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Contos Infantis


Asas de Anjo
 
AUTOR: PE. THIAGO DE OLIVEIRA GERALDO, EP
 
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Para sua surpresa, Júlia ficou suspensa no ar. Havia ganhado asas. Só aí deu-se conta de que fora transformada em colibri!

Era noite. Júlia estava num túnel escuro, onde não entrava luz:

— Já não dá mais! – sussurrava ela.

— Aqui ninguém pode falar! É hora de dormir. Amanhã teremos um dia cheio de trabalhos. Durmam! – berrou o capitão.

Nem é preciso dizer que a pequena se calou imediatamente e adormeceu.

Na manhã seguinte, os gritos se fizeram ouvir de novo:

— Levantem-se, preguiçosas, é hora de trabalhar! Formando por quatro colunas à minha retaguarda. Marchem!

Atravessaram os intermináveis túneis, até que brilhou o sol, quase cegando a todas.

Prosseguia a marcha e Júlia avistou a alta montanha que sempre a encantara. Pensava ela: “Quando a subiremos? Não é possível que passemos a vida nesses túneis, nas trevas, no meio da terra”…

Percebendo que ela não marchava no compasso de todas, o capitão berrou:

— Júlia, quantas vezes precisarei dizer para ser igual às outras? Você não deveria ter nascido formiga, e sim um pássaro…

Sim, Júlia era uma formiga! E após longa viagem depararam-se com um fabuloso jasmineiro. Sua abundante ramagem e flores, belas e perfumadas, lhes forneceriam excelente provisão.

Enquanto umas se incumbiam de cortar e distribuir o material a ser levado, outras aguardavam ansiosas. As primeiras da fila eram as mais fortes do batalhão: orgulhosas, carregavam com facilidade os mais pesados gravetos.

Para Júlia, porém, por ser frágil demais, deram um pedacinho de pétala de jasmim e lá se foi ela portando seu minúsculo alimento, tombando várias vezes porque sentia o vento muito forte. Por fim entrou exausta no formigueiro e ali depositou o fruto de seu trabalho.

O capitão anunciou ser aquele o primeiro percurso, pois a meta era: 1.548 viagens! Júlia suspirou profundamente e pensou: “Nem formiga merece uma vida como esta”…

Mal terminou o capitão de anunciar a arrogante ordem, chegaram cinco formigões transportando um enorme besouro e um deles contou:

— Nós éramos quinze formigas e demos de frente com este besouro. A luta foi árdua! Dez dos nossos tombaram no combate, mas vencemos!

Os heróis foram aplaudidos pelo formigueiro inteiro, porque teriam um banquete no jantar! Só Júlia pensava: “Que asco! Não vou comer nenhum besouro. Prefiro minha pétala de jasmim”…

E assim corriam as jornadas.

Certo dia, Júlia avistou no alto de uma árvore um inseto diferente. Tinha a postura ereta, mãos postas e um olhar contemplativo. Impressionada, perguntou a uma companheira quem era aquele, ao que esta respondeu:

— Este é o louva-a-deus.

A pequena teve grande vontade de ser como ele… O capitão, todavia, intuindo o teor da conversa, gritou:

— Vocês foram feitas para viver na terra, nos túneis e na escuridão. Nada de querer apreciar as coisas belas. Isto não é para nós. Entenderam? Agora trabalhem, suas preguiçosas!

Os dias se passavam e Júlia não aguentou mais! Sentia que fora criada para o alto! Não queria viver nas trevas… Tomou, então, a decisão mais importante de sua curta vida:

— Vou fugir e escalarei aquela montanha para admirar o panorama.

Aproveitando a escuridão da noite e o sono profundo de todos, Júlia escapou da vigilância dos guardas e correu. Quando pensou estar a salvo, com terror seus olhinhos avistaram o capitão, acompanhado de dois formigões.

