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Arautos


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Testemunhos: “E as revelaste aos pequeninos…”
 
AUTOR: PE. SANTIAGO CANALS COMA, EP
 
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Há no ambiente e no povo moçambicano um certo mistério, uma forma de abertura ao maravilhoso, ao sobrenatural, que provoca uma alegria comunicativa e um respeito cheio de admiração por tudo quanto é superior a algum título.

Recentes estatísticas do Vaticano indicam ser a África o continente onde mais cresce o número de católicos no mundo nos últimos anos. E, entre os muitos missionários das diversas ordens e congregações religiosas que a Providência tem enviado para lançar as sementes da Fé nessas terras de esperança, contam- -se também os Arautos, atuando na África do Sul, Angola, Camarões, Ruanda e Moçambique.

É neste último país, em cuja capital, Maputo, os Arautos têm uma movimentada casa e uma igreja em avançado estado de construção, que vamos centrar nossa atenção no decorrer destas páginas.

Almas abertas ao maravilhoso

Quem já teve oportunidade de tomar contato com a realidade moçambicana certamente pôde perceber no ambiente e no povo um certo mistério, uma forma de abertura ao maravilhoso, ao sobrenatural, que provoca uma alegria comunicativa e um respeito cheio de admiração por tudo quanto é superior a algum título.

Mesmo em situações de extrema penúria material, é difícil encontrar ali fisionomias tristes, carrancudas ou deprimidas. Pelo contrário, quem anda pelas ruas sente uma atmosfera geral de leveza e bom humor, como se nada estivesse faltando. Com a riqueza de expressividade que lhes é própria, não tanto por palavras, mas pelo porte, pelo riso, pelo modo de ser e pela compenetração, eles transmitem uma preciosa lição de vida, mostrando o quanto os bens deste mundo são passageiros e quem não os tem, ou a eles não se apega, é verdadeiramente feliz. Não foi sem razão que um sacerdote, após alguns dias de missão em Maputo, sintetizou sua passagem por aquelas terras com estas palavras: “Vim aqui fazer uma pregação e recebi outra inesperada”.

O Pe. Santiago Canals, EP, celebrando
Missa na comunidade dos Mártires de
Uganda, nos arredores de Maputo

Auxiliando párocos e missionários

A casa dos Arautos está localizada em Nkobe, município de Matola, pertencente a uma extensa paróquia confiada pela arquidiocese aos cuidados dos padres carmelitas, que contam com a ajuda dos sacerdotes arautos para as celebrações dominicais mesmo em comunidades distantes.

Silvestre Salomão Langa, animador da Comunidade Nossa Senhora do Carmo, da Paróquia Santa Maria Mãe de Deus, de Khongolote, aponta alguns traços do labor pastoral realizado nessas ocasiões: “Queremos, como paroquianos, reconhecer a importância do trabalho que os Arautos desempenham nas comunidades onde celebram Missas dominicais. Os fiéis têm procurado os Arautos e se beneficiado da sua pronta disponibilidade, acorrendo em massa à Confissão, recebendo aconselhamento e encaminhamento de todo tipo. Importa também salientar que os Arautos ajudaram três comunidades ainda sem capelas construídas, com a doação de chapas de zinco para a cobertura de alpendres”.

E a seguir manifesta seu contentamento por poder contribuir de uma maneira especial para essa evangelização: “Sou pai de um jovem arauto que Deus quis chamar para o seu ministério, e ele disse ‘sim’. Nós, os pais, aceitamos com muita alegria que o nosso último filho se junte a outros irmãos para cuidarem do rebanho do Senhor. Ele é uma referência especial, aprofunda a nossa fé em Deus e reforça os nossos laços familiares. Não foi fácil compreender no início, mas queremos confessar que, passados cinco anos, entendemos melhor este chamado e hoje agradecemos a Deus em primeiro lugar, a Mons. João Scognamiglio Clá Dias, fundador dos Arautos, e a todos os seus irmãos arautos que o formam e com ele convivem na Fé”.

Jovens que vivem, falam e cantam a Palavra de Deus

O conjunto musical formado pelos jovens arautos moçambicanos é um dos instrumentos de evangelização que mais desperta o interesse desse povo tão afeito à harmonia dos sons.

Todos os anos, a orquestra atua na animação do maior evento religioso do país, que é a peregrinação ao Santuário de Nossa de Fátima em Namaacha, a setenta e dois quilômetros da capital, nas festividades de 13 de maio e 13 de outubro. O mesmo tipo de colaboração é prestado às paróquias e grupos religiosos que solicitam a presença dos Arautos em solenidades e procissões, como aconteceu, por exemplo, com os salesianos quando as relíquias de São João Bosco passaram por Moçambique. A esse propósito, uma filha de Maria Auxiliadora, Ir. Orsolina Tachis, envia seu agradecimento: “Com alegria de coração falo dos Arautos do Evangelho. Quem são eles? Jovens que se entregam a viver, falar e cantar a Palavra de Deus, a viver a mensagem de Jesus, mensagem de salvação, esperança, união, alegria e paz. O seu apresentar-se, o seu passar, o seu estar, falam da força de Deus que carregam dentro de si”.

