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Contos Infantis


A luta do colibri
 
AUTOR: MARIANA ROFFER DA COSTA VICCARI
 
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Júlia perdia altura, pelo ímpeto do vento, e suas asinhas se moviam com dificuldade, pelo frio. Parecia estar chegando ao fim de sua curta existência como beija-flor, quando sentiu o calor de umas mãos que lhe eram conhecidas…

Júlia era a formiguinha que havia sido transformada pelo Menino Jesus em colibri, e que depois de se despedir d’Ele e de Maria Santíssima, cheia de gratidão, partiu voando para a alta montanha com a qual sempre sonhara.1

Após longos dias de viagem, enfrentando chuvas caudalosas, sol ardente e ventos impetuosos, conseguiu ela finalmente realizar seu anseio. Muitas foram as dificuldades no caminho, todavia nunca lhe faltou a certeza de que o tão esperado dia chegaria. E quando, lá de cima, ela pôde contemplar o panorama… Oh, que maravilha! Era muito mais belo do que havia ousado sonhar!

Enganar-se-ia, entretanto, quem acreditasse que a vida de Júlia agora seria mais fácil, sem os sofrimentos do formigueiro… Não! Mesmo dotada de belas asas e revestida de linda plumagem, a luta continuava e os obstáculos a serem transpostos tornaram-se muito maiores.

Apesar de ter conseguido alcançar seu objetivo, Júlia se deparou com um grave problema: sendo um beija- -flor, não tinha reserva de alimento nem abrigo para passar o inverno, que não tardaria em chegar. Já não podia fazer tuneizinhos na terra à procura de algum buraquinho acolhedor, pois bastaria uma pontada do seu elegante bico para provocar nas galerias do antigo formigueiro uma grande destruição. Como faria para se manter?

Era preciso ter confiança. Júlia sabia não ser possível ter suportado e esperado tanto em vão. Ela não imaginava como, mas estava certa de que tudo se resolveria. Batendo suas asinhas, voava à busca de uma solução.

O tempo corria sem que lhe viesse nenhuma ideia. Como construir um ninho onde quase só via rochas lisas? Será que valia mesmo a pena tentar sobreviver ali? Era uma audácia a que nenhuma formiga se arriscaria…

— Não sou mais uma formiga! – disse de si para consigo, enquanto voava preocupada – Sou um beija-flor e esta nova condição me obriga a querer algo mais nobre do que a companhia dos tatus e das minhocas!

Resolveu pousar em um raminho seco para recobrar o fôlego, quando uma tempestade começou a se armar e vir em sua direção… Tomada de susto, pensou que sua vida se esgotaria em breve. Sim, aquele seria o aguaceiro mais forte e duro que jamais enfrentara e, provavelmente, o último. Nesse momento, em seu interior uma voz sinistra parecia repetir: 

— Júlia, pare! Você é só uma formiga!…

Aquele pensamento lhe trouxe completa falta de energia! Contudo, rejeitou a má lembrança e tentou fugir da tormenta, voando como podia. Ia perdendo altura, pelo ímpeto do vento, e suas asinhas se moviam com dificuldade, pelo frio. Ela via chegar o fim de uma curta existência como colibri. Num rápido piscar de olhos, porém, disse:

— Afinal, se for para morrer aqui, morro feliz e segura de ter chegado onde deveria!

Foi quando Júlia percebeu estar sendo erguida…

Sentiu ela o calor das mãos de uma criança que bem conhecia: era o Menino Jesus! O dono do olhar mais sereno, do sorriso mais bondoso e da mão mais firme e, ao mesmo tempo, suave que poderiam existir!

Júlia ficou tão consolada por ver- -se de novo nas mãozinhas d’Ele, que nada mais lhe importava! Ela estava com o seu Senhor, o próprio Deus; morrendo ou não, era ali que queria permanecer e isto a deixava plenamente satisfeita.

Passados alguns minutos de verdadeiro Céu, num silêncio em que o Menino Jesus a olhava com compaixão e ela O admirava cheia de encanto, eis que novamente Ele lhe fez conhecer seu sopro restaurador.

— Oh, então não é ainda o meu fim? – perguntou-se Júlia, surpresa.

Animada por tão magnífico alento, ela pôs-se a bater suas asas furta- -cor e levantou voo com novo vigor, disposta a enfrentar o que fosse preciso para viver como um digno beija-flor.

 
 Agora ela estava convencida de
que Deus nunca chama a algo
grande sem dar as forças
para cumpri-lo

Seguindo sua viagem, Júlia começou a sentir que o vento se tornava menos gelado e um agradabilíssimo perfume a atraía a um local não muito distante. Era uma das encostas da montanha que, vista de longe, mais parecia um macio tapete colorido. Aproximando-se, cheia de curiosidade, Júlia viu que ali desabrochavam flores dos mais variados tons: amarelas, róseas, brancas, vermelhas, e desbordantes de delicioso néctar.

Ela voltou-se para o alto, onde estavam o Menino Jesus e sua Mãe, e com alegria viu que a encorajavam a pousar ali. A este sinal ela bateu suas asinhas com mais velocidade e aterrissou naquele torrão que, decerto, seria considerado um pedaço do Paraíso por qualquer colibri.

— Inacreditável! – exclamou – Depois de tão terrível temporal, uma maravilha assim! Aqui tenho tudo para cumprir minha finalidade como beija-flor: flores em abundância e grande quantidade de suaves fibras e musgo para construir um ninho! Tudo isto só pode ser obra divina!

E sua felicidade se tornou completa quando, em meio aos afazeres para a confecção do novo lar, descobriu, a alguns metros dali, vários outros delicados ninhos, alguns deles repletos de ovinhos. E com um mavioso trinado disse:

— Oh, meu Deus, até isso! Aqui terei companheiros que, ao contrário das formigas, quererão voar comigo aos mais altos píncaros! Realmente não me falta coisa alguma!

Agora ela estava convencida de que Deus nunca chama a algo grande sem dar as forças para cumpri- -lo, e jamais desampara aqueles que são fracos, mas sabem abandonar-se confiantes em suas mãos.

Quando menos esperamos, Ele Se faz presente em nossa vida de uma forma toda especial, confortando- -nos e infundindo-nos a certeza de que está sempre ao nosso lado nas lutas de cada dia: tanto nos momentos em que nos sentimos envolvidos pela “escuridão do formigueiro”, quanto nas horas em que o frio e o vento impetuoso ameaçam nos derrubar, ou ainda quando a tempestade das provações nos leva a acreditar que somos formigas e não colibris… 

1 Ver a História para crianças… ou adultos cheios de fé?, intitulada Asas de Anjo, publicada em nossa edição anterior.

 
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