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Arautos


Arautos


Quando atuam fatores sobrenaturais
 
AUTOR: EP
 
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Deus costuma agir por meio de causas segundas, obedecendo às regras e leis por Ele próprio estabelecidas na natureza. Às vezes, entretanto, o curso normal das coisas é alterado por fatores sobrenaturais, inexplicáveis pela ciência.

Ao criar o universo, Deus ordenou todas as coisas de acordo com a natureza própria a cada uma delas. Às árvores mandou darem frutos segundo sua espécie, no devido tempo. Sol e Lua alternam-se no firmamento, marcando o dia e a noite. E o organismo dos homens, criados à imagem e semelhança do Altíssimo, é regulado por leis internas de admirável precisão e eficácia.

   Diante desta harmônica e incessante sinfonia da ordem universal, costumamos dizer que Deus opera por causas segundas. Ou seja, Ele, causa primeira de todo o criado por ter feito tudo do nada, rege o universo de forma indireta, seguindo regras por Ele mesmo estabelecidas. Se uma árvore plantada em boa terra dispõe das condições adequadas, cresce e dá fruto; caso contrário, fenece. Ao deixarmos um objeto suspenso no ar, ele cai, atraído pela força da gravidade. Quando chega a primavera, o calor derrete a neve das geleiras, originando torrentes cristalinas.

Lucas, Eleusa e a pequena Stella,
já com quase um ano de Idade

   Nada disso ocorre sem a permissão divina, mas Deus não age diretamente sobre a árvore para fazê-la crescer, não empurra o objeto suspenso no ar para derrubá-lo, nem aquece a neve com suas próprias mãos. Ele “age nas coisas de tal maneira que elas tenham sua própria operação”,2 ensina o Doutor Angélico.

Leis que regulam o corpo humano

   Um dos mais cogentes exemplos desta realidade é o funcionamento do corpo humano. Numa pessoa jovem e saudável, os órgãos trabalham com equilíbrio. Se for, porém, contagiada por algum vírus ou bactéria, inicia-se em seu organismo um processo puramente natural, embora muito complexo, cujo desenlace depende da conjugação de numerosas causas. Medicamentos adequados, medidas específicas conforme o caso, precauções com a alimentação, períodos de repouso bem calculados ajudá-lo-ão a vencer a doença. Excesso de trabalho, omissão dos cuidados necessários e muitos outros fatores contribuirão a agravá-la.

   Tudo nas reações do organismo tem sua explicação e funciona de acordo com as leis da natureza. E se dispuséssemos de recursos científicos ilimitados, poderíamos esmiuçar e explicar racionalmente cada uma das etapas percorridas.

   Entretanto, pode ser que encontremos na vida cotidiana e na literatura médica circunstâncias em que uma doença evolui de modo inexplicável, conduzindo a uma melhora ou recuperação cujas causas científicas desconhecemos. Dizemos, então, que entraram no caso fatores sobrenaturais: houve um “sinal visível da presença invisível do sobrenatural”.3

   Deus decidiu atuar alterando o rumo marcado pelas leis da natureza. Ele agiu “contra o que conhecemos que se dá na natureza. Pois chamamos natureza o que nós conhecemos como seu curso habitual, e quando Deus faz algo contrário a isto, falamos de portentos e maravilhas”,4 explica o grande Santo Agostinho.

Divina compaixão prolongada pelos séculos

   Numerosas mostras desse gênero de intervenção sobrenatural estão registradas nas páginas do Evangelho e da História.

   Cheio de bondade para com os que sofrem, bastava que um leproso se aproximasse de Jesus dizendo “Se queres, podes limpar-me” para que Ele estendesse a mão, o tocasse e lhe dissesse: “Eu quero, sê curado” (Mc 1, 40-41). O mero contato com a sombra de São Pedro restituía a saúde aos enfermos sobre os quais ela pousava (cf. At 5, 15-16). E, já na Idade Média, os reis da França, por privilégio divino, sanavam com um toque os escrofulosos no dia de sua coroação.

   Voltando os olhos para tempos mais recentes, basta lembrar os inúmeros milagres praticados por São Pio de Pietrelcina ou as incontáveis curas ocorridas no Santuário de Lourdes por intercessão da Santíssima Virgem para compreender o quanto esse dom segue vivo e operante.  

   Não é de estranhar, portanto, que os Arautos do Evangelho tenham sido testemunhas de abundantes intervenções da Providência em favor de pessoas doentes, usando os meios e instrumentos mais diversos. Dentre elas, relataremos aqui duas das que nos pareceram mais cogentes.

Um terrível diagnóstico

   Especialmente belo e significativo é o caso acontecido com Eleusa Aparecida Lemos Silva e Lucas Lemos Silva, residentes em Atibaia (SP) e membros da Associação Privada de Fiéis “Fala Senhor”, da Diocese de Bragança Paulista.5 Eles se casaram no princípio de 2012, época em que Lucas tinha esfriado na Fé. Eleusa havia conhecido os Arautos e rezava muito, pedindo a intercessão de Da. Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira, de quem já era devota, pelo afervoramento do marido.