E prossegue: “Em 2012, esteve entre nós a urna de Dom Bosco, que passou pelas casas salesianas e paróquia onde trabalham os Salesianos de Dom Bosco e as Filhas de Maria Auxiliadora. Dom Bosco foi acolhido, acompanhado e enfeitado com a presença dos Arautos do Evangelho que, solicitados para o evento, com suas músicas e bonitos cantos de Dom Bosco, carregaram a urna com a harmonia do passo, dos instrumentos e das notas. Aos Arautos do Evangelho, parabéns e obrigada pela vossa presença e missão. Maria Auxiliadora vos abençoe e ajude sempre”.

“A escola recebeu elogios por ter aceitado o projeto”

Tal como se faz em outras partes do mundo, um dos meios pelos quais os Arautos em Moçambique contribuem para a formação moral dos jovens e crianças é o Projeto Futuro e Vida. Percorrendo estabelecimentos de ensino público e privado, oferecem aos estudantes momentos de entretenimento sociocultural e ministram cursos gratuitos de música. E inclusive para os professores e demais funcionários da escola essa iniciativa muitas vezes se transforma em verdadeiro convite à conversão.

Assim sucedeu com a professora Carla Fumo, a qual leciona numa escola que há alguns anos foi contemplada pelo projeto. O belo testemunho onde ela e seu esposo Samuel Machiana recordam o dia em que regularizaram sua situação matrimonial e batizaram seu filho mais novo, agradecendo aos Arautos por lhes terem ensinado a amar Nossa Senhora, é finalizado com estas palavras: “Os Arautos têm feito grande esforço para a construção da nossa capela, porque o número de famílias, a cada dia que passa, está aumentando, pois vão descobrindo o serviço divino perfeito dos Arautos em Moçambique, na salvação das almas perdidas e atormentadas pelas maldades mundanas. Nós, cristãos filhos dos Arautos, continuamente pedimos que Deus faça descer as graças necessárias sobre as famílias moçambicanas, e que os Arautos continuem a plantar a verdadeira devoção mariana nas nossas vidas”.

Tendo também acompanhado de perto um projeto, a agente de ensino Adélia Ezequias Massuanganhe deixa consignada sua gratidão pelo salutar efeito verificado nos alunos: “Conheci os Arautos do Evangelho em Moçambique em 2012, quando lançaram o Projeto Futuro e Vida na escola primária da qual eu era diretora. Eles trabalharam com muitas crianças em várias modalidades do seu projeto, ensinando-lhes a saber estar, saber ser e saber fazer. Passado o prazo do projeto, muitas crianças tiveram o privilégio de serem sorteadas para continuar com a formação na sede dos Arautos em Nkobe e solicitaram a autorização dos pais/encarregados de educação, para fazer essas atividades aos domingos na sede. A minha emoção como diretora da escola foi grande, pois via a mudança no comportamento dos alunos, na escola e na sociedade em geral. Passaram a ser exemplares na pontualidade, no aproveitamento, na maneira de se dirigir aos seus professores. A escola recebeu elogios por ter aceitado o projeto dos Arautos, e estou recebendo com muita frequência pais que, vendo as crianças vizinhas mudadas, querem inscrever aqui os seus filhos. Ficamos apaixonados pela forma como os Arautos transmitem o calor católico aos cristãos e às famílias, e esta paixão fez com que em 2016 eu passasse a frequentar a sede com o objetivo de viver a verdadeira devoção a Nossa Senhora”.

Aula de música na Casa dos Arautos em Maputo

“Várias meninas têm chegado ao mosteiro”

Sem dúvida, os mais nobres frutos colhidos nesse apostolado com a juventude são os que se destinam aos seminários e conventos, e que despontam com muito mais frequência do que se poderia imaginar.

O Mosteiro de Santa Clara de Assis, de Namaacha, é um dos locais que têm recebido novas vocações através desse processo, como atesta a madre superiora Ir. Cruz Maria: “Gostaríamos de agradecer a Deus pela presença neste país de Moçambique dos escravos de Maria, seus filhos amados, os Arautos do Evangelho. Em um país onde se misturam diferentes crenças religiosas, eles estão ajudando muitas pessoas a voltar à Fé verdadeira e acendendo nelas um amor terno e maternal a Nossa Senhora. Neste momento em que o demônio por todo o mundo está criando tanta confusão e fazendo muito barulho para ganhar almas, eles são uma providência para nós, lutando e sacrificando-se com grande zelo para resgatar almas para Deus.

“Muitas pessoas passam pelo nosso mosteiro para pedir-nos orações. Nós acolhemos com gratidão os seus esforços de chegar até aqui desde distâncias muito grandes, e lhes recomendamos ir ao encontro dos Arautos. É maravilhoso escutar o testemunho dos que se aproximam da sua capela e saem de lá transformados, fazendo um compromisso sério de vida cristã.

