santa Missa por admirar
a beleza do cerimonial”

Segundo recente estatística do Vaticano, a África é o continente onde o Catolicismo mais cresce no mundo. Como vê isso quem está realizando seu labor evangelizador em Moçambique?

Realmente há um notável crescimento do Catolicismo na África que se percebe, entre outros sinais, pelo grande número de Batismos ocorridos ao longo do ano. Em Moçambique isso traz a necessidade de edificar com urgência novas igrejas, pois em diversas comunidades muitos assistem à Missa pelas janelas dos templos, regurgitados de fiéis no seu interior. Há inclusive celebrações realizadas debaixo de árvores, ou sob uma cobertura sem paredes. Esse fenômeno já se tornou habitual para os membros da Igreja Católica na África. Há ainda outro aspecto que chama a atenção: a falta de sacerdotes, pois é comum e frequente que um padre tenha de celebrar mais de cinco Missas dominicais. E, mesmo assim, há comunidades que ficam sem Missa por um mês.

Considerando que a Fé chegou à África a partir da Europa, como é vista desde o continente africano a descristianização do Ocidente hoje?

Encara-se com muito pesar a descristianização do continente europeu, muito embora não faltem gratidão e orações em favor daqueles que trouxeram a Religião para boa parte do solo africano. Mas também há muita cautela com relação ao que os católicos europeus de hoje oferecem aos africanos, pois, não raro, eles apresentam para nós a doutrina adulterada com que justificam a sua decadência moral.

Muitas leis e costumes do continente africano não seguem a onda geral de paganização do resto do mundo. Que fator existe de preservação ou resistência interna?

O fato de ser a África um continente pobre fez com que ficasse um pouco à margem do processo de “modernização” do Ocidente, o qual trouxe como consequência uma paganização crescente da opinião pública. Na cultura africana vigoram muitos princípios da lei natural, florescidos e reflorescidos com a evangelização. Quando pessoas de países que claudicaram na Fé e na moral vêm aqui para impor os seus desvarios, encontram resistência, pois o africano sabe bem que sua dignidade provém do fato de ser filho de Deus, e que a melhor forma de agradar a tão bondoso Pai é cumprir os seus Mandamentos.

É fato que na África existe um desejo de espiritualidade muito forte. Isto favorece a evangelização, mas pode também trazer riscos. Que desafios existem hoje em relação a isso?

No que tange às crenças, há na África tradições que ligam nossos povos ao povo eleito do Antigo Testamento. Por exemplo, no Livro do Levítico Deus ordena o seguinte: “Receberá da assembleia dos israelitas dois bodes destinados ao sacrifício pelo pecado e um carneiro para o holocausto” (16, 5). E aqui existe a tradição de oferecer cabritos imolados aos antepassados para aplacá-los quando se passa por uma situação difícil ou para lhes agradecer por algum benefício recebido. Mas, como todo católico, o africano deveria saber que o ocorrido no Antigo Testamento, em matéria de imolação de animais para limpar-se dos pecados, era apenas uma pré-figura do que Nosso Senhor veio realizar com o derramamento do seu preciosíssimo Sangue e a Redenção da humanidade.

Enumere os principais desafios para a evangelização da África hoje?

O africano em geral tem dificuldade na prática da virtude da confiança. Ele não entende as demoras da Divina Providência em atender nossos pedidos. Quando faz alguma súplica e aparentemente não é atendida, precisa fazer força para acreditar que Deus é o sumo bem e a fonte da felicidade, e que, por fim, o atenderá da melhor forma possível e satisfará plenamente as suas esperanças. Nas últimas décadas se observa a proliferação de seitas que se aproveitam da carência do povo para iludi-lo com promessas enganosas, levando-o a aderir aos seus erros.

Qual é o contributo que a África pode dar hoje para a Igreja?

A África pode contribuir positivamente para o desenvolvimento da Igreja de muitas formas. Uma delas é dando filhos e filhas que a sirvam como sacerdotes, religiosos e religiosas de vida consagrada.

O público de Moçambique tem manifestado uma compreensão muito profunda do carisma dos Arautos do Evangelho. Existe de fato algo na alma moçambicana que se sente atraída especialmente para a via pulchritudinis, a evangelização por meio da beleza?

Sim, há uma adesão extraordinária ao carisma dos Arautos do Evangelho, uma vez que a alma africana tem sede insaciável pela beleza, refletida no gosto pelas cores vivas nos trajes e adornos. O moçambicano é cerimonioso e formal no seu modo de se exprimir e proceder. Como todo africano, tem sua luz primordial na contemplação do maravilhoso. Portanto, o moçambicano encontra na via pulchritudinis uma resposta de Deus às suas melhores aspirações de alma. Na casa dos Arautos em Moçambique, temos muitas pessoas que vêm de longe para assistir à Santa Missa por admirar a beleza do cerimonial. E para alguns se trata da segunda Missa do dia. São insaciáveis do belo!

Uma das coisas que mais surpreende o visitante de Moçambique é uma alegria constante do povo diante das situações mais adversas. Onde achar a causa disso?