   Algum tempo depois se preparava ela para consagrar-se como escrava de amor à Sabedoria Eterna e Encarnada pelas mãos de Maria, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, e Lucas sentiu-se também chamado a fazer a consagração, pois teve uma moção da graça a lhe dizer que haveria algo errado se não se consagrassem os dois, enquanto casal. Foi o primeiro passo de sua conversão que, graças a Deus, não tardou a ser efetivada e consolidada.

   Em agosto de 2014, Eleusa começou a sentir fortes dores pélvicas, recebendo o diagnóstico de uma endometriose, enfermidade muito dinâ- mica que, além das intensas dores, produz sérias dificuldades para conceber, sendo que ambos os esposos anelavam por um filho.

Dona Lucilia Corrêa de Oliveira,
aos 92 anos de idade,
pouco antes de falecer

Subida ao Calvário

   Começou para Eleusa uma dolorosa subida ao Calvário. Foi preciso conseguir um especialista na doença, o que não era fácil por limitações de seu plano de saúde. “Como minha devoção a Da. Lucilia já era muito forte, pedi que me ajudasse e ela me conseguiu um clínico”, conta.

   Eleusa não pedia para ser curada de sua enfermidade, a qual enfrentava com fortaleza, resignação e paciência, por ação da graça. Contudo, o que mais desejava era ser mãe! Os médicos se dispuseram a fazer o possível para atender seus anseios, mas alertavam-na de que o resultado dependia quase exclusivamente de Deus.

   Ela começou a sofrer os efeitos secundários dos tratamentos farmacológicos habituais nestes casos, mas a doença avançava. A possibilidade de uma concepção ficava mais e mais distante, e Eleusa viu-se diante da necessidade de uma intervenção cirúrgica. Mais uma vez recorreu a Da. Lucilia para resolver algumas dificuldades que se apresentaram antes da realização do procedimento, e sentiu-se inteiramente atendida.

   A laparoscopia foi realizada com sucesso no dia 20 de fevereiro de 2015, no Hospital Santa Cruz, de São Paulo. Todavia, lembra Eleusa, “o médico me disse que teria o prazo de seis meses para engravidar. Caso isto não ocorresse, teria que começar novamente tratamentos farmacológicos para evitar o avanço da doença. Durante quatro meses recebi o apoio das Irmãs Servas da Caridade de Morungaba, que me recomendaram um tratamento natural à base de argila e cuidados com a alimentação, dirigido por elas. As dores começaram a diminuir consideravelmente e pude trabalhar de novo. Mas não fiquei grávida.

   “A cada mês permanecia quinze dias sem dor e quinze dias com dor. Então decidi oferecer meus quinze dias de suplício para associar-me aos padecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz e pela beatificação de Da. Lucilia”. Para suportar a dor, ela tomava analgésicos inicialmente efetivos, mas depois teve de recorrer ao uso frequente de opiáceos.

   Durante o curso da enfermidade, diz Eleusa, “recebi todo o apoio dos sacerdotes dos Arautos do Evangelho, que me animavam a confiar e a manter-me firme na prática da moral, já que havia diversas opções de tratamento que a contrariavam”.

Um presente do Céu: nasce Stella

   Em fevereiro de 2016 foi-lhe solicitada nova ressonância magnética de controle, na qual foi comprovada uma piora do seu quadro clínico, chegando a atingir o estágio IV, o mais avançado: havia infiltrações mais profundas em vários órgãos. Isto era causa de grande dor para o jovem casal, pois os sintomas, além de não cessarem, se tornavam mais graves, trazendo muitos padecimentos a Eleusa e a seu esposo, que a via sofrer tanto.

   Os médicos tentavam persuadi-la da realidade e lhe diziam que era quase impossível conceber um filho nessas condições. “Apesar de tudo, eu guardava em meu coração a esperança de uma intercessão de Da. Lucilia e continuava rezando. Ela, como mãe extremosa que foi, também me ajudaria a sê-lo”, recorda.

Hernani e Maria da Conceição com seus filhos.
Hoje em dia toda a família faz parte dos
Arautos do Evangelho

   No dia 16 de abril de 2016, encontrava-se ela com febre de quarenta graus, sem causa aparente, e foi ao pronto-socorro. Para descobrir a causa da febre foram pedidos vários exames, entre eles uma prova de gravidez… com resultado positivo! Foi também realizada uma ultrassonografia pélvica, que confirmou o resultado.

   A felicidade e a emoção foram imensas! Humanamente falando aquilo era impensável. Entretanto, um fator sobrenatural havia mudado o curso natural dos fatos e Eleusa seria mãe!