“Estamos também imensamente agradecidas pelo trabalho vocacional. Já várias meninas, através deles, têm chegado ao mosteiro, e no dia 16 de julho deste ano uma delas iniciou a sua formação como postulante.

“O testemunho de vida dos Arautos é necessário em Moçambique não só dentro da sociedade, mas também na Igreja. A sua forma de viver é uma interrogante muito grande até para muitos padres e religiosos/as. A sua espiritualidade atrai a muitos e encoraja a não se deixar levar pelas modas, pelos atrativos do mundo”.

“Um grande presente que Nossa Senhora me deu”

Dotados de inteligência vivaz e privilegiada memória, os moçambicanos são sedentos de aprender as verdades da Igreja e conhecer mais sobre Deus e sua Mãe Santíssima. Para satisfazer a esse anseio filial, são oferecidos cursos de preparação para a consagração a Nossa Senhora, com aulas ministradas não só na casa dos Arautos e nas paróquias que o solicitam, como também através do programa de rádio Hora Mariana, com alcance em várias províncias do país.

Herculano Rafael Machegane, que concluiu o curso no ano passado, assim descreve sua experiência pessoal: “Vida sem Maria e vida com Maria: com este título inicio um espaço para me dirigir a todos os leitores da revista Arautos, fazendo um agradecimento especial à família Arautos em Moçambique, porque através deles passei a ter uma devoção mais profunda ao Imaculado Coração de Maria. Num certo dia, participei de uma vigília de orações na Comunidade São Pedro e São Paulo. A presença dos Arautos comoveu-me tanto que me levou a aproximar deles, sobretudo do padre, à procura de conselho para a minha vida, porque passava por várias turbulências”.

E continua o interessante testemunho: “Passadas duas semanas, fui até ele com a minha família, para uma bênção. O padre nos convidou para participar do curso de consagração, e por curiosidade perguntei a uns irmãos arautos que benefícios isso traria para nós. A resposta foi simples: ‘Inscreve-te e participa, e verás os benefícios’. Faltam-me palavras para descrever as mudanças que isso nos trouxe. Consagramo- -nos no dia 8 de dezembro de 2017 e desde então passou a reinar paz em casa; fui admitido num concurso público e a minha esposa também conseguiu trabalho. Conhecer os Arautos foi um grande presente que Nossa Senhora me deu, e que mudou a minha vida para sempre”.

Pe. Celio Casale visita o Mosteiro de
Santa Clara de Assis, de Namaacha

Benquerença e gratidão

Entre os depoimentos enviados da parte das famílias dos jovens moçambicanos que participam das programações semanais na casa dos Arautos ou já vivem na comunidade, selecionamos o de Glicinia Aurora Alberto Monteiro Cassamo, em cujas linhas transparece a benquerença e afabilidade tão próprias ao povo daquele país:

“Meu filho considera a sede como se fosse a casa dele, e para uma criança eu penso que isso diz tudo quanto se poderia dizer em relação a uma ‘casa’, pois as crianças querem estar onde são amadas. Ele é o mais novo de quatro irmãos, e vejo o quanto ele estar no projeto lhe faz bem e nos faz bem. Ele hoje está mais seguro, confiante, lutando pelo que quer e, o mais importante, que acho que não deve faltar numa criança, com fé no amor de Deus e de Maria, nossa Mãe intercessora”.

Portas sempre abertas para ajudar o povo moçambicano

Os sacerdotes arautos não se limitam a receber aqueles que os procuram, mas também se dispõem a ir até as residências para abençoá-las e levar uma palavra especial de conforto às famílias. Natália Admira Pedro Manhiça Guiamba foi agraciada com essa visita, e testemunha agradecida:

“O que me alegra a cada passo que dou na vida é ter conhecido os Arautos. Quando o padre veio abençoar nossa casa, estávamos a atravessar momentos tão difíceis que até faltava pão na mesa. Ele fez tudo para nos sentirmos bem e estarmos em contínuo espírito de oração, e nos deu todas as indicações para termos paz na família. Entendi que se tratava de uma fase da vida, e que um cristão verdadeiro passa por provações assim. Graças a eles, eu e minha família hoje somos consagrados a Nossa Senhora, ou seja, somos escravos d’Ela, mas escravos de amor”.

Ao contemplar os frutos do apostolado tão sumariamente descrito nestas páginas, não podemos esquecer que tudo isso acontece num país com áreas de alto índice de pobreza, destituído de tudo aquilo que o mundo moderno considera sinais de grandeza. Entretanto, ali abundam os tesouros da Fé, fazendo lembrar as sublimes palavras de Jesus registradas por São Mateus em seu Evangelho: “Graças Te dou, ó Pai, Senhor do Céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelaste aos pequeninos” (11, 25). (Revista Arautos do Evangelho, Setembro/2018, n. 201, p. 36-39)

 
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