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Contos Infantis


Combinação entre Anjos
 
AUTOR: MARIA TEREZA DOS SANTOS LUBIÁN, EP
 
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Segurando as lágrimas, o Bispo compreendeu a causa de tudo o que acontecera: cada um dos Anjos da Guarda queria favorecer seu próprio protegido...

Numa pequena e aprazível cidade, em terras longínquas, vivia Dom Pedro, Bispo cheio de amor a Deus e grandeza de alma, sempre disposto a ajudar, como bom pastor, às ovelhas do seu rebanho. Gostava de visitar os enfermos para levar-lhes os Sacramentos, animá-los a praticar a virtude e ensinar que o sofrimento, além de ser sinal de predileção divina, é um excelente meio de santificação. 

Anjo da Guarda.jpg
Horário… Era justamente o que preocupava
Dom Pedro! Contudo, não deixou transparecer
seus pensamentos

Pela manhã, com ardente fervor celebrava a Missa e depois passava horas sentado no confessionário, desejando ser instrumento de Deus para reconciliar os pecadores arrependidos. Algumas vezes por ano organizava soleníssimas cerimônias de Crisma e com frequência – oh alegria! – ordenava novos ministros de Deus. Fazia ele questão de serem os Matrimônios revestidos de pompa e decoro, mantendo acesa nas almas a noção de ser criado, neste Sacramento, um vínculo sagrado que nenhum homem pode desfazer.

O piedoso Bispo tinha também o costume de rezar diariamente o Rosário, caminhando pelas redondezas do palácio episcopal, dando ensejo a todos de o verem e receberem sua bênção.

Em certa ocasião, o juiz municipal o convidou para celebrar as núpcias de sua filha Adélia, que seriam realizadas na Igreja da Sagrada Família, um belo templo situado nas adjacências da cidade. Dom Pedro aceitou o convite, e programou a hora em que precisaria sair do palácio na data do casamento, para ir andando até a igreja, rezando seu Rosário. Fazendo os cálculos, chegaria ao local com tempo suficiente para paramentar-se e combinar os detalhes da celebração, marcada para as seis horas da tarde.

No dia das bodas, ele já se preparava para a saída, quando seu secretário veio avisá-lo de que um homem, muito aflito, suplicava para confessar-se com o Senhor Bispo. Consultando seu relógio, viu que tinha apenas dez minutos disponíveis. Se fizesse entrar aquele homem se atrasaria para a cerimônia…

Sem duvidar um instante, ajoelhou-se e rezou:

– Ó Santo Anjo da Guarda protetor desta alma que vem me procurar em momento tão inoportuno, façamos um trato: eu a atenderei agora e vós me ajudareis a não me atrasar para a celebração do Matrimônio!

Confiante, mandou entrar o homem. Ouviu-o em Confissão, aconselhou-o e o encorajou. Depois de dar-lhe a absolvição, despediu-o com uma paternal bênção.

– Que Deus o recompense, Excelência! – disse o penitente antes de retirar-se – Espero não lhe haver atrapalhado os horários.
Horário… Era justamente o que preocupava Dom Pedro! Contudo, não deixou transparecer seus pensamentos, respondendo que ficara muito satisfeito por ajudá-lo.

Logo que o homem saiu, o prelado levantou-se e, a passo rápido, iniciou a caminhada. Tomando um atalho, entrou pela velha estrada de terra que serpeava no meio do bosque. Enquanto avançava sob as frondosas árvores, em cujos galhos gorjeavam passarinhos coloridos, ia desfiando as contas do Terço.

Depois de uns vinte minutos, chegou a uma clareira desconhecida. Para qualquer direção que olhava só havia árvores e mais árvores… nenhuma trilha sequer! Como era possível ter-se desviado tanto de sua direção, a ponto de chegar a um lugar tão afastado?

Tentando descobrir qual seria o melhor caminho a seguir, viu um riacho e pensou: “Vou acompanhar este curso d’água, confiando no Anjo da Guarda daquele homem”. E assim fez.

De repente, deparou-se com uma casinha simples e, sem titubear, bateu à porta. Quem sabe o morador poderia dar-lhe alguma orientação. Uma senhora o atendeu e, percebendo ser o Bispo, ficou tomada de admiração. Neste momento, ouviu-se a voz de outra pessoa, vinda de dentro da casa. Dom Pedro quis saber quem era:

– É o meu pai – disse a mulher – Ele está mal à morte, todavia afirma que não vai morrer…

– Eu poderia vê-lo rapidamente? – perguntou o Bispo.

– Claro! – respondeu ela, conduzindo-o ao quarto do enfermo.

Era um senhor bem idoso, fraquinho, que quase não enxergava. Só percebeu a presença do prelado quando este se aproximou de seu ouvido e lhe disse algumas palavras. O doente respondeu com inteira segurança:

– Não, não morrerei logo!

– E por que o senhor diz isto?

– Porque sou católico!

– Ora, eu também sou! E é por caridade que lhe asseguro estar grave sua saúde, pelo que o senhor precisa se preparar para encontrar-se com Deus.

– Mas eu lhe digo, com toda a convicção, que não morrerei logo! Desde os meus sete anos de vida, quando fiz a Primeira Comunhão, peço todos os dias ao meu Anjo da Guarda a graça de não morrer sem receber os últimos Sacramentos. Tenho certeza de que me recuperarei para levantar desta cama e ir à cidade buscar um sacerdote! Por isso insisto em dizer que não morrerei logo!…

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O bispo chegou à igreja exatamente quando os
sinos anunciavam o Angelus

Segurando as lágrimas, D. Pedro compreendeu, naquele instante, tudo o que acontecera: fora uma combinação entre Anjos da Guarda, cada qual querendo favorecer seu protegido! Primeiro, o homem que o procurara à hora da saída; agora, o devoto moribundo; por fim, ele próprio, cujo coração sacerdotal exultava de felicidade ao fazer bem às almas! Disse então ao doente:

– Meu filho, suas orações foram atendidas! Eu sou o seu Bispo e jamais teria vindo a esta casa se não me tivesse perdido no bosque! Sem dúvida, foi o seu Anjo da Guarda que me conduziu até aqui!

O enfermo, consoladíssimo e fortalecido na fé, fez uma excelente Confissão e recebeu a Unção dos Enfermos para no dia seguinte, ao raiar do Sol, entregar sua alma a Deus.

E o casamento da filha do juiz?

Dom Pedro saiu do casebre montado numa airosa jumenta que a senhora e seu marido lhe deram e, seguindo as orientações deles, chegou em pouco tempo à igreja, exatamente quando os sinos anunciavam o Angelus, ou seja, às seis horas em ponto!

– Como aconteceu isto?! – perguntou-se a si mesmo, puxando do bolso seu relógio.

E mais uma vez constatou a mão poderosa de seu fiel amigo, o Anjo da Guarda: os ponteiros estavam parados, indicando que havia saído do palácio episcopal muito mais cedo do que imaginara! (Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2016, n. 176, pp. 46-47).

 
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