   Depois do diagnóstico, narra ela, “rezei mil Ave-Marias em agradecimento, pedindo pela beatificação de Da. Lucilia. Eu a conhecia pouco, mas o suficiente para me sentir atraída pela bondade dela e motivada a confiar em sua ajuda em minhas necessidades. Só quando estava no sétimo mês de gravidez li o livro escrito por Mons. João contando sua vida, que me deram naquele momento de presente, e a quis ainda mais”. E no dia 13 de dezembro de 2016, às nove horas da manhã, nascia Stella, fruto de uma patente intervenção do Alto!

   Atualmente a enfermidade segue seu curso. No entanto, Eleusa e Lucas estão dispostos a enfrentar o que Deus queira lhes pedir, tendo a alegria de contar com Stella, já com um ano, verdadeiro presente do Céu para o casal.

“Procurei na Fé o remédio para meus males”

   Outro caso também muito bonito aconteceu em Braga, Portugal. Maria da Conceição Lopes Correia, casada com Hernani Machado Salgueiro, mãe de dois filhos, relata seu autêntico testemunho de fé, ao ter sentido em si especiais fatores sobrenaturais que resolveram seus graves problemas de saúde.

   “Em 1998, estando casada há quatro anos, tive conhecimento desta obra maravilhosa dos Arautos do Evangelho e de seu apostolado junto aos jovens, que nos fascinou bastante, a ponto de acompanharmos os Arautos em tudo. O amor a Nossa Senhora, a beleza das Eucaristias e o amor ao Papado, e toda a instrução que brota do coração da Igreja, desde os primeiros Apóstolos, foi o que nos vinculou aos Arautos do Evangelho. Durante esses dezenove anos fomos acompanhando a instituição: íamos às Missas dominicais, tornei-me coordenadora de Oratório em minha paróquia e participávamos dos retiros e dos encontros do Oratório, em Fátima.

   “Mas as coisas da vida nem sempre são rosas, todas as famílias passam por certas dificuldades, e as rosas se tornam espinhos. Tive sérios problemas de saúde e, depois de fazer tratamento médico por três anos, não obtive resultado.

   “Foi quando procurei na Fé o remédio para meus males. Pedi a Nossa Senhora de Fátima que me ajudasse e me iluminasse para procurar o médico certo. E Ela, com sua bondade de Mãe, colocou em meu caminho, na mesma semana, um padre dos Arautos do Evangelho, ao qual contei tudo o que se passava comigo e com minha saúde.

   “O sacerdote, com sua amabilidade de costume, perguntou o que queria que ele me fizesse. Eu lhe respondi que os sacerdotes são ungidos por Deus e tudo o que eles fazem na terra é Deus que opera neles. Por isso ele teria o poder de interceder por mim junto a Deus, pois era assim que Nosso Senhor Jesus Cristo e os Apóstolos faziam em seu ministério. Então o sacerdote rezou por mim, impondo-me as mãos. E cada vez que ele rezava eu me sentia melhor. Não tenho explicação para o que aconteceu, só Deus sabe, pois hoje me encontro curada.

   “Agradeço a Deus e a Maria Santíssima, em especial aos seus filhos Arautos do Evangelho, por tudo o que fizeram por mim. E graças dou a Deus pela Igreja os ter colocado ao seu serviço e ao serviço dos filhos de Deus. Que Maria Santíssima os abençoe e cubra com seu manto protetor de Mãe todos os seus sacerdotes, leigos e consagrados, e em especial o seu fundador”.

   Estes casos, selecionados dentre inúmeros outros, nos alegram sobremaneira, pois ao lembrá-los sentimos que estamos cumprindo nossa missão de Arautos do Evangelho, ou seja, aqueles que proclamam a Boa-nova e servem de instrumentos para a ação desses fatores sobrenaturais, tão superiores a cada um de nós. (Revista Arautos do Evangelho, Janeiro/2018, n. 193, pp. 36 à 39)

1 Membro capitular da Sociedade de Vida Apostó- lica Regina Virginum, a Ir. Martha Lucía Ovalle Pinzón é formada em Medicina e Cirurgia Geral pela Escuela de Medicina Juan N. Corpas, de Bogotá, e obteve o Mestrado em Filosofia, com tese na área de Bioética, pela Universidad Pontificia Bolivariana de Medellín, Colômbia. 2 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, q.105, a.5. 3 NICOLAS, OP, Marie-Joseph. O governo divino. Introdução e notas às questões 103 a 119, da Parte I. In: SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2002, v.II, p.744, nota i. 4 SANTO AGOSTINHO. Contra Faustum. L.XXVI, n.3. In: Obras Completas. Madrid: BAC, 1993, v.XXXI, p.680. 5 Na análise deste caso clínico, foram revistos todos os exames diagnósticos da paciente, desde o início da enfermidade até a atualidade. Dentre os mais relevantes se encontra a ressonância magnética anterior à intervenção cirúrgica, do dia 4 de dezembro de 2014, que mostra vários focos de endometriose profunda, e a ressonância magnética após a laparoscopia, do dia 16 de fevereiro de 2016, que constata o progresso da doença até atingir o está- gio IV, considerado o mais avançado.

 
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