Há algo que Deus colocou na alma africana pelo qual ela considera a vida como um dom de Deus. É preciso saber superar qualquer vicissitude, pois a vida nesta terra é tão curta que não podemos encher a alma de amarguras e tristezas por causa dos sofrimentos. Aliás, muitas dificuldades da vida que para outros povos são sinal de infortúnio, para o africano não o são. Para quem não é nativo daqui fica difícil compreender esse mistério.

Pe. Arão Otílio Gabriel Mazive, EP, nasceu em agosto de 1979 na província de Inhambane, e fez seus primeiros estudos em Beira, província de Sofala. Aos dezoito anos passou a morar em Maputo, onde conheceu os Arautos do Evangelho e se tornou membro da instituição. Em 2003 partiu para Xai-Xai e ali permaneceu por um ano, conjugando os estudos com o trabalho missionário. Em 2004 recebeu o hábito em São Paulo das mãos do fundador, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP. No dia 21 de abril de 2013, foi ordenado diácono por Dom Sérgio Aparecido Colombo, Bispo de Bragança Paulista, e em 12 de dezembro de 2013 Dom Benedito Beni dos Santos, Bispo emérito de Lorena, elevou-o ao grau de presbítero, sendo incardinado na Sociedade de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli. Atualmente é diretor da casa que os Arautos do Evangelho possuem nos arredores de Maputo.

Sem-número de atividades pastorais

A Igreja de Moçambique, como ocorre em tantas outras regiões do mundo, carece de sacerdotes e missionários para atender a toda a população. A isto se soma a dificuldade inerente ao país de haver muitas comunidades dispersas e em locais de difícil acesso, que correm o risco de passar meses sem receber os Sacramentos.

Tal contingência aperta o coração sacerdotal do Pe. Arão Mazive, diretor da Casa Pierre Toussaint, bem como o dos outros sacerdotes arautos que trabalham em Maputo ou visitam a comunidade, e os leva a se desdobrarem, a fim de multiplicarem sua capacidade de atendimento pastoral.


Compromisso com paróquias e santuários

Na Paróquia Santa Maria Mãe de Deus, de Khongolote, onde está situada a casa dos Arautos de Maputo, os sacerdotes da instituição ajudam o Frei Sérgio Estefane, OCarm, em seu trabalho pastoral. Mas também celebram Missas, com frequência, em outras comunidades de localização dificultosa, como a de Santo Antônio de Muchisso, pertencente à Paróquia da Sagrada Família, da Machava, e atuam igualmente na formação catequética de neoconvertidos ao Catolicismo, em sua grande maioria jovens de diversas proveniências e crenças religiosas.

No Santuário de Nossa Senhora de Fátima, de Namaacha, situado a setenta e dois quilômetros de Maputo, já é tradição os Arautos do Evangelho ajudarem na realização do maior evento religioso do país, que é a peregrinação nacional ao santuário, em 13 de maio e 13 de outubro, nas festas da Bem- -Aventurada Virgem de Fátima, das quais participam milhares de fiéis provenientes de quase todo Moçambique e arredores. Nessas ocasiões a orquestra de metais dos Arautos abrilhanta o evento e é disponibilizado o sistema de som móvel da instituição para animar a procissão de velas, ao longo de todo o percurso.


Incentivo à devoção a Nossa Senhora

Para promover a devoção a Maria Santíssima, os Arautos do Evangelho ministram cursos de consagração a Nossa Senhora, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, quer nas paróquias, quer na capela de sua casa ou através do programa de rádio Hora Mariana, que alcança várias províncias do país, cursos estes que são acompanhados por numerosos participantes, com frutos surpreendentes.

Além desta atividade mariana, promovem o Apostolado do Oratório. Inúmeros lares do país recebem o Oratório uma vez ao mês, ocasião em que a família reza em conjunto o Rosário e outras devoções. Há inclusive Oratórios peregrinando em Camarões, África do Sul, Ruanda e Angola, graças ao zelo evangelizador dos moçambicanos.

Ademais, os Arautos visitam as famílias com a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, convidando a vizinhança para um momento de recolhimento e de oração à Mãe de Deus. São imensos os benefícios recebidos do Céu através desta atividade apostólica. Citemos, de passagem, o reavivamento da Fé Católica em pessoas afastadas da vida paroquial e o regresso à casa paterna daqueles que, há anos, se tinham transviado da verdadeira Religião. Incontáveis propósitos de emenda de um mau hábito, de retorno à frequência aos Sacramentos, em especial da Reconciliação e da Eucaristia, surgem nessas visitas. Enfim, se observa um grande e consistente afervoramento espiritual após a passagem da imagem de Nossa Senhora nos lares.

Promoção cultural e vocacional

Para promover um incremento cultural no público juvenil, os Arautos do Evangelho visitam também os estabelecimentos de ensino, públicos e privados, onde atuam junto à juventude tão necessitada de orientação espiritual. Através do Projeto Futuro e Vida, empreendimento cultural-religioso dos Arautos, são ministrados cursos de música e aulas de formação moral e religiosa, tanto nos colégios quanto nas paróquias, para, à semelhança do Apóstolo das Gentes, edificar um “homem novo” (Ef 4, 24).

De tal iniciativa, porém, os melhores resultados recebem os seminários e conventos, que têm colhido os mais nobres frutos deste trabalho, que é o desabrochar de novas e autênticas vocações. (Revista Arautos do Evangelho, Setembro/2018, n. 201, p. 32-35)

 
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