Aproximando-se, ele disse:

— Júlia… você por aqui? Tão cedo assim? Até tenho a impressão de que estava fugindo… Sabe, eu a estive observando nos últimos tempos. Você não se adapta à vida do formigueiro, não quer ser igual a todo mundo… Quer ser diferente das outras formigas! Todas vivem perfeitamente nos túneis escuros e você quer viver no alto da montanha…

Ela olhava assustada o capitão, que continuou:

— Júlia, nós não suportamos as montanhas, nem a beleza da criação. Nós amamos as trevas, está entendendo? É por isso que nós a odiamos. Você não pode mais viver entre nós!

Júlia via a morte se aproximar, quando começou um intenso terremoto! As formigas não podiam mais se equilibrar em suas próprias patas. O capitão e os dois formigões começaram a gritar:

— Elas estão chegando!!…

Apavorada, Júlia perguntou:

— Elas quem?

E os três responderam em uníssono:

— As crianças!

Nem bem pronunciaram estas palavras e avistaram um menino que vinha correndo. Foi tudo muito rápido… Não deu tempo de se esconderem e um passo fatal caiu sobre o formigueiro! Júlia pensou que seus dias haviam terminado… Uma grande nuvem de pó se ergueu pelas redondezas e um profundo silêncio tomou conta do lugar.

Ao abaixar a poeira, Júlia viu que escapara por pouco. Tal não foi a sorte dos três formigões: um perdeu completamente os movimentos, exceto o da antena esquerda, que ainda se mexia; outro conseguia apenas mover as duas patas dianteiras; e o capitão estava com o olhar vidrado, pois o golpe lhe separara a cabeça do corpo, pondo fim à sua vida e más intenções.

Ela, então, avistou outro Menino, que vinha com o passo calmo e sereno. Ao ver a formiguinha, ele parou e se agachou, estendendo-lhe a mão para que nela subisse.

As formigas sobreviventes começaram a gritar:

— Corra, Júlia, porque os meninos sempre esmagam as formigas!

Entretanto, ela não queria voltar para o mundo das trevas. Preferia morrer nas mãos de tão atraente Menino a voltar às galerias subterrâneas!

Algo irresistível a impelia para aquela mão tão limpa e pura. Tocando-a com suas patinhas dianteiras, sentia tanto bem-estar que subiu sem duvidar. O Menino se levantou e Júlia, pela primeira vez na vida, atingiu uma altura da qual podia divisar um belo panorama. O que mais lhe impressionava, contudo, eram os olhos que a fitavam: quão bondosos e sublimes! E o Menino era Jesus, que dela teve compaixão, e para tranquilizá-la lhe sorria…

Uma Senhora, mais bela que o sol e as montanhas, Se aproximou por trás d’Ele e pousou a mão em seu ombro. Para agradá-La, Jesus Lhe mostrou a formiguinha que recolhera no jardim, levando-A a sorrir também.

O sorriso d’Ela era como um pedido: Jesus soprou sobre a formiguinha, que escorregou de sua divina mão e ficou por um instante pairando no ar. Quando pensava que ia se espatifar no chão, Júlia percebeu que estava voando! Havia ganhado asas, pois fora transformada em colibri! Fez vários giros em torno de Jesus e de Maria, inclinou-se em profunda reverência e voou para o alto do monte com que sempre sonhou.

Assim somos nós… Sentimo- -nos débeis e pequenos como “formigas”. Estamos em luta perpétua contra nossa própria fragilidade e contra aqueles que acham normal viver nos túneis obscuros do mal e do pecado. No entanto, Deus nos criou para contemplarmos grandes panoramas. Precisamos buscar o olhar misericordioso de Maria Santíssima, nos abandonar nas mãos de Jesus e receber o sorriso do seu perdão. Ele então soprará em nós a graça e não só nos dará asas de pequenos colibris, mas de Anjos, com as quais poderemos voar até o Céu! (Revista Arautos do Evangelho, Julho/2018, n. 199, p. 46-47)

